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Quem tem problemas cardiovasculares precisa avisar o dentista

Os tratamentos odontológicos são importantes, mas podem exigir adaptações dependendo da saúde do coração do paciente

Por Frederico Buhatem, cirurgião dentista*
30 nov 2020, 12h37
Dentista doença cardiaca
Certas condições cardiovasculares exigem atenção do dentista. (Ilustração: Rodrigo Damati/SAÚDE é Vital)
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O cenário das doenças cardiovasculares (DCVs) no Brasil é impactante. São 36 milhões de pessoas com pressão alta, o que representa 31% da população adulta. Já o colesterol elevado é uma realidade para 40% dos brasileiros. Também contabilizamos 16 milhões de diabéticos, fazendo de nós o quinto país com a maior incidência. O tabagismo, que aumenta o risco de cardiopatias, atinge 7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens. E o resultado não poderia ser outro: as DCVs são responsáveis por 30% de todas as mortes por aqui, vitimando 400 mil pessoas ao ano. Diante desses problemas, todo cuidado é pouco. Inclusive na hora de ir ao dentista.

Antes de se submeter a um tratamento odontológico, pessoas com alterações cardíacas devem informar o dentista sobre o seu quadro de saúde geral. O mesmo, aliás, vale para quem apresenta fatores de risco, como obesidade, sedentarismo, hipertensão, diabetes e alteração renal.

Tanto o procedimento odontológico quando eventuais interações medicamentosas podem trazer repercussões negativas. Algumas das drogas comumente utilizadas por portadores de DCVs podem reagir com soluções anestésicas odontológicas, ocasionando distúrbios do ritmo cardíaco e elevação da pressão arterial. Elas ainda têm potencial para provocarem alterações bucais, a exemplo de boca seca, hipertrofia gengival (o crescimento exacerbado e não inflamatório do tecido gengival) e descamações da pele.

Emergências como infarto agudo do miocárdio, angina, AVC, hemorragias, sincope e desmaios, também estão entre as intercorrências.

Por esse motivo, o cirurgião-dentista precisa estar capacitado para o atendimento a cardiopatas e ter calma e habilidade para lidar com situações inesperadas. Ao ser informado sobre o histórico de DCV, o profissional deverá analisar o estado de saúde de seu paciente como um todo para minimizar possíveis ocorrências durante o tratamento. Da mesma forma, ele poderá solicitar avaliação cardiológica ou voltada ao grau de risco cirúrgico, dependendo da intervenção odontológica.

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Cuidados específicos

Para os dentistas, não há critérios científicos que definam a indicação ou necessidade de exames complementares pela presença de alteração cardiovascular. Mas é importante lembrar que todo planejamento deve ser individualizado, de acordo com o tipo de doença pré-existente.

No caso dos hipertensos, é recomendado monitorar a pressão arterial, os níveis de oxigênio no sangue e a frequência cardíaca a cada consulta odontológica e em procedimentos invasivos. Isso para verificar o estado clínico momentâneo do paciente.

Já os acometidos por colesterol alto e diabetes podem apresentar duas vezes mais possibilidade de eventos cardiovasculares. Por isso, antes das intervenções odontológicas, deve ser investigada a presença atual ou o histórico de doenças isquêmicas do coração. O dentista também tem que estar atento ao uso de medicamentos anticoagulantes e/ou antiplaquetários, que são capazes de ocasionar maiores sangramentos em cirurgias odontológicas, como instalação de implantes dentários ou extrações dentárias.

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Tensão na cadeira

Não é difícil encontrar crianças e adultos com medo de enfrentar a cadeira do dentista, mesmo que existam técnicas, instrumentos e equipamentos mais modernos que minimizem incômodos ou dores. Porém, quando falamos de cardiopatas, esse estresse precisa, necessariamente, ser reduzido.
Para isso, o dentista pode prescrever medicamentos para controle da ansiedade. E lançar mão de estratégias complementares, a exemplo de sedação com óxido nitroso — o famoso gás do riso.

É importante ressaltar que todos os fatores de risco modificáveis (hipertensão, diabetes, tabagismo, obesidade, entre outros) e não modificáveis (idade, gênero, etnia, histórico familiar) são de igual importância para um planejamento odontológico com maior segurança e eficiência. Porque, vale ressaltar, quanto maior a incidência desses fatores, maiores os riscos de problemas cardiovasculares agudos ou crônicos.
Departamento de Odontologia da SOCESP

A visão integralista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) sempre foi a marca registrada da entidade e a fez pioneira na discussão sobre a relação entre doenças cardiovasculares e outras especialidades. Desde 1993, ela mantém seu Departamento de Odontologia, dirigido por cirurgiões dentistas especializados no atendimento a pacientes com necessidades especiais. O objetivo é promover o desenvolvimento científico voltado à integração multidisciplinar no atendimento odontológico do cardiopata.

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A diretoria prioriza a capacitação do cirurgião-dentista, atuando na educação odontológica voltada ao portador de cardiopatia, além de prestar informações de saúde bucal à população. Também está a cargo do departamento a atualização dos manejos odontológicos para aqueles com problemas cardíacos específicos. A força-tarefa tende a minimizar eventos que comprometam o estado clínico de portadores de DCVs, sem inviabilizar a ida ao dentista.

*Frederico Buhatem Medeiros é cirurgião dentista e diretor científico do Departamento de Odontologia da Socesp

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