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Novo coronavírus também causa morte por insuficiência cardíaca

Autópsias mostram que alguns casos de Covid-19 terminaram em óbito por afetarem o funcionamento do coração (mesmo com os pulmões não tão danificados)

Por Elton Alisson (Agência Fapesp)
Atualizado em 15 jul 2020, 16h39 - Publicado em 15 jul 2020, 13h42

Autópsias realizadas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo nos últimos quatro meses em cerca de 70 pessoas que morreram por causa do novo coronavírus revelaram que alguns os óbitos decorreram, principalmente, em razão de alterações cardiovasculares, e não da insuficiência pulmonar.

“Queremos saber, agora, como o vírus causa trombos na micro e macrocirculação sanguínea de forma muito mais exuberante que o vírus da gripe, por exemplo”, disse Paulo Saldiva, um dos coordenadores do projeto, em um debate online sobre a epidemia de Covid-19 no Brasil que ocorreu durante a Mini Reunião Anual Virtual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

De acordo com Saldiva, entre os pacientes autopsiados que morreram em decorrência de problemas cardiovasculares causadas pelo novo coronavírus, havia adultos e também crianças, com idades de 8 e 11 anos. “Eles tinham pulmões razoavelmente preservados, mas desenvolveram uma insuficiência cardíaca muito intensa, que levou ao óbito”, descreveu.

Em alguns casos, os pesquisadores identificaram a presença do vírus no miocárdio (estrutura que integra o coração). Em outros, observaram trombose na microcirculação tanto pulmonar como cardíaca.

“Queremos entender as causas dessa situação para poder ajudar e intervir mais rapidamente no tratamento desses pacientes. Esse é um dos propósitos do projeto”, afirmou Saldiva.

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O procedimento de autópsia é realizado com técnicas minimamente invasivas, guiadas por métodos de imagem, por meio das quais são coletadas amostras de tecidos de todos os órgãos, desenvolvido no âmbito de um projeto apoiado pela Fapesp.

Desigualdade nas mortes por coronavírus

Os pesquisadores também conversaram com os familiares das pacientes que faleceram por causa da Covid-19. E esses parentes indicaram que quase todos os pacientes e seus familiares sabiam do risco da doença, mas não tiveram condições para se manter em quarentena, segundo Saldiva. “Os familiares disseram que não puderam cumprir o isolamento por morarem em casas com grande número de pessoas”, contou.

Os dados sobre a origem desses pacientes também reforçam a constatação de que o risco de morte por coronavírus no país é muito maior em locais com piores indicadores socioeconômicos. “A probabilidade de adoecer por Covid-19 no Brasil não é tão caracteristicamente segregado nas regiões de menor nível socioeconômico, mas a mortalidade sim. E há dois fatores responsáveis por isso: habitação e, principalmente, utilização de transporte coletivo para trabalhar”, apontou Saldiva.

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O pesquisador destacou que o adensamento urbano e a migração são os principais indutores de mutação de vírus respiratórios, que passaram a ser os principais causadores de pandemias. Enquanto no século 20 ocorreram duas pandemias por vírus respiratórios – a gripe espanhola, entre 1918 e 1920, e a gripe asiática, entre 1957 e 1958 –, no século 21 têm sido registradas duas pandemias desse tipo por década.

“Entre 2002 e 2004 ocorreu a Sars e, em 2009, a de pandemia de H1N1. Já em 2012 aconteceu a de Mers e, entre o final de 2019 e início de 2020, a de Sars-CoV-2”, comparou Saldiva. “Ter vacinas para combater essas doenças é desejável, mas insuficiente. Será preciso desenvolver sistemas efetivos de testagem e identificação de vírus em todos os países”, avaliou Saldiva.

Além disso, é fundamental estimular a cooperação internacional, o financiamento e a realização de estudos na área da saúde, não só por pesquisadores das Ciências da Vida, mas também de Humanidades. “Não se controla epidemias sem saber Antropologia, História e Urbanismo”, concluiu.

Este conteúdo é da Agência Fapesp.

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