Os cuidados paliativos são milenares, apesar de na década de 1960, no Reino Unido, terem sido reconhecidos, pela primeira vez, como uma área da saúde. Vinte anos depois, a Organização Mundial da Saúde incentivou a atividade para conforto integral daqueles com patologias em fase terminal.
Mas o conceito evoluiu e, em 2004, a própria OMS preconizou que “(…) cuidados paliativos são uma abordagem para melhoria da qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentam uma doença ameaçadora da vida (…)”.
De acordo com a definição atual, as ações devem ser preventivas, buscando sanar o sofrimento por meio da identificação precoce da dor e de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais.
Nesse ponto, podemos entender a necessidade – ou até a obrigatoriedade – de incluir pacientes com insuficiência cardíaca (IC) em grupos de cuidados paliativos. A IC é uma doença incurável, com alta taxa de mortalidade, cujos sintomas impactam na qualidade de vida da pessoa e de seus familiares e cuidadores.
Ela é caracterizada pela perda da capacidade de o coração bombear o sangue na quantidade necessária para nutrir o corpo. Afeta mais 64 milhões de pessoas no mundo.
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Cinco anos após o diagnóstico, apenas 25% dos pacientes sobrevivem. No caso daqueles com 85 anos ou mais, somente 17,4% resistem.
Segundo o Datasus, em 2021, o Brasil registrou mais de 31 mil óbitos por insuficiência cardíaca, um número superior às mortes causadas por alguns tipos de câncer, como de próstata e mama.
O transplante cardíaco é uma das poucas opções quando a IC chega a um estágio mais avançado. Mas mesmo entre os que realizam o procedimento, 29% morrem no primeiro ano pós-cirurgia, e menos da metade dos transplantados vivem mais de dez anos depois da intervenção.
Entre aqueles com insuficiência cardíaca, a taxa de sintomas como falta de ar, fadiga ou dor é superior a 70%. A depressão e a ansiedade são achados comuns e se tornam mais frequentes conforme a doença progride, e especialmente quando é necessária uma internação hospitalar
Esse cenário é propício para a atuação contínua e multidisciplinar dos grupos de cuidados paliativos, com o envolvimento de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais, entre outros.
Os cuidados paliativos contemplam estratégias multifacetadas para atingir o mesmo objetivo. Um exemplo é a dor crônica, que poderá ser combatida tanto com o uso de analgésicos potentes, como morfina, como por meio de sessões de psicoterapia e terapia ocupacional.
Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos
A relevância dos cuidados paliativos para cuidar e amparar pacientes com o coração seriamente comprometido levou à formação do Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos da SOCESP, em 2019. Desde então, um time multidisciplinar, com membros cardiologistas e dos departamentos de Enfermagem, Psicologia, Nutrição, Farmacologia, Odontologia, Fisioterapia e Serviço Social da entidade se reúne para debater, atualizar e dar suporte àqueles que encaram o desafio de trazer qualidade de vida mesmo onde a esperança de dias melhores rareia.
A difusão de conhecimento está no DNA da SOCESP. Por isso, este grupo também produz conteúdos voltados tanto aos profissionais como ao público em geral.
Entre os trabalhos já produzidos, destaca-se Cuidados Paliativos – dor e o manejo farmacológico, que fala sobre automedicação e como os vários tipos de dores chegam a prejudicar o coração. Isso porque, entre outras coisas, promovem a depressão e o sedentarismo, dois fatores de risco cardíaco.
Já o podcast Saúde mental e depressão, da série Cuidados Paliativos – Sintomas de Cardiopatias, trata da relação entre as doenças cardiovasculares e suas repercussões psíquicas.
Esses são exemplos de conteúdos que contribuem para que as pessoas entendam a missão dos tratamentos paliativos, disseminando seus benefícios frente a cenários tão críticos.
* Daniel Dei Santi é cardiologista e integrante do Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.