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Cocaína pode ser letal ao coração

Um quarto dos casos de infarto em pessoas com menos de 45 anos está associado ao uso da droga

Por Dr. Ibraim Masciarelli Pinto*
Atualizado em 1 abr 2020, 10h22 - Publicado em 1 mar 2017, 14h01

O uso de drogas, em especial as ilícitas, representa um dos principais males do mundo contemporâneo. Essas substâncias subvertem os sentidos e reduzem a consciência dos indivíduos. Dessa forma, comprometem a interação social e a convivência familiar, bem como o desempenho na escola e na vida profissional. Além de todos esses danos, já muito graves, há riscos diretos à saúde, que não são poucos. O coração é uma das muitas vítimas tanto das drogas ilícitas como do tabagismo e do abuso das bebidas alcoólicas.

Dentre os psicotrópicos, a cocaína — utilizada por cerca de 17 milhões de pessoas em todo o mundo, com idades que variam entre 15 e 64 anos — é a maior inimiga quando assunto é doença cardiovascular. Seu uso é a causa de um quarto dos ataques cardíacos em pessoas com idade inferior a 45 anos, e esse tem sido um crescente problema de saúde pública. Cerca de dois terços dos infartos ocorrem em até três horas após o consumo, variando de um minuto a quatro dias — 25% acontecem no prazo de 60 minutos.

O quadro tende a ser ainda mais terrível com a disseminação do crack, cocaína em forma de cristal, mais barata, adaptada para ser fumada (a fórmula tradicional da droga é em pó, habitualmente inalada), que causa muita dependência e leva a consequências gravíssimas, com risco muito elevado de comprometer o coração. Some-se a isso o fato de que muitos usuários também fumam cigarros tradicionais de tabaco ou usam outras substâncias ilícitas, o que potencializa a probabilidade de desenvolvimento de doenças cardíacas.

O pior cenário para o coração dá-se com o consumo simultâneo de cocaína e álcool, que gera uma substância chamada cocaetileno, aumentando em três vezes os riscos de arritmias e ataques cardíacos.

O problema toma dimensões maiores quando se considera o fato de muitas vezes o usuário de drogas ser jovem e não buscar ajuda quando surgem os sintomas, já que não se considera como pertencendo ao grupo de risco para doença cardíaca. Outras vezes, esses indivíduos negam o uso das substâncias proibidas por medo das consequências legais e da exposição social e familiar.

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Por isso, é crucial que todos saibam que o sigilo médico é absolutamente garantido. Nenhum profissional denunciará uma pessoa após socorrê-la em caso de uso de drogas ilícitas. O objetivo dos profissionais de saúde é defender a vida! Por isso, é fundamental que as pessoas que consumam cocaína ou qualquer outra substância contem esse fato ao médico em qualquer consulta, pois essa informação será relevante até para evitar o uso de medicamentos que possam interagir com a droga, o que traz sérios problemas adicionais.

Por todos esses motivos, a melhor escolha é evitar o uso de cocaína e todo tipo de droga. Além de preservar a saúde mental, escapar do vício ajuda a impedir que numerosos jovens tenham problemas cardíacos e possam ferir de modo irreversível o coração daqueles que mais os amam.

* Dr.Ibraim Masciarelli Pinto é cardiologista e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp)

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