A dor que incomoda pode ser a mesma que salva
Quais são as dores no peito (e outras) que sinalizam que algo não anda bem com o coração
Se o corpo fala, a dor pode ser considerada o grito. E este pedido de socorro não deve ser negligenciado. Não apenas porque indica que algo não está bem com a saúde, mas também porque viver com dor – seja ela qual for – prejudica nosso dia a dia de muitas maneiras.
Cardiopatas costumam ficar atentos somente às dores na região do peito. Mas, na verdade, várias outras – de cabeça, musculares, no pescoço, no ombro, braços, barriga… – sinalizam, com antecedência, que algo de anormal está acontecendo com o coração.
E temos o caminho contrário: uma dor de dente de uma cárie, por exemplo, quando não sanada, pode levar à endocardite infecciosa.
O quadro acontece quando uma bactéria entra na corrente sanguínea a partir da boca e viaja até as válvulas do coração, provocando uma infecção no revestimento cardíaco. Existe o risco desta patologia levar o paciente à cirurgia e até matar.
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Não são poucos os que precisam prestar atenção aos sinais. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem cerca de 14 milhões de pessoas com alguma doença cardiovascular (DCV).
E um levantamento da SOCESP, que foi apresentado pela primeira vez no congresso da entidade, entre os dias 8 e 10 de junho no Transamerica Expo Center, em São Paulo, mostra que, das 1.193.290 internações cardiovasculares no país em 2022, 982.963 foram por urgência.
A dor é um dos principais sinais de que é preciso buscar atendimento urgente.
Dor faz mal ao coração
O envelhecimento crescente da população contribui para que o número de cardíacos aumente ano a ano.
Em pesquisa de 2021, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou que o país chegou à marca de 10% de sua população – 21,6 milhões – composta por aqueles com 65 anos ou mais.
Para se ter uma ideia da evolução deste grupo etário, em 2012, quando os brasileiros eram 197,7 milhões, 15,2 milhões ou 7,7% tinham 65 anos ou mais.
Mesmo algumas dores típicas dessa fase da vida – como de joelhos, quadril e lombares, entre outras – que não têm relação direta com a cardiopatia podem prejudicar o quadro.
Isso porque, independentemente da causa, a dor compromete uma boa noite de sono – fundamental para o equilíbrio corporal – e impede exercícios físicos, necessários tanto para não agravar como para evitar doenças do coração.
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Outro fator é que a dor tende a maximizar sintomas de ansiedade e depressão, verdadeiros venenos para a saúde cardíaca.
Cuidados no uso de medicamentos
Qualquer dor precisa ser bem avaliada por um médico porque geralmente estamos diante da ponta do iceberg. Tratá-la com automedicação não só mascara um problema como põe em risco órgãos que até então não seriam afetados.
É o caso do excesso de anti-inflamatórios para o estômago e rins. Não são raros casos de pacientes que necessitam de diálise devido ao uso excessivo destas drogas. No fim, ao invés de resolver um problema o paciente terá que arcar com dois ou mais.
Cada organismo responde de uma maneira e a interação medicamentosa deve ser analisada pelo especialista, que buscará as causas para promover a cura da dor sem causar outros danos.
E nem sempre eliminar a dor dependerá de drogas. Acupuntura, massagens terapêuticas, compressas e até sessões de psico e musicoterapia são caminhos viáveis para solucioná-las.
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Da mesma forma, o condicionamento físico pode ser efetivo para a dor. O ideal é que ele seja orientado por fisioterapeutas ou educadores físicos.
Cuidados paliativos é a área médica capacitada a investigar e fazer o manejo correto da dor. Conhecida inicialmente por oferecer conforto aos doentes terminais, hoje o conceito é mais amplo e está intimamente ligado à qualidade de vida, independente da fase da doença em tratamento.
A Socesp reafirma a necessidade de envolver médicos de outras áreas para cuidar de pacientes cardiopatas. E disponibiliza à população podcasts sobre cuidados paliativos, que desmistificam a especialidade e colocam uma expertise multidisciplinar à serviço a população.
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* Daniel Dei Santi é cardiologista e integrante do Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.