O excesso de gordura no fígado (a esteatose hepática) é uma condição bastante comum, porém muito negligenciada pela sociedade e até mesmo por alguns médicos.
O número de casos de pessoas com acúmulo de gordura no fígado acompanha as cifras do sobrepeso e da obesidade. Nessa pandemia, a esteatose hepática acomete cerca de 30% da população mundial e se torna ainda mais prevalente em indivíduos com diabetes (cerca de 80%).
O problema é sério. Nos Estados Unidos, a esteatose hepática ocupa o segundo lugar na lista de causas de câncer de fígado. Sem falar que aumenta a propensão à cirrose, mesmo naquelas pessoas que não ingerem álcool.
O depósito gorduroso no fígado também sinaliza uma maior probabilidade de ter problemas cardiovasculares, isto é, o perigo de infarto, derrame, arritmias e afins bate à porta.
No Brasil, temos um enorme gargalo em relação a isso: a falta de diagnóstico correto. Na maioria das vezes, a detecção da gordura no fígado acontece após um exame de ultrassom do abdômen; em outras, a identificação vem depois de exames de sangue que apuram os níveis de duas enzimas, TGO e TGP (transaminase oxalacética e transaminase pirúvica, respectivamente).
Apesar de serem úteis, tais métodos flagram o excesso de gordura no fígado apenas em graus mais avançados. E não informam o estágio da doença.
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A doença gordurosa do fígado evolui progressivamente. O primeiro estágio, o da esteatose em si, contempla apenas o acúmulo de gordura. Após alguns anos pode haver a progressão para esteato-hepatite, quando já existe inflamação associada. Daí pode avançar para fibrose, uma espécie de cicatriz no tecido hepático. E, se nada for feito, chegar à cirrose e à falência do órgão.
Mas calma: tal progressão nem sempre vai acontecer. E, com diagnóstico precoce e tratamento correto, é possível “rebobinar” a fita da gordura no fígado.
A elastografia hepática é o exame menos invasivo que nos mostra com mais antecedência o depósito gorduroso. Também nos mostra a fase da esteatose em que a pessoa se encontra.
Com a informação em mãos, os médicos podem traçar o melhor tratamento e a prevenção de sequelas a longo prazo. Infelizmente, porém, ainda é um exame pouco acessível para muitos brasileiros, apesar de haver disponibilidade no SUS e por convênios e seguros médicos. Muitos médicos nem sequer o solicitam na rotina (às vezes, por puro desconhecimento).
Fórmula de apoio
Para tentar driblar essa situação, pesquisadores de diversas partes do mundo se uniram para criar uma equação simples e prática capaz de detectar pelo menos os casos mais avançados de fibrose e cirrose: o FIB-4.
Através de um aplicativo de celular ou pelo computador, o médico insere apenas quatro dados do paciente para mensurar o risco que a pessoa tem de ter graus avançados de fibrose no fígado. Esses dados são: idade, valor do TGO, valor do TGP e número de plaquetas no sangue. Em menos de 30 segundos, temos o resultado. E os exames que nos ajudam a fazer a conta são simples, baratos e disponíveis no SUS.
Ao longo dos anos, temos encorajado os médicos a adotarem a equação no dia a dia de consultório. Mas, infelizmente, ela ainda não se popularizou.
Uma saída para ampliarmos o rastreamento de problemas hepáticos no Brasil, sobretudo esses casos mais avançados de fibrose e cirrose, seria que os laboratórios de análises clínicas inserissem o resultado da fórmula FIB-4 automaticamente nos resultados de exames que já contemplem TGO, TGP e plaquetas. Já há iniciativas nesse sentido. E elas ajudarão a alertar médicos e pacientes sobre eventuais perigos ao fígado.
Quer ver como funciona? Se você tem os dados, basta clicar aqui e uma ferramenta vai calcular seu risco.