O governo tem um mecanismo de participação popular para acrescentar novos medicamentos a serem fornecidos no SUS. É a chamada consulta pública, que visa trazer mais transparência e discussão em torno dos custos e dos benefícios que certos tratamentos podem trazer à rede pública.
Em 2020, aconteceu algo inusitado, que há mais de 40 anos não era visto. A comissão do SUS responsável por analisar a inclusão de novas terapias para diabetes deu um parecer inicial favorável à inclusão de dois remédios de uma mesma classe: empagliflozina e dapagliflozina.
Ambos possuem benefícios muito claros, como redução importante da glicose no sangue sem aumentar o risco de hipoglicemia (quando a glicose fica muito baixa). Além disso, promovem perda de peso — de três a quatro quilos, mais ou menos — e diminuição da pressão arterial e do ácido úrico.
Mas o grande ponto dessa classe veio em 2015, data da publicação do lendário estudo EMPA-REG. Ele foi o primeiro na história a mostrar uma queda nos eventos cardiovasculares (infarto, AVC etc) em pessoas com diabetes tipo 2. Nessa pesquisa, utilizou-se a empagliflozina em indivíduos que também tinham apresentado problemas cardiovasculares prévios. Além de evitar mortes, houve uma menor taxa de hospitalização por insuficiência cardíaca e de insuficiência renal crônica.
Posteriormente, estudos com dapagliflozina em populações com menor risco cardiovascular e também com aquelas já com insuficiência cardíaca revelaram benefícios cardiovasculares. Tudo isso, em conjunto, deu ainda mais robustez a essa importante classe de medicamentos.
Como o parecer inicial da comissão do SUS foi favorável à inclusão dessas drogas, é necessário que todos participemos da consulta pública para reforçar essa posição e, finalmente, garantir essas opções de ponta à maior parte da população, que não tem recursos suficientes para bancar tratamento do tipo no longo prazo. Eu já participei e obviamente apoio a inclusão.
A meu ver, o maior custo inicial do governo com os remédios será amplamente compensado pelo menor risco de doenças cardiovasculares e internações por insuficiência cardíaca e insuficiência renal. Além do lado humano, creio que a medida seria excelente do ponto de vista financeiro: é mais barato prevenir sequelas do que tratá-las.
O relatório inicial do SUS aponta que esses medicamentos serão destinados a uma população parecida com a do estudo EMPA-REG, mencionado acima. Seriam pessoas com diabetes tipo 2, idade acima de 65 anos, que tiveram doenças cardiovasculares no passado e que já estejam usando medicamentos orais fornecidos no Sistema Único de Saúde.
Acredito que, em etapas posteriores, um maior número de pessoas poderá se beneficiar, até porque há estudos positivos em outras populações mais jovens e com menor risco cardiovascular. Ainda assim, não podemos negligenciar essa possibilidade de um grande avanço.
Ajude a melhorar o tratamento das pessoas com diabetes tipo 2 no SUS!
Como? Para ter acesso à consulta pública, acesse este link. Aí, vá para a “consulta pública número 1”, com o título “Empagliflozina e dapagliflozina para o tratamento de diabetes mellitus tipo 2”. Você então pode clicar em “Experiência ou opinião” ou, se for um especialista, em “Técnico científico”. Por fim, é só preencher um formulário, dar sua opinião… e ajudar milhares de indivíduo com diabetes tipo 2!
O prazo é até 3 de fevereiro de 2020.