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Remédios para dormir: quais os riscos de oferecê-los a bebês e crianças?

Um dos grandes desejos dos pais é que os filhos durmam a noite inteira. Para isso, muitos têm recorrido a medicamentos. Entenda os perigos da prática

Por Felipe Monti Lora
11 abr 2023, 10h38
insônia
A melatonina tem sido ministrada a crianças e bebês americanos; entre os efeitos colaterais desse tipo de substância estão distúrbios do sistema nervoso, gastrointestinais, cardiovasculares e metabólicos (Foto: Picsea/Unsplash/Divulgação)
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Um estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, realizado entre 2012 e 2021 e publicado no ano passado, apontou que houve um aumento de 530% de casos de intoxicação pediátrica por melatonina – um hormônio natural usado como complementar na indução do sono.

Segundo o relatório, entre os efeitos colaterais desse tipo de substância para bebês e crianças estão distúrbios do sistema nervoso, gastrointestinais, cardiovasculares e metabólicos.

+ Leia também: Melatonina: tudo sobre o hormônio do sono

Para explicar sobre os riscos da utilização desse tipo de medicação sem prescrição médica, conversamos com Clarissa Bueno, neurologista especializada em distúrbios do sono do Sabará Hospital Infantil.

Bebês e crianças podem usar remédios para dormir?

O uso de medicação para dormir não é recomendável na infância.

A maioria dos casos de dificuldade para dormir em crianças é resolvida por meio de estratégias comportamentais, com adequação de hábitos e, de acordo com a idade, a utilização de técnicas como relaxamento, exercícios e técnicas de respiração.

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O tratamento medicamentoso é reservado para casos muito específicos.

Para quais diagnósticos pediátricos esse tipo de medicamento é indicado?

O tratamento medicamentoso apenas deve ser indicado quando há um diagnóstico definido, já que existem muitos tipos de distúrbios do sono – e cada um tem abordagens distintas.

Por exemplo: alguns distúrbios do movimento relacionados ao sono, como a síndrome de pernas inquietas e o transtorno do sono agitado, podem necessitar de tratamento medicamentoso, que será diferente daquele indicado para um distúrbio respiratório relacionado ao sono.

Já crianças com insônia e que tenham alguma outra doença associada, como o transtorno do espectro autista, podem ter indicação de tratamento medicamentoso associado à abordagem comportamental.

Além disso, dentro de uma mesma categoria de distúrbios do sono podem ser recomendados tratamentos diferentes.

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Para ter ideia, vários estudos mostram que a melatonina não é eficaz na criança cujo principal problema é a presença de despertares noturnos.

Quais os riscos de fornecer medicamentos que causam sono para crianças sem diagnóstico definido?

As medicações atuam no sistema nervoso central, então é importante lembrar que, ao dar um remédio para induzir sono na criança, estamos dando algo que, de algum modo, vai atuar sobre o funcionamento cerebral.

Essas medicações podem causar sonolência diurna, alterações de frequência cardíaca, depressão respiratória, hipotermia, entre outros.

+ Leia também: Remédios para dormir: quando são necessários e quais os riscos?

No caso da melatonina, trata-se de um hormônio que atua não apenas em relação ao sono, mas também em várias outras funções do organismo, como o metabolismo de açúcares e gorduras, regulação da pressão arterial, nos mecanismos de inflamação, entre várias outras ações.

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Assim, ao utilizar esse medicamento, estamos inadvertidamente interferindo em diversas funções do organismo (muito além do sono), o que pode trazer consequências.

Quais são os sintomas de que uma criança realmente tem problemas para dormir?

Crianças com dificuldade para dormir costumam ficar agitadas e irritadas, diferentemente dos adolescentes e adultos, que tendem a ficar sonolentos.

A privação de sono tem impactos cognitivos na criança, podendo prejudicar a atenção e dificultar o aprendizado.

Também pode ter impacto em relação ao desenvolvimento celular, ao crescimento e maior ou menor ganho de peso.

Quando os responsáveis devem procurar um especialista para falar sobre sono?

O sinal de que há algo errado deve soar quando:

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  • A criança apresenta de forma recorrente dificuldade para iniciar ou manter o sono;
  • Tem um sono agitado com movimentação excessiva;
  • Apresenta sintomas respiratórios relacionados ao sono;
  • Ou quando se observam repercussões no seu comportamento durante o dia por noites mal dormidas.

Nessas situações, o pediatra deve ser consultado. E, se houver necessidade de um diagnóstico mais aprofundado ou ainda se medidas de mudança de hábitos e comportamentos iniciais não forem suficientes para resolver o problema, recomenda-se o encaminhamento para um especialista.

Quais são os tratamentos indicados?

O primeiro passo é fazer o diagnóstico do distúrbio de sono que a criança apresenta e quais condições podem estar associadas a ele.

Quando estamos diante de um quadro de dificuldade de início e manutenção do sono por hábitos ou associações inadequadas no momento de dormir, o tratamento indicado é a terapia comportamental – o objetivo é promover uma mudança de hábitos e comportamentos relacionados à hora do descanso.

Para outras situações, como distúrbios respiratórios relacionados ao sono, um tratamento otorrinolaringológico pode ser necessário.

Já alguns movimentos durante o sono podem demandar apenas orientações e cuidados em relação ao ambiente, enquanto outros podem requerer tratamento medicamentoso.

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E quando as crianças têm condições complexas, como TEA (transtorno do espectro autista) e TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), qual deve ser a conduta dos cuidadores?

A construção de hábitos e comportamentos que promovam um sono tranquilo e independente sempre faz parte da abordagem terapêutica, mesmo para crianças complexas, embora adaptações possam ser necessárias.

Particularmente para esse grupo de crianças, o uso de telas no final do dia pode atrasar e dificultar o início do sono.

O estabelecimento de rotinas regulares de atividades ao longo do dia e a exposição à luz natural pela manhã contribuem para um sono saudável.

Por outro lado, é fundamental ter um ambiente tranquilo e propício ao sono durante a noite.

Além disso, o estabelecimento de limites claros e consistentes no momento de dormir por todos os cuidadores e a promoção da independência da criança para o início do sono fazem parte das recomendações.

Chás, alimentação, redução do uso de telas, rotina… O que pode ajudar bebês e crianças a terem um sono leve e tranquilo à noite?

Um sono tranquilo está relacionado a condições ambientais propícias para dormir e isso é construído ao longo das 24 horas.

Assim, rotinas claras, apropriadas a cada horário, que auxiliem a criança a organizar a rotina e a distinguir situações diurnas e noturnas, contribuirão para consolidar o sono noturno.

+ Leia também: Melatonina: suplemento não é solução para insônia e pode ser prejudicial

Durante a noite, ocorrem modificações metabólicas que preparam a criança para o jejum durante o sono. Isso deve ser respeitado, com alimentação mais leve – mas sempre tendo em mente a idade da criança, já que as pequenas irão se alimentar em intervalos mais curtos.

As telas têm um efeito estimulante e inibem a produção de melatonina, hormônio que sinaliza o início da “noite interna”. Assim, o seu uso é contraindicado após o pôr-do-sol.

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