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Para prevenir o suicídio, é preciso estar disponível

Quando uma pessoa está emocionalmente abalada, é preciso ouvi-la de verdade, sem julgamentos. Essa atitude pode salvar a vida de quem sofre

Por Lorival Blanco, presidente do CVV*
Atualizado em 13 jan 2023, 17h11 - Publicado em 13 jan 2023, 17h11
é possível prevenir um suicídio
Prevenção do suicídio passa por uma escuta acolhedora, sem críticas e julgamentos. (Foto: Priscilla Du Preez/Unsplash/Divulgação)
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O suicídio é um assunto que sempre assombrou a humanidade. É o final trágico para uma história de vida, uma opção que muitas pessoas acabam vendo como a única para resolver um sério problema ou acabar com uma dor extrema.

Segundo um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista, 17% dos brasileiros já pensaram em se matar em algum momento da vida. Significa que, em uma empresa com 200 empregados, entre 30 e 40 já pensaram ou tentaram suicídio.

Poucas pessoas têm noção dessa realidade, pois o tema é rodeado de tabus. Ao ver esses dados, é muito importante entender que há prevenção. E prevenção, como nos casos de outros problemas de saúde física ou mental, só pode existir com informação.

No início do texto, falei que o suicídio é um final trágico de uma história de vida, porque ninguém acorda de um dia para o outro e tenta morrer.

Essa intenção é construída ao longo do tempo, com o acúmulo de situações internas e externas com as quais a pessoa tem dificuldade de lidar sozinha e não encontra a ajuda necessária.

+ Leia também: Por que não podemos negligenciar o tratamento da depressão

Saber ouvir

Dentro dessa lógica do acumulado de sentimentos e pensamentos que fazem mal, a melhor maneira de se prevenir o suicídio é estar disponível para ouvir – mas com “com ouvidos de ouvir”, ou seja, sem julgar, criticar, menosprezar ou ironizar.

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É essencial ter uma conversa colocando-se no estado emocional em que a pessoa está vivendo, criando uma espécie de sintonia emocional – sem buscar tanto entender as motivações ou perguntar detalhes e racionalizar a conversa.

Ao alcançarmos esse modelo, o indivíduo sente sua presença, seu toque humano. Essa sensação de acolhimento que afaga é capaz de arrancar de dentro do peito a dor, o desespero, a tristeza.

Sabe quando alguém nota que você cortou o cabelo ou trocou os óculos? Dá uma sensação de ser importante e percebido, não é mesmo? Pois quando uma pessoa é notada emocionalmente, é muito mais significativo.

Há situações nas quais o apoio médico ou psicológico é decisivo, mas essa conversa, que qualquer pessoa pode começar, tem enorme poder para acalmar crises e evitar uma progressão do quadro autodestrutivo.

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+ Leia também: Saúde mental precisa entrar de verdade na gestão das empresas

Estar disponível

Falo desse modelo com o conhecimento acumulado do CVV – Centro de Valorização da Vida. São mais de 60 anos oferecendo apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente e exclusivamente por voluntários em todo o Brasil. Compreendemos a importância da disponibilidade – são mais de 3 milhões de atendimentos ao ano.

Para ilustrar o que é estar disponível, no início da pandemia de Covid-19, somente 7% dos nossos atendimentos eram realizados remotamente. Os demais eram feitos por voluntários dentro de postos de atendimento da entidade. Em pouco tempo, saltamos para 77%, em um esforço monumental para levar tecnologia ao maior número possível de voluntários e, assim, garantir que quem nos procurasse fosse devidamente atendido.

Quem quer se tornar voluntário do CVV passa por um treinamento para conhecer as técnicas que permitem promover aquela conversa acolhedora.

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Existem pessoas que ficam um tempo e depois saem da entidade, mas levam consigo o propósito da disponibilidade, com desenvolvida percepção de quando uma pessoa está precisando de atenção.

Não entendemos que “perdemos” voluntários, mas, sim, que tornamos pessoas capazes de levar acolhimento e redução na sensação de solidão e sofrimento a outras.

Aprendemos que oferecer esse treinamento a profissionais de saúde, policiais e bombeiros é uma maneira de ter mais gente ouvindo com compreensão, respeito e aceitação.

Um professor que nota seu aluno mais triste, um colega de trabalho que percebe a desatenção ou um familiar que vê o outro mais recolhido e distante… Todos podemos fazer a diferença.

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E notar a pessoa emocionalmente, promovendo uma conversa acolhedora, é se doar verdadeiramente, sem esperar nada em troca. Porque doar buscando recompensa não é doação: é troca. E valorizar a vida deve ser, por si só, uma finalidade de todos nós.

*Lorival Blanco é presidente do Centro de Valorização da Vida (CVV)

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