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Causas de transtornos psiquiátricos na vida profissional

Sintomas de esgotamento físico e mental incluem perda de interesse nas atividades de trabalho, sentimentos negativos, irritabilidade e baixa autoestima

Por Tania Machado, presidente da Associação Paulista de Recursos Humanos e de Gestores de Pessoas*
20 jul 2023, 18h45
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  • A crise sanitária mundial causada pela pandemia da Covid-19 antecipou muitos debates sociais em relação à preservação da saúde física e mental das pessoas.

    Entre sobreviventes e vítimas fatais da doença, todos foram impactados de alguma forma pelo vírus. Os transtornos profissionais cresceram em grande escala nesse período.

    A pandemia trouxe muitas perdas, irreparáveis. Mas também foi um período de muito aprendizado e de desafios para todo o ecossistema da área de saúde.

    Os profissionais da área enfrentaram desafios diários. Faltou material, medicamentos, mão de obra, leitos e equipamentos. E, mesmo diante de tudo isso, arriscaram a própria vida para salvar o outro.

    Em um país com poucos investimentos e valorização à ciência e aos profissionais da área, foi de fato, uma lição de profissionalismo e de humanidade.

    + Leia também: OMS classifica burnout como problema de saúde ligado ao trabalho

    Pressão na pandemia

    Os profissionais de saúde se tornaram essenciais mas, ao mesmo tempo, acumularam uma rotina ainda mais exaustiva.

    Vale, neste contexto, refletir: de que forma esse processo agravou o estado de saúde mental desses trabalhadores?

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    Eles tiveram que lidar com um vírus que não tinha cura, altamente contagioso, com o medo, insegurança, número de mortes, isolamento, afastamento de seus familiares, exaustão e falta de informação. Essa era a dura realidade enfrentada por esses heróis.

    Além de transtornos psicológicos, perdemos para a doença familiares, amigos e colegas de trabalho.

    Um levantamento realizado pela Internacional de Serviços Públicos (ISP), revela que mais de 4,5 mil profissionais de saúde morreram no Brasil entre março de 2020 e dezembro de 2021.

    Depois do pico da Covid-19, contudo, dados ainda mais alarmantes foram identificados. O Brasil enfrenta uma segunda pandemia, desta vez, em razão da saúde mental.

    O impacto emocional das perdas familiares, o sentimento de medo, a falta de socialização e a instabilidade no trabalho elevaram o nível de estresse e sofrimento psíquico dos brasileiros em geral.

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    A incidência de transtornos de ansiedade e depressão aumentou, só no primeiro ano da pandemia, cerca 25%, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

    + Leia também: Burnout e outros problemas mentais são os predadores modernos

    Suicídio entre profissionais

    Falando do setor de saúde, onde tenho uma longa atuação, a pandemia exigiu muito da profissão médica.

    De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia em San Diego, 1 em cada 15 médicos têm ideias suicidas. Eles também são mais propensos a enfrentarem pressões dentro do ambiente de trabalho.

    Muitos são os casos de uso e dependência de álcool e drogas como paliativo para aliviar as tensões.

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    Síndrome de burnout

    Para a área de saúde ocupacional e medicina do trabalho, algo que trouxe muita preocupação é a síndrome de burnout, que também é conhecida como síndrome do esgotamento profissional.

    Ela passou a ser considerada doença ocupacional desde 1º de janeiro, após a sua inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID) da OMS. Com isso, os trabalhadores passam a ter os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários previstos nas demais doenças relacionadas ao trabalho.

    A síndrome, desencadeada pelo estresse crônico, se caracteriza pela tensão resultante do excesso de atividade profissional, ambiente tóxico e assédio moral.

    Nesse cenário, as relações e cobrança do mundo corporativo promovem o esgotamento físico e mental, a perda de interesse no trabalho, a ansiedade e a depressão.

    burnout profissionais de saúde
    Pesquisa com médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem indica alta prevalência de burnout após a pandemia de Covid-19. (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital)
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    Qual o papel das empresas no equilíbrio emocional dos colaboradores?

    As relações no ambiente de trabalho precisam mudar, existe um esforço enorme e um entendimento das lideranças que é preciso fazer mudanças.

    Os transtornos emocionais dão sinais, mas ainda assim é difícil o próprio individuo ou até mesmo pessoas ao redor conseguirem reconhecer.

    O departamento de RH, a saúde ocupacional e a medicina do trabalho têm um papel fundamental em diagnosticar de maneira segura e respeitosa esses casos, para iniciar o enfrentamento e o cuidado dos colaboradores.

    Algumas empresas têm se preparado, contratando especialistas para mapear sua população de colaboradores e saber qual diagnóstico e tratamento adequado para cada pessoa.

    Outras empresas têm formado grupos que chamam de socorristas, para que essas pessoas treinadas possam identificar esses sinais e ajudar quando necessário.

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    Porém, mais importante do que ter recursos para identificar os casos é manter uma relação profissional saudável, que preserve a saúde emocional e mental de cada pessoa.

    Sem dúvidas, é de responsabilidade do empregador evitar o adoecimento de seus colaboradores, assim como zelar por um ambiente de trabalho saudável e seguro, seja presencial ou remoto.

    É preciso também coibir práticas como a cobrança de metas inatingíveis ou abusivas, assédio moral e excessos de jornada.

    Esses novos modelos de trabalho também trazem medo, inseguranças e falta de adaptabilidade do empregado; já que são muitas adaptações.

    Os sintomas de esgotamento físico e mental são perda de interesse nas atividades de trabalho, sentimentos negativos, falta de motivação, irritabilidade, depressão, ansiedade, baixa autoestima, dificuldade de concentração, além de dores de cabeça constantes, fadiga, palpitação.

    + Leia também: Asma relacionada ao ambiente de trabalho prejudica renda e saúde mental

    Iniciativas que podem fazer parte do acolhimento

    Atividade física é fundamental na recuperação e promoção da saúde. Por isso, as empresas precisam criar programas de prevenção que a incluam e, além disso, protocolos para acompanhar e identificar casos suspeitos de esgotamento.

    Investir em gestão de saúde e segurança no trabalho contribui para o aumento da competitividade e a redução dos custos para as empresas.

    O crescimento da indústria deve ir muito além do investimento em inovação e tecnologia para a melhoria dos seus processos. Na prática a riqueza de uma empresa depende da saúde dos colaboradores.

    É necessário ter empatia, valorizar as pessoas, escutar atentamente, engajar e principalmente compreender a perspectiva e os sentimentos do colaborador.

    O HUBRH, da Associação Paulista de Recursos Humanos e de Gestores de Pessoas, tem um papel fundamental em disseminar conhecimento através de boas práticas. Nos dias 26 e 27 de setembro de 2023 no Expo Center Norte, na cidade de São Paulo, fará um debate que reúne diversos profissionais e lideranças com interesse nesse assunto.

    A programação foi preparada com intuito de despertar a consciência e a sensibilidade dos profissionais participantes. Todos ganham quando se coloca pessoas no centro do cuidado e atenção no mundo corporativo.

    O tema também impacta diretamente o cenário econômico e corporativo, uma vez que a saúde mental é considerada a segunda causa de afastamento laboral, aumentando o estigma pessoal de incapacidade.

    Nossa principal proposta é compartilhar práticas de extrema relevância para execução no dia a dia. Intensificar as ações informativas e de conscientização sobre esse importantíssimo tema contribui para amenizar a falta de informação sobre os transtornos mentais, que são muito mais frequentes do que se imagina.

    Apenas no Brasil, mais de 20 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais, segundo estimativas da OMS.

    Precisamos conhecer o problema para enfrentá-lo.

    *Tania Machado é entusiasta da área da saúde, CEO da TM Jobs e consultora de marketing e negócios há mais de 23 anos e atual presidente do HUBRH+AAPSA sediado em São Paulo.

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