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“Sou homem trans e doei óvulos para minha mãe adotiva”

Jovem de 29 anos conta como intensificou sua conexão familiar ao ajudar a mãe a realizar o sonho de engravidar

Por Ariel Vitor Roschel*
28 jun 2025, 07h00
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Doação de óvulos é um dos avanços que permite superar a infertilidade (Freepik/Reprodução)
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Sou Ariel Vitor Roschel, tenho 29 anos, sou um homem trans e, há cerca de um ano, realizei uma das decisões mais marcantes da minha vida: doei óvulos para a minha mãe adotiva. Com esse gesto, ela poderá realizar o sonho de ser mãe biológica, algo que por muito tempo parecia inalcançável.

Minha transição começou por volta dos 23 anos de idade. Foi um processo importante de afirmação e liberdade pessoal. Esse processo foi muito simbólico e me aproximou ainda mais da minha mãe adotiva, a mulher que me acolheu, me criou e esteve ao meu lado em todos os momentos, tanto os felizes quanto os difíceis.

Minha mãe tem hoje 49 anos e há alguns anos tentou engravidar, mas enfrentou uma situação de baixa reserva ovariana. Ela não tem nenhuma condição de saúde impeditiva, mas o tempo tornou mais difícil o caminho natural para a gestação. A ideia de buscar uma doadora de óvulos era uma possibilidade, mas também um desafio emocional, logístico e financeiro.

Foi então que pensei: “E se eu pudesse doar para ela?” Eu não tenho o desejo de ter filhos, e sabia que, ao doar, poderia oferecer algo muito mais valioso do que apenas uma célula, poderia dar a ela uma chance real de viver a maternidade de forma plena. Além disso, somos muito parecidos fisicamente, o que tornaria tudo mais natural e tranquilo para ela.

Fizemos todo o processo na Clínica Huntington de Medicina Reprodutiva, depois da minha transição de gênero, com uma equipe médica que nos tratou com respeito e humanidade. Foi minha primeira vez doando óvulos, e posso dizer que a experiência foi muito positiva.

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Conhecemos a clínica por meio do médico que tratou o câncer da minha mãe. Ele indicou a Dra. Thaís Cury, com quem nos identificamos e decidimos realizar todo o processo. Apoiada pela equipe de enfermagem e embriologia, ela conduziu tudo com muito profissionalismo e carinho. Inclusive, ela mesma foi responsável pela coleta.

Durante o procedimento, conseguimos coletar 14 óvulos no total. No primeiro momento, foram utilizados apenas quatro deles para a fertilização, pois a amostra seminal disponível congelada, já que o meu pai mora na Europa, estava com qualidade abaixo do ideal.

Mais tarde, quando ele pôde vir ao Brasil, descongelamos outros quatro óvulos e conseguimos formar quatro embriões. Ainda temos seis óvulos congelados, que podem ser usados futuramente.

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Em nenhum momento senti qualquer conflito com minha identidade de gênero. Pelo contrário: me senti mais conectado com minha história, com meu corpo e, principalmente, com a mulher que me deu e dá tanto amor.

Às vezes, as famílias se formam de formas que o sangue não explica. No meu caso, fui adotado e recebi tudo o que um filho pode desejar: cuidado, afeto, acolhimento. Doar meus óvulos foi a forma mais bonita que encontrei de retribuir. Hoje, mais do que nunca, acredito que ser pai, ser mãe ou ser filho vai muito além da genética.

É sobre estar presente, sobre escolher amar e cuidar. E é isso que sempre fizemos um pelo outro.

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*Ariel Vitor Roschel tem 29 anos e é um homem trans. 

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