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Máscaras são perigosas por deixarem o sangue ácido? É fake!

Em vídeo, um homem chega a dizer que máscaras facilitam a ação do coronavírus por acidificarem o sangue. Mas isso não faz sentido

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 12 mar 2021, 17h49 - Publicado em 9 jul 2020, 19h23

Em um vídeo que está circulando pelo WhatsApp, um médico que se identifica como João Vaz recomenda que as máscaras faciais sejam utilizadas para prevenir a transmissão do novo coronavírus (Sars-CoV-2) apenas quando se está falando com alguém a menos de 1,5 metro de distância. Segundo ele, em qualquer outra situação, o item faria mais mal do que bem porque estimularia a reinalação de gás carbônico (CO2), o que acidificaria o sangue. E isso, por sua vez, facilitaria a ação desse agente infeccioso no organismo.

No entanto, não há evidências científicas de que o pH do líquido vermelho seja significativamente afetado pelo uso de máscaras caseiras na população geral. Acima disso, inexistem estudos apontando elo entre um “sangue ácido” e o agravamento da Covid-19.

Em entrevista à rádio CBN, o Ministério da Saúde rebateu o conteúdo. Segundo a pasta, não há embasamento técnico-científico que prove as informações propagadas no vídeo.

Quer mais? O próprio João Vaz já disseminou outras noticias falsas. Em maio, ele apareceu nas redes afirmando que quem não faz parte do grupo de risco não morre por causa do novo coronavírus. Embora certos fatores realmente aumentem o risco de complicações, há um grande número de indivíduos jovens e saudáveis que faleceram por causa da enfermidade.

Como fica a respiração ao usar uma máscara

Quando respiramos, nosso corpo absorve oxigênio (O2) e libera CO2. Em situações muito específicas, pode haver a reinalação de gás carbônico, que leva a um aumento na concentração dessa substância no sangue (quadro chamado de hipercapnia).

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“Ao se combinar com a água, o excesso de CO2 forma o ácido carbônico (H2CO3), provocando o que chamamos de acidose ventilatória”, ensina o pneumologista Gustavo Prado, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. A condição pode reduzir a oxigenação sanguínea.

Porém, isso só acontece em situações bastante particulares, como quando se respira continuamente com uma sacola plástica amarrada na cabeça, o que ninguém recomenda. Ou em decorrência de crises de enfermidades graves, a exemplo da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Na gravação fake que mencionamos antes, há uma afirmação sem provas de que as partículas de gás carbônico ficam presas no utensílio, sendo aspiradas ao puxarmos ar outra vez.

“Mas nenhuma das máscaras recomendadas para prevenir o contágio de infecções respiratórias transmissíveis por gotículas e aerossóis impede a eliminação do gás carbônico”, contesta Prado.

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Isso porque o CO2 é altamente difusível e os tecidos dos quais as máscaras são feitas — sejam elas cirúrgicas, caseiras ou hospitalares — não o barram por completo. Ou seja, a maioria desse gás consegue passar por elas sem resistência.

“Dessa forma, não existe o risco de reinalação, hipercapnia e nem acidose pelo uso do equipamento”, arremata o médico.

É verdade que alguns poucos estudos mostraram, no passado, que os respiradores N95 – um tipo de máscara rebuscado, que segura mais o ar — foram associados a episódios leves de hipercapnia entre profissionais da saúde.

Um deles foi publicado em 2013 no Jornal Americano de Controle de Infecções. Ele revelou um aumento significativo de CO2, mas atenção: as alterações não foram clinicamente relevantes. Ou seja, os usuários não sofreram qualquer consequência mais grave.

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Os maiores desconfortos relatados foram necessidade de esforço adicional para respirar, dor de cabeça e dificuldade de comunicação. Contudo, dos dez enfermeiros participantes, nove toleraram a proteção respiratória por dois turnos de 12 horas de trabalho. Convenhamos que esse é um tempo de uso muito superior ao da enorme maioria da população — e com um tipo de máscara diferente da caseira ou cirúrgica.

De acordo com Gustavo Prado, mesmo as pesquisas que trazem esses efeitos colaterais leves de uma utilização prolongada são esparsas e pequenas. “Em algumas delas, também reduzidas e sob condições excepcionais, observou-se uma pequena elevação de gás carbônico no sangue, mas ainda dentro dos limites da normalidade e sem comprovação de acidose”, complementa.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou em um documento, compartilhado em 5 de junho de 2020, que o uso por horas e mais horas de qualquer tipo de máscara é capaz de levar a dores de cabeça, dificuldades respiratórias, alergias de pele e desconforto. Mas não há qualquer relato de problema envolvendo o CO2, a acidificação do sangue e, acima de tudo, a infecção pelo novo coronavírus.

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Por que é importante usar a máscara

O equipamento integra as medidas de prevenção contra a Covid-19. Ele impede principalmente que portadores do Sars-CoV-2, pessoas com suspeita e pacientes assintomáticos propaguem a doença.

Uma revisão de estudos publicada recentemente no periódico The Lancet constatou que, quando você cruza com um indivíduo doente, o risco de se contaminar é de apenas 3,1% se estiverem usando o utensílio. Sem ele, a probabilidade sobe para 17,4% — mais de cinco vezes maior!

No vídeo, João Vaz afirma que as máscaras só são necessárias para proteção ao conversar com alguém a uma distância de 1,5 metro. Elas seriam dispensáveis, portanto, no caminho até a padaria se você não cumprimentar ninguém, por exemplo. Isso é mentira!

Primeiro porque não há garantia de que você não irá espirrar ou tossir durante o trajeto. Depois que o próprio ato de respirar pode eliminar vírus no ambiente. Se outro indivíduo encostar em uma superfície contaminada por suas gotículas, pode pegar o coronavírus.

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“E a gente ainda não tem uma resposta definitiva sobre a possibilidade de o contágio também acontecer através da disseminação aérea, por aerossol. Existem dúvidas se o novo coronavírus pode ser carreado a longas distâncias pelo ar”, completa o expert.

Portanto, não deixe de utilizar esse equipamento ao sair de casa e tome todos os cuidados para manuseá-lo corretamente.

“Só é importante salientarmos que essa é uma medida complementar”, pondera Prado. A higienização das mãos e o distanciamento físico seguem imprescindíveis.

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