Como cuidar da saúde bucal em tempos de coronavírus
Entenda por que não se pode deixar de lado a higiene bucal durante a crise da Covid-19 e como proceder caso tenha algum problema odontológico
A pandemia mundial de Covid-19, decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), alterou a rotina dos brasileiros, que agora devem evitar aglomerações e redobrar a higiene pessoal. Nesse contexto, é importante ressaltar que as pessoas devem ficar ainda mais atentas à higiene bucal.
Primeiro porque ela é fundamental para a manutenção da saúde geral. E segundo porque, de acordo com as orientações técnicas do Ministério da Saúde e de órgãos de vigilância dos estados para este momento de isolamento social, só se deve buscar atendimento odontológico em caso de urgência ou emergência.
Ciente da gravidade do cenário, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp) reuniu recomendações sobre medidas de prevenção e proteção da saúde bucal em tempos de propagação intensa do novo coronavírus.
Em primeiro lugar, não podemos negligenciar a higiene bucal diária, que é essencial para evitar o surgimento de cárie, gengivite e mau hálito, além de problemas mais graves. A higiene deve ser feita com escova de cerdas macias e creme dental com flúor, e a limpeza entre os dentes requer o fio dental — se houver indicação do cirurgião-dentista, pode-se complementar com o uso do enxaguante bucal. Lembrando que a escovação deve ser feita ao acordar, após as refeições e antes de dormir.
Cuidados especiais durante a pandemia de coronavírus
Uma das formas de contágio do novo coronavírus se dá pela disseminação de gotículas de saliva. Por isso, se alguém na casa estiver com sintomas ou suspeita da infecção, o uso de pasta de dente, sabonete e toalha de rosto precisa ser individualizado. Nesse sentido, também se indica não deixar as escovas no mesmo ambiente.
Antes de realizar a higiene bucal, é importante sempre lavar as mãos até a metade do pulso e entre os dedos, por no mínimo 20 segundos. Não custa frisar: lavar frequentemente as mãos é uma das principais medidas para conter o vírus.
Outro conselho é evitar colocar a mão na boca. Estudos recentes mostram que o causador da Covid-19 consegue sobreviver por até três dias em superfícies como plástico e aço. Nossas mãos estão em contato constante com vários materiais, que podem estar contaminados. Tocar nessas superfícies e levar as mãos à boca, ao nariz ou aos olhos aumenta o risco de pegar o vírus. Em casa, certifique-se de redobrar a limpeza das superfícies e dos objetos pessoais.
Consultas ao dentista
Diante da pandemia, os órgãos de saúde e de vigilância sanitária do país recomendam a ida ao consultório odontológico apenas em casos de emergência ou urgência. As visitas ao cirurgião-dentista para procedimentos eletivos devem ser adiadas por precaução.
É importante destacar que os consultórios odontológicos seguem rigorosamente as medidas de biossegurança, a fim de restringir os riscos de infecção para a população e os profissionais de saúde bucal.
Já são adotados diversos protocolos com sólidas evidências científicas que nos permitem atender pacientes com várias patologias, como aids, hepatites e outras situações clínicas, em nossos consultórios.
A medida de adiamento dos procedimentos eletivos só foi adotada em caráter emergencial, face à propagação da Covid-19.
Durante a pandemia, os tratamentos com finalidade estética, procedimentos ortodônticos que não envolvam traumas, restauração de dentes assintomáticos, bem como cirurgias eletivas para extração de dentes ou controle da periodontite, devem ser suspensos e só retomados após recomendação do profissional.
Já os casos de emergência odontológica, cujo atendimento continua vigente, são aqueles que expõem o paciente a potencial risco de morte, caso de sangramentos não controlados e traumatismos que envolvem os ossos da face, com comprometimento das vias aéreas. O cirurgião-dentista tem de estar a postos para agir nesses contextos.
Assim como nos casos urgentes, que são aqueles que, embora não ofereçam risco iminente à vida, devem ser resolvidos prontamente. Exemplos: dor de dente aguda, abscessos dentários ou periodontais que provocam dor localizada, fratura de dente com trauma no tecido mole bucal, tratamento odontológico prévio a procedimento médico e cáries extensas ou restaurações com problemas que estejam causando muita dor.
Se o seu caso se encaixar em uma das situações listadas acima, entre em contato previamente com o seu cirurgião-dentista para avaliar a necessidade de atendimento odontológico e informe se nos últimos 14 dias apresentou algum sintoma como febre, coriza, tosse, dor de garganta e falta de ar. Após o contato, o profissional saberá como conduzir o caso e orientá-lo sobre a melhor providência a ser tomada.
Como fica o consultório odontológico
As clínicas e consultórios devem seguir rigorosamente as normas de biossegurança para evitar a propagação do novo coronavírus. Em casos de atendimento de emergência ou urgência, o profissional precisa seguir as medidas preventivas abaixo:
● Isolamento respiratório com o uso de máscaras cirúrgicas N95;
● Uso de avental, touca e luvas descartáveis, bem como óculos de proteção, que deve ser higienizado após cada atendimento. O emprego dos equipamentos de proteção individual deve ser priorizado;
● Higiene frequente das mãos, principalmente antes e depois de cada atendimento;
● Desinfecção de todos os ambientes de trabalho após cada paciente, pois o vírus pode ser transportado em forma de aerossol e sobreviver nas superfícies por mais de nove dias;
● Cuidados redobrados com o manuseio de modelos e moldes para efetiva desinfecção;
● Evitar cumprimentos como beijos ou apertos de mão;
● Seguir rigorosamente todos os procedimentos do manuseio para limpeza e esterilização dos instrumentos.
Profissionais de odontologia também devem se vacinar contra a gripe e fazem parte do grupo prioritário da primeira fase da campanha nacional do Ministério da Saúde. Além disso, podem orientar seus pacientes acima de 60 anos a tomar o imunizante — que não evita o coronavírus, mas previne outra importante infecção respiratória.
Assim como toda a população, os profissionais de saúde bucal também estão enfrentando estes tempos difíceis. E o Crosp salienta que as orientações aqui reunidas são transitórias e podem ser modificadas diante do controle da pandemia. Mas o fundamental é reforçar que, quanto mais aderirmos às medidas de prevenção e contenção, mais rapidamente passaremos pela Covid-19.
* Dr. Marco Antonio Manfredini é cirurgião-dentista, doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP) e tesoureiro do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp)