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Tecnologia para restabelecer o elo entre médico e paciente

Expert em gestão analisa dilemas na conexão entre profissionais de saúde e pacientes e como as novas ferramentas de comunicação podem melhorar essa relação

Por Jimmy Cygler, especialista em gestão*
11 jun 2019, 17h54
tecnologia para reconectar pacientes
O bom uso da tecnologia pode ajudar a reconectar médicos e pacientes (Ilustração: Venimo/Getty Images)
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A tecnologia sempre atuou como transformadora da medicina. As novas descobertas intensificaram a proliferação de especialidades (hoje, mais de 100!), aceleraram o processo de diagnóstico e, consequentemente, impactaram na relação médico-paciente. São inquestionáveis os benefícios que a inovação trouxe para a saúde. E é inimaginável que qualquer médico da família — mais comuns há algumas décadas —, por mais dedicado que fosse, pudesse ser tão preciso e eficiente nos diagnósticos e tratamentos não fosse pelo advento de tecnologias.

Apesar de tantos avanços, a medicina vive hoje um impasse. A tecnologia que tanto ajuda também serve de muleta para muitos profissionais, que deixaram para trás as importantes habilidades dos clínicos de antigamente. As evoluções, somadas à pressão do sistema por aumento de produtividade e redução de custos, têm tirado a essência da profissão, que nada mais é do que ter o olhar empático voltado para o ser humano como um todo e não somente para resultados de exames.

Para se ter uma ideia do que estamos vivendo hoje em todo o mundo, um artigo do The New York Times de 2013 já alertava que, nos Estados Unidos, as consultas com médicos jovens não passavam de 8 minutos. E o dado mais impressionante: os profissionais costumam levar apenas 11 segundos para interromper a fala do paciente sobre o seu estado geral, angústias e preocupações.

No Brasil, um estudo que contempla as cidades de Ribeirão Preto, Campo Grande, Ponta Grossa, Fortaleza e o estado da Paraíba evidenciou que o tempo médio da consulta girava entre 7 e 8 minutos.

Ou seja, o médico não olha para o paciente, não se conecta com ele. A interrupção acelerada é fruto da necessidade de ganhar tempo que tomou conta da profissão ou também revela uma característica que vem tomando conta da classe?

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Sem dúvida, há uma grande pressão de tempo por parte do sistema. E mais do que isso: as universidades têm ensinado cada vez mais os médicos a enxergarem só doenças. Isso tem que mudar. O foco precisa ser a saúde e o bem-estar físico e mental.

Em defesa dos médicos, temos que entender a duríssima vida que eles enfrentam. Um oncologista, por exemplo, chega a ter cerca de 20 mil encontros com familiares de pacientes ao longo da carreira. Imagine o custo emocional disso. Aliás, a saúde dos próprios médicos também tem sido bastante afetada. Nos EUA, um entre cada quatro deles sofre de depressão. Por lá, o universo é de 700 mil profissionais. No Brasil, são 400 mil.

Considerando essa complexa realidade, o fato é que, embora as novas tecnologias tenham surgido na teoria para facilitar e aperfeiçoar o trabalho do médico diante do paciente, os dois lados estão insatisfeitos.

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Mas será que não é possível usar a inovação a favor de uma melhoria no relacionamento médico-paciente? Acredito que a resposta esteja no uso inteligente das chamadas ferramentas de comunicação síncronas — localizadas no mesmo tempo, não necessariamente no mesmo espaço, como consultas presenciais, por telefone, teleconsultas etc. — e assíncronas, aquelas que não ocorrem no mesmo tempo, caso de e-mails, sistemas de mensagem por texto, voz e imagens…

Ao otimizar o uso dessa miríade de canais de forma estratégica, o médico ganha tempo e, ao mesmo tempo, conquista a confiança do paciente. Um exemplo já bastante comum é o uso de canais online para conferência de exames de laboratório e troca de mensagens com o paciente pós-consulta, o que economiza o tempo de um retorno, para ambos os lados. 

É importante ressaltar que as orientações online são permitidas desde 2002, só que algumas limitações são expostas. As informações de um paciente, por exemplo, podem apenas ser repassadas para outro médico se o mesmo permitir que elas possam ser utilizadas. E também o profissional da área da saúde deve ser o responsável pela discrição e pelo sigilo das informações.

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Outra tecnologia que pode (e deve) ser usada a favor é a Inteligência Artificial (IA). Apesar de ser frequentemente apontada como possível nova ameaça para a relação médico-paciente, quando usada de forma estratégica, a IA pode ajudar no processo de diagnóstico e eleição do tratamento e gerar para os profissionais uma economia de tempo, que poderá ser revertida em maior proximidade na relação com o paciente.

Independentemente das inovações que surgem a cada dia, o urgente é restabelecer a essência do trabalho de quem escolhe a saúde como profissão. Para isso, o sistema como um todo precisa contribuir. Lembrando que nenhuma tecnologia jamais substituirá as relações humanas e tudo que elas constroem para a assistência ao paciente. 

* Jimmy Cygler é presidente institucional da Proxismed, empresa especializada em jornada de relacionamento em saúde e foi professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) 

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