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Tchau, papanicolau: por que é preciso ampliar o uso do teste de DNA do HPV

Método de coleta fácil pode revolucionar acesso ao rastreamento de lesões pelo vírus e do câncer de colo de útero no país, argumenta médica

Por Stephani Caser, ginecologista*
28 jun 2023, 17h14
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Exame de DNA do HPV com tecnologia PCR tem maior sensibilidade que o papanicolau.  (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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O câncer de colo do útero é uma preocupação global: afeta milhares de mulheres todos os anos. No Brasil, a doença é o terceiro tipo de tumor mais prevalente em mulheres, chegando a ser a segunda causa de morte por câncer nas regiões de baixo índice de desenvolvimento humano (IDH).

O rastreamento tradicional do problema é feito pelo papanicolau, um exame realizado em consultório médico que, infelizmente, não é acessível a boa parte das brasileiras.

No entanto, uma nova abordagem para flagrar a doença mais cedo poderá contribuir para revolucionar o diagnóstico e mudar esses dados. Falo da análise do DNA-HPV, método de coleta mais fácil cuja amostra é submetida à tecnologia de reação em cadeia da polimerase (PCR), que ficou mais famosa após os testes de Covid-19.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu o DNA-HPV por PCR como método de primeira escolha para o rastreamento do câncer de colo do útero. Não à toa, a técnica foi adotada de forma exclusiva como rastreamento por mais de 50 países e outros 60 estão em fase de substituição do  papanicolau.

Por exemplo, na Austrália, onde a incidência de câncer cervical tem diminuído significativamente, o DNA-HPV por PCR desempenhou um papel crucial.

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Por meio da sua implementação junto à estratégia da autocoleta vaginal, houve redução expressiva nos casos de lesões pré-cancerosas e de câncer de colo do útero, levando a uma importante diminuição na mortalidade associada a essa doença.

Outro exemplo notável é o Reino Unido, onde a adoção do DNA-HPV por PCR também trouxe resultados animadores. Estima-se que a detecção precoce e o tratamento oportuno tenham evitado cerca de 5 mil casos de câncer cervical por ano, além de salvar inúmeras vidas.

Esses cases destacam a eficácia do método em diferentes contextos epidemiológicos e sociodemográficos.

Limitações do papanicolau

Atualmente, o rastreamento predominante no Brasil é por meio do papanicolau, que, apesar de ser amplamente utilizado, apresenta limitações devido à baixa adesão das pacientes e a seu nível de sensibilidade.

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Isso significa que há risco de falsos negativos, quando mulheres com lesões precursoras ou infecção pelo HPV podem não ser detectadas, resultando em um diagnóstico tardio e tratamento pouco eficaz.

Enquanto o papanicolau possui taxa de acurácia em torno de 50 a 60% por ser examinador dependente (ou seja, depender da experiência do profissional que está coletando a amostra), o DNA-HPV é significativamente mais sensível, chegando a 98%. Colhe-se a amostra, e a própria mulher pode fazê-lo, e ela é enviada ao laboratório.

+ LEIA TAMBÉM: O papel da vacina do HPV na prevenção do câncer

A incorporação massiva dessa tecnologia seria especialmente bem-vinda ao Brasil, onde o câncer de colo do útero representa um problema de saúde pública. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), são previstos 17 010 novos casos em 2023, com taxa de mortalidade em torno de 18%.

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O impacto do HPV

Cerca de 80% das mulheres brasileiras com atividade sexual terão contato com o HPV durante a vida. São número impactantes, principalmente quando lembramos que se trata de uma doença com história natural crônica e altamente prevenível.

Aproximadamente 92% dos casos de câncer cervical são passíveis de cura se diagnosticados precocemente, e nada melhor do que detectar seu principal causador, o HPV.

Com mais de 200 tipos de HPV conhecidos na atualidade, os vírus de alto risco são responsáveis por mais de 90% dos casos de câncer cervical, 90% dos casos de câncer anal, e 70% dos casos de câncer de boca e garganta.

A vacinação contra o HPV tem caráter preventivo, e não curativo, e no território nacional encontramos o imunizante quadrivalente (cobertura para 4 tipos, oferecido pelo SUS) e o nonavalente (cobertura para 9 tipos, em clínicas privadas).

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Ou seja, devemos, sim, investir em prevenção primária, com os métodos de barreira (preservativos) e a vacinação sendo estimulados, mas não isso não nos isenta de somar esforços à prevenção secundária, o rastreamento.

A implementação dos testes de DNA-HPV por PCR no Brasil tem o potencial de superar as limitações presentes na coleta do papanicolau, pois, além da maior sensibilidade, o método permite a prática de uma nova estratégia validada cientificamente para o rastreamento do câncer de colo do útero: a autocoleta vaginal.

Isso significa romper com um dos principais obstáculos ao controle da doença no país, a dificuldade de acesso e os desconfortos associados ao exame convencional, relatados por mais de 13% da população feminina.

Abordagens inovadoras como a análise do DNA-HPV são urgentes e necessárias para o Brasil e outros países da América Latina. Com elas poderemos ser mais assertivos e decisivos na erradicação do câncer cervical.

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* Stephani Caser é ginecologista, mestra e doutora pela Unifesp e fundadora da healthtech See Me

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