Síndrome de Sjögren: quando a boca e os olhos ficam secos
Essa doença autoimune é confundida com muitos outros problemas. Veja seus sintomas e como diferenciá-los
A Síndrome de Sjögren é uma doença que compromete principalmente as glândulas que produzem lágrimas e saliva. Em resumo, elas deixam de funcionar adequadamente, o que causa sintomas como secura nos olhos e na boca.
É uma doença crônica que ocorre por uma alteração no sistema imunológico, que passa a causar inflamação e um funcionamento não adequado principalmente das glândulas mencionadas.
As causas por trás disso ainda são pouco conhecidas. Mas pesquisas indicam que, em pessoas predispostas geneticamente, fatores ambientais como infecções virais e alterações hormonais e emocionais podem desencadear a doença.
Ela acomete nove mulheres para cada homem, especialmente na faixa etária entre os 40 e 60 anos, porém pode ocorrer em qualquer idade. A prevalência é de 0,03% a 4,5% dependendo da região avaliada e dos critérios utilizados para o diagnóstico. É uma variação enorme!
A síndrome de Sjögren pode acontecer isoladamente ou associada a outras doenças reumáticas, como a artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistêmico e a esclerodermia.
Geralmente, as pessoas demoram para reconhecer que fadiga ocular, sensação de areia, coceira vermelhidão, embaçamento da visão e sensibilidade à luz são sinais de olho seco. Da mesma forma, ardência na língua, feridas nos cantos da boca, infecções fúngicas, dificuldade para mastigar e engolir alimentos sólidos e cáries frequentes podem acusar a boca seca.
A secura, aliás, estende-se à pele, à região vaginal e ao trato respiratório, o que causa tosse seca e irritativa principalmente à noite. A terceira manifestação clínica mais frequente na Síndrome de Sjögren é um cansaço intenso, caracterizado por exaustão e dificuldade para fazer as atividades da vida diária.
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Há, em média, uma demora de 6 a 10 anos para que o diagnóstico da doença ocorra. Um dos motivos é o desconhecimento sobre a doença, mas outro envolve principalmente as características clínicas apresentadas pelos pacientes, que são comuns em situações mais prevalentes, como fibromialgia, hipotireoidismo, diabetes, menopausa e uso de medicamentos para depressão, alergias e pressão arterial.
Cerca de metade dos pacientes com Síndrome de Sjögren podem manifestar acometimento em outros sistemas, como articulações, pele, pulmões, rins, pâncreas, fígado, sistema digestivo, sistema hematológico e o sistema nervoso central e periférico.
Todas as pessoas com sinais e sintomas de olho seco, boca seca – associado ou não à fadiga – devem ser investigadas para várias doenças, inclusive para Síndrome de Sjögren.
Para fechar o diagnóstico, o reumatologista conta com a ajuda do oftalmologista, que lança mão de exames que confirmam que o olho do paciente está seco. Também é necessário avaliar o fluxo salivar, ou seja, a quantidade de saliva produzida em dado tempo. Outro exame é o que pesquisa a presença de autoanticorpos como o anti Ro/SSA no sangue, indicador da Síndrome de Sjögren.
Mas, caso o anticorpo (anti Ro/SSA) venha negativo e a suspeita no diagnóstico permaneça, o reumatologista pode prosseguir com a investigação e solicitar uma biópsia da chamada glândula salivar menor. É uma técnica cirúrgica minimamente invasiva que ajuda na comprovação do diagnóstico.
O tratamento consiste principalmente no controle dos sintomas. Orientações como piscar os olhos, evitar ficar longos períodos no celular e no computador e usar óculos escuros sempre que sair em ambientes ensolarados são importantes.
Para a saúde da boca, pode-se usar saliva artificial, estimulantes para produção de saliva (como chicletes com xilitol) e higienização oral cuidadosa em casa. Pelo menos a cada três meses, vale visitar o cirurgião dentista.
Já para a pele e a região vaginal, recomenda-se o uso diário de cremes ou gel hidratantes. Existem produtos específicos para pessoas que apresentam secura – converse com o seu reumatologista.
Mas e a fadiga? Estudos científicos mostram que exercícios físicos ajudam a amenizar essa sensação.
O tratamento com medicações sistêmicas, quando necessário, será orientado pelo reumatologista. Aliás, esse é o médico especialista no tratamento de pacientes com síndrome de Sjögren. Cabe ressaltar, no entanto, que o tratamento é multidisciplinar e necessita da participação do oftalmologista, do cirurgião dentista, do ginecologista, do fisioterapeuta e do educador físico.
*Virgínia Moça Trevisani é médica reumatologista, membro da Comissão Científica da Sociedade Paulista de Reumatologia SPR e Coordenadora da Comissão de Síndrome de Sjögren pela Sociedade Brasileira de Reumatologia.