Sequela do AVC, babação excessiva pode ser tratada com toxina botulínica
Casos mais comuns do problema conhecido como sialorreia estão relacionados às sequelas de AVC e doenças neurológicas
Algumas pessoas sofrem com a sialorreia, caracterizada pelo escape de saliva para fora da boca (babação), que pode ocorrer por causa de produção de saliva em excesso ou dificuldade de deglutição (disfagia).
A condição é comum em indivíduos que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC) ou são portadores de doenças neurológicas como Parkinson, paralisia cerebral e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Uma das formas de tratamento dessa condição envolve o uso da toxina botulínica A, popularmente conhecida como botox. Amplamente utilizada em procedimentos estéticos, a substância é empregada há mais de duas décadas no controle da sialorreia.
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A toxina botulínica A é uma medicação injetável, produzida a partir da bactéria Clostridium botulinum que tem inúmeras indicações.
Além da ação em músculos, a toxina atua em glândulas sudoríparas, lacrimais e salivares, sendo esta última o foco da aplicação para reduzir a secreção de saliva.
A intervenção é antecedida de uma criteriosa avaliação do paciente para identificar o grau da sialorreia, que pode ser classificada em leve, moderada ou severa.
Considerado conservador e eficaz, o procedimento raramente leva a eventos adversos. Quando acontecem, são leves e de resolução espontânea, como equimose (roxo) e sensibilidade no local da aplicação ou boca seca.
A chance de uma complicação grave como anafilaxia é descrita na literatura científica como raríssima.
De onde vem a saliva e como pará-la
Os seres humanos têm três pares de glândulas salivares maiores (parótidas, submandibulares e sublinguais) e glândulas salivares menores.
As glândulas parótidas e submandibulares são responsáveis por 90% da produção total da saliva. São elas o alvo da toxina, que deve ser bem dosada para reduzir o fluxo salivar e não secar a boca do paciente, uma vez que a saliva exerce um papel importante na saúde bucal.
Diante de sua produção em excesso, existem outras alternativas além do botox. Entram na lista o uso de medicamentos anticolinérgicos, radioterapia e cirurgias para excisão parcial ou total das glândulas salivares.
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Contudo, os anticolinérgicos apresentam efeitos colaterais, como cefaléia, retenção urinária, constipação, perda de acomodação visual e olho seco. A cirurgia, por sua vez, é uma opção considerada radical.
Vale observar a toxina botulínica tem um tempo de ação médio de 3 a 5 meses, que pode variar de pessoa para pessoa. O cirurgião-dentista responsável vai determinar o intervalo de aplicação de acordo com cada caso.
O botox no SUS
Atualmente, a toxina botulínica A consta nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) como principal opção terapêutica em casos de distonias, por exemplo, e outras patologias.
Porém, o cirurgião-dentista não está inserido como apto a prescrever e realizar o procedimento na rede pública. Isso dificulta o acesso dos pacientes ao tratamento, sendo que não há uma lei federal para tal.
No entanto, muitos profissionais conseguem, através da rede pública, em hospitais ou outras unidades, solicitar e realizar o procedimento. É de suma relevância que o governo federal inclua o cirurgião-dentista como profissional prescritor da toxina botulínica no SUS para que a população tenha maior acesso a essa opção terapêutica.
* Karina Ferrão é cirurgiã-dentista, conselheira efetiva e secretária do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)