Sem cura, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) exige detecção precoce
O diagnóstico da DPOC é mais confuso do que parece, principalmente entre os fumantes. Mas fazê-lo precocemente é muito importante para o tratamento
O tabagismo traz uma série de malefícios para o corpo. Além do câncer de pulmão, condição mais conhecida pela população, existe a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), antigamente chamada de bronquite e enfisema pulmonar. Apesar de matar três brasileiros a cada minuto, a condição é negligenciada¹.
Para entender melhor esse crítico cenário, basta atentar-se aos números. Cerca de 80% das pessoas nem sabem que têm DPOC, sendo que apenas 12% dos pacientes recebem o diagnóstico e 18% seguem o que foi prescrito pelo médico¹.
O quadro, que começa com uma tosse, geralmente associada a pigarro ou catarro, intensifica-se com o tempo. Como quem é tabagista liga esses sintomas a consequências naturais do hábito de fumar, o diagnóstico da condição acaba sendo omitido.
Com o tempo, a dificuldade para respirar aumenta, assim como o cansaço para executar qualquer tipo de tarefa. Atividades simples do cotidiano, como vestir uma roupa ou calçar um sapato, viram desafios exaustivos. Esse é um sinal de que a doença está progredindo.
A DPOC é caracterizada por uma obstrução persistente dos brônquios ligada a uma inflamação crônica das vias aéreas em resposta a partículas e gases nocivos. Ela é a quarta causa de internação no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2018, mais de 110 mil pessoas foram admitidas nos hospitais públicos do país, com um custo total de mais de R$ 100 milhões². Por ano, morrem quase 45 mil brasileiros devido à DPOC².
O diagnóstico da condição é feito pela espirometria ou teste de função pulmonar, exame no qual o indivíduo assopra em um aparelho que mede a capacidade dos órgãos responsáveis pela respiração.
Como 80% dos casos têm como principal causa o cigarro, é fundamental tratar o tabagismo. Isso também vale para o narguilé, já que uma hora usando o instrumento equivale a fumar 100 cigarros de uma única vez. A exposição prolongada e constante a outros tipos de substâncias advindas da fumaça (fornos a lenha ou carvoarias) ou da poluição também podem desencadear a DPOC.
Apesar de não ter cura, a doença pode ser tratada. E, quanto antes acontece o diagnóstico, mais eficaz costuma ser o tratamento, que visa reduzir a velocidade de progressão da DPOC.
Faz parte do tratamento a prática de exercícios físicos regulares e a vacinação contra gripe e o pneumococo. Isso para prevenir as doenças que mais frequentemente desencadeiam as exacerbações (crises de piora, geralmente após infecções respiratórias ou exposição à poluição do ar).
A base da terapia medicamentosa inclui o uso de broncodilatadores por via inalatória, os quais proporcionam alívio dos sintomas. Eles podem ser empregados isoladamente, ou associados a um corticoide inalado, no caso de pacientes com histórico de exacerbações ou crises.
Mais recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro de um novo remédio que traz um avanço significativo no tratamento e na adesão dos pacientes. Por quê? Ele traz, em um mesmo dispositivo inalatório em spray, uma combinação tripla (dois brondilatadores e mais um corticoide). As doses são fixas e administradas duas vezes ao dia.
*José Eduardo Delfini Cançado é pneumologista, professor e pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
Referências:
1. Projeto Latino-americano de Investigação em Obstrução Pulmonar. [acesso em 30 de Outubro de 2019]
2. DATASUS [acesso em 30 de Outubro de 2019]
3. COPD Foundation [acesso em 30 de Outubro de 2019]