Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

Reumatologistas ainda são poucos e raros no Brasil

No Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo, médico explica o papel da especialidade e por que precisamos ampliar a oferta e o acesso a esse profissional

Por Jayme Fogagnolo Cobra, reumatologista*
Atualizado em 30 out 2020, 14h35 - Publicado em 30 out 2020, 09h38
Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo
Doenças como artrite reumatoide e espondilite anquilosante exigem acompanhamento com um reumatologista. (Foto: Alex Silva/SAÚDE é Vital)
Continua após publicidade

Parece no mínimo paradoxal comemorar o Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo em um país em que pode haver mais de 20 milhões de pessoas acometidas por doenças reumáticas e, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), existem cerca de 2 400 especialistas disponíveis para atendê-las. O cenário fica pior quando pegamos dados do IBGE e da Previdência Social mostrando que os problemas reumáticos representam a segunda maior causa de solicitações de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez no Brasil.

Para complicar, desse número total de reumatologistas citado acima, mais da metade se concentra em São Paulo e atende em consultórios particulares. Qual é o motivo de tamanha discrepância?

Primeiro, a falta de conhecimento sobre o reumatismo, termo que na verdade abrange mais de 120 tipos de doenças que podem estar ligadas a articulações, músculos, ligamentos, tendões ou ao próprio sistema imunológico. Falamos de um universo que compreende artrites, dores nas costas, tendinites e bursites causadas por esforços repetitivos e doenças inflamatórias autoimunes. E que engloba estudos bioquímicos e cruzamentos com outras especialidades.

Muitas vezes, a dor e o inchaço numa articulação vêm de um problema autoimune, por exemplo. Uma dor contínua nas costas pode ser o primeiro sintoma de uma condição chamada espondilite anquilosante. A questão é que essas doenças precisam de um reumatologista para fazer o diagnóstico precocemente. Em geral, as pessoas com esses sintomas procuram o ortopedista, que cuida mais de traumas. Nós, reumatos, é que tratamos das “ites” que têm causas inflamatórias. Em meio a essa busca equivocada, brasileiros ficam sem diagnóstico e tratamento adequados.

Outro mito em torno das doenças reumáticas é pensar que elas se restringem aos idosos. Não é verdade. Elas surgem em sua maioria por um mau funcionamento do sistema imunológico, podendo aparecer em qualquer idade e não acometer só as juntas. Assim, provocam dores e outros sintomas, além de abalar a qualidade de vida, inclusive em pessoas mais jovens.

Continua após a publicidade

Um terceiro aspecto, e que reflete o que apontei há pouco, é que o acesso ao especialista, tanto no sistema público como no privado, ainda é muito difícil. Aprendi com os ensinamentos do meu avô, o professor Castor Jordão Cobra, um dos pioneiros nos estudos e no tratamento das doenças reumáticas no país, que a reumatologia deveria seguir um caminho democrático. Portanto, é importante consolidar serviços mais completos, que atuem também em hospitais e possam ampliar exponencialmente o acesso aos cuidados nessa área.

Inclusive em tempos de adversidade como o da pandemia de Covid-19. Quando o coronavírus chegou ao Brasil, os reumatologistas tiveram de assegurar e resguardar seus pacientes com respostas imediatas. Por isso, a minha equipe assistiu e leu inúmeras discussões de como o novo vírus poderia afetar pacientes em tratamento de doenças autoimunes. Assim como milhares de outros médicos ao redor do mundo, refletimos e elaboramos estratégias para protegê-los.

Nesse contexto, realizamos um estudo prospectivo com 100 pacientes em tratamento de doenças autoimunes desde o início da epidemia, que foram monitorados durante quatro meses. Mensuramos os anticorpos, testamos a presença do vírus e concluímos que durante o pico da pandemia os pacientes se comportaram como o restante da população. Nenhum deles evoluiu para um quadro grave ou precisou ser internado.

Continua após a publicidade

Dos 18 que foram infectados pelo Sars-CoV-2, quatro tiveram a doença de forma branda e 14 evoluíram assintomáticos. Os resultados dessa pesquisa, conduzida pela Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra, a Dasa e o Hospital Santa Paula, se somam a outras evidências internacionais que guiaram a continuidade dos tratamentos de forma segura e embasada nesses pacientes.

Eu e todos os especialistas que participaram do estudo acreditávamos que mesmo com o pequeno número de 2 400 profissionais pelo país ainda podemos provar para essas mais de 20 milhões de pessoas que sim, somos poucos, raros, mas estamos aqui para servir e ampliar cada vez mais o acesso a quem sofre com essas doenças crônicas.

E vamos continuar nossos trabalhos e esforços para que qualquer pessoa acometida por uma doença reumática possa se sentir acolhida e segura, nutrindo a esperança de que um dia esses números se invertam e possamos oferecer uma assistência mais democrática.

* Jayme Fogagnolo Cobra é reumatologista, diretor da Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra, em São Paulo, e líder de um grupo de mais de 40 médicos que atuam em oito hospitais da região Sudeste

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.