Em 1998, o Commonwealth Fund ouviu 1 500 homens americanos e 24% deles disseram não ter ido ao médico no ano anterior e que, no pouco contato com os profissionais, não haviam recebido informações sobre cuidados preventivos para doenças potencialmente fatais.
Há 24 anos, a pesquisa apontava que quatro entre dez homens na faixa etária para a qual se indica o rastreamento do câncer de próstata não tinham feito exames com essa finalidade.
Já naquela época o estudo identificou que muitos médicos não aconselhavam os pacientes sobre hábitos e medidas para melhorar a saúde e prevenir problemas. Boa parte dos entrevistados não havia sido submetida a um exame de colesterol e um terço dos fumantes disse que o médico nem sequer falou sobre os riscos do tabagismo.
Nas entrevistas, porém, ficou claro quanto os homens confiavam no médico para se cuidar — ou seja, os profissionais poderiam ter se aproveitado dessa confiança para orientar melhor seus pacientes.
Fiz essa introdução, voltando até 1998, para destacar o impacto da campanha Novembro Azul, criada no Brasil pelo Instituto Lado a Lado pela Vida há 11 anos, no comportamento e na saúde dos homens.
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Com uma década de movimento no país, em 2021 fizemos uma pesquisa com mil brasileiros de 18 a 65 anos e ela constatou que 77% desse público já sabia que o meio de monitorar a próstata é o exame de toque retal. A maioria desses homens reconhece a importância do exame a ponto de perder o medo, a vergonha e a preocupação com o julgamento dos amigos — apenas 4% dos respondentes disseram ter medo de dor, 2% tinham receio de descobrir o câncer e 10% declararam ter vergonha de fazer o toque.
Se de um lado a pesquisa mostrou que a informação está chegando aos homens, por outro percebemos que um bom número deles continua descoberto no cuidado com a próstata: 61% dos brasileiros acima de 45 anos disseram nunca ter feito um toque retal por falta de indicação médica; apenas 37% fizeram o exame, índice menor entre os atendidos pelo SUS (26%).
Assim, ainda vivemos um cenário assustador, em que muitos médicos não recomendam o exame que detecta o câncer de próstata. E isso me impulsiona a fazer um apelo para que esses profissionais orientem seus pacientes sobre a importância da medida para o diagnóstico precoce da doença. Afinal, não há prevenção primária para esse tipo de câncer, que afeta um em cada seis homens ao longo da vida.
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O toque retal e a dosagem de PSA no sangue — e a confirmação com biópsia em caso de suspeita — são as ferramentas para descobrir um tumor em fase inicial, o que possibilita mais de 90% de chance de cura de uma enfermidade que matou mais de 18 mil brasileiros em 2020.
A prevenção e o controle do câncer são vistos hoje como prioridades dentro dos objetivos de desenvolvimento sustentável e do plano de combate a doenças crônicas estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). A pergunta que fica é: por que ainda tantos médicos deixam de orientar os homens a fazer exames capazes de salvar vidas?
* Marlene Oliveira é fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, criador da campanha Novembro Azul