Há pouco mais de uma década, as crianças diagnosticadas com pé torto congênito enfrentavam uma verdadeira maratona de procedimentos – muitas vezes longos, dolorosos e com desfechos clínicos pouco satisfatórios.
A medicina evolui a passos largos e a cada dia surgem novas tecnologias, mas, especificamente nessa doença, um tratamento mais conservador, simples, de baixo custo e relativamente rápido vem registrando bons resultados em 95% dos casos, garantindo completa recuperação física e funcional ao paciente.
A doença
No Brasil, um a cada mil bebês recebe esse diagnóstico, que é o mau alinhamento do pé, e envolve partes moles e ósseas. Trata-se de uma das deformidades mais comuns em recém-nascidos.
Estatísticas mostram que a má formação acomete duas vezes mais meninos do que meninas. Sua etiologia ainda é desconhecida, mas estudos sugerem que fatores genéticos e ambientais (como a posição que a criança fica no útero) podem levar à condição. E é justamente nesse momento em que temos o diagnóstico, ou seja, ainda durante a gestação.
Na cidade de São Paulo, antes da alta da maternidade pública, as mães das crianças que nascem com pé torto congênito recebem uma guia com o agendamento da primeira consulta no Programa Municipal de Pé Torto do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus.
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Essa medida faz parte de um programa que nasceu pela parceria entre o hospital e o Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês (IRSSL), responsável pela gestão da unidade, há 15 anos, e que vem promovendo avanços expressivos não só na gestão da unidade como no padrão de excelência clínica.
Responsável por fazer uma avaliação completa do bebê e planejar todo o tratamento, o hospital é uma das principais referências nessa patologia e atende cerca de 130 novos casos por ano.
O tratamento
Até meados de 2010, tratava-se a criança através de cirurgias, e era preciso submeter o paciente a vários procedimentos.
A partir daí, adotamos o método Ponseti para esses casos. O tratamento, que começa logo nos primeiros dias de vida do bebê, é planejado e desenvolvido pela equipe do ambulatório especializado por meio de uma linha de cuidado multidisciplinar que inclui: pediatra, ortopedista, psicólogo, assistente social, técnico em gesso e equipe de enfermagem.
A técnica é bastante simples, menos invasiva e de baixo custo. Consiste na manipulação suave dos pés, alongando os músculos e os tendões. A cada semana, os membros são colocados em posição diferente, até que alcancem o alinhamento e a abertura ideais.
O gesso é aplicado por um ortopedista especialista nos pés e nas pernas do paciente, cuidadosamente, para evitar qualquer desvio no movimento. São realizadas sucessivas trocas de gesso para trazer o pé invertido progressivamente à posição correta. Por mês, realizamos em média 60 procedimentos como esse, com gesso, e cerca de sete cirurgias.
Na última troca de gesso, que pode ocorrer em até seis semanas do início do tratamento, dependendo do caso de cada paciente, fazemos uma cirurgia minimamente invasiva complementar no tendão, chamada de tenotomia – é um procedimento cirúrgico bem simples mesmo.
Por fim, a criança usa órtese, que parece uma botinha, até os 4 anos de idade. Sem dor, sem comprometer o seu crescimento e sem interferir no desenvolvimento físico.
Já são mais de mil crianças tratadas do pé torto congênito no hospital. Para nós, um avanço significativo, conquistado ao longo de anos com muita dedicação para atender as crianças da cidade de São Paulo nesta condição.
Trabalhamos focados em garantir atendimento de qualidade e a máxima excelência em todos os processos, proporcionando saúde e mais qualidade de vida aos nossos pacientes.
*Debora Gejer é coordenadora médica do ambulatório de especialidades do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus (HMIMJ), e Alessandra Geisler Daud Lopes é gerente médica do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus (HMIMJ).