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Peso não é o principal indicativo para avaliar o crescimento do feto

Obstetra explica por que esse fator está longe de ser o mais decisivo ao analisar o crescimento e a saúde do bebê que está na barriga da mãe

Por Bruna Pitaluga, obstetra*
Atualizado em 16 mar 2023, 17h15 - Publicado em 15 jan 2023, 09h26

Ao engravidar, a gestante imediatamente pensa no peso do seu bebê ao nascer. Será gordinho? Bochechudo? Afinal, por razões culturais, essa característica é encarada como sinal de saúde em nossa sociedade.

Mas será que esse número importa tanto assim? Para isso, preciso que vocês entendam o que de fato representa o peso desse bebê durante a gestação.

O início da história

Quando o óvulo é fecundado pelo espermatozoide, dois materiais genéticos se fundem, resultando em um conjunto de células único. Esse emaranhado dará origem aos órgãos do bebê, como cérebro, fígado, ossos, pele, etc.

Intrinsecamente, todos nós temos um potencial de estatura pré-determinado. Sendo assim, filhos de pessoas altas costumam ser mais altos. O contrário também é verdadeiro: adultos baixos tendem a gerar filhos mais baixos.

Apesar disso, durante toda a gestação as células fetais precisam de nutrientes para funcionarem de forma adequada. Eles são passados da mãe para o feto através da placenta, de forma controlada e rígida.

+ Leia também: Pré-natal: quais os exames que toda grávida deve fazer?

Alguns nutrientes são mais importantes do que outros, como folato (a vitamina B9), ferro, vitamina D, vitamina A, zinco, selênio, magnésio, ômega-3, colina e outras vitaminas do complexo B. Esse grupo é a base do funcionamento celular junto aos macronutrientes (ou seja, proteínas, carboidratos e gorduras).

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No primeiro trimestre de gravidez, esse combo é, portanto, essencial para que uma célula vire pele, osso, coração ou fígado e por aí vai.

É hora de “bombar”

No final do segundo trimestre, o bebê já está maior, chegando a pesar aproximadamente 1 000 gramas.

Esse trimestre se caracteriza pela mudança metabólica fetal – ou seja, o mais importante agora é a hipertrofia, de forma lenta e gradual. O bebê vira quase um fisiculturista.

O metabolismo materno também precisa se adaptar a esse momento, e isso ocorre através de sinalizações hormonais produzidas pela placenta.

Um dos hormônios mais importantes durante essa fase é a insulina, que começa a ter a sua sensibilidade reduzida no corpo da mãe, o que aumenta a disponibilidade de glicose para o feto.

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+ Leia também: O que é sofrimento fetal

Ele consome macro e micronutrientes em quantidades consideráveis para dar suporte ao ganho de quase 2 000 gramas de peso em menos de 10 semanas.

Imaginem o preparo hormonal e metabólico para que isso aconteça! É preciso uma grande disponibilidade de proteínas para a expansão de pele e órgãos e uma dose expressiva de carboidratos para a replicação celular.

Cérebro é prioridade

Nessa mesma fase, o cérebro exige bastante energia e muitos nutrientes para o seu crescimento e desenvolvimento. Inclusive, no terceiro trimestre, esse órgão é o maior consumidor de nutrientes do bebê.

Isso ocorre porque, entre todas as espécies animais, o ser humano é o que tem o cérebro mais complexo. Por isso, a placenta precisa desenvolver mecanismos para receber e repassar vitaminas e minerais em grande quantidade.

Vale destacar que a placenta humana é invasora: gruda na parede do útero materno, exatamente por causa da necessidade de liberar nutrientes ao cérebro humano.

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Essas são relações fisiológicas que devem acontecer de forma natural em todas as gestações. É assim que o processo se dá há milhares de anos.

+ Leia também: Como identificar o trabalho de parto efetivo

Mas, hoje, nem tudo é tão simples

Estamos vivenciando uma pandemia de fome oculta, caracterizada pela deficiência de micronutrientes e um aumento no fornecimento de carboidratos.

Essa situação tão peculiar faz com que pessoas com peso normal ou até mesmo com sobrepeso/obesidade possam ser consideradas desnutridas.

Estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas em todo mundo sofram com algum grau de desnutrição decorrente de fome oculta. E esses dados provavelmente estão subestimados, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

Mulheres e crianças são os grupos mais afetados por essa desnutrição. Isso em decorrências de políticas de saúde que desconsideram esses dados epidemiológicos e não praticam boas orientações de suplementação durante o pré-natal.

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Vamos voltar para ao bebê dentro do útero. Lembra que comentei que um bebê precisa receber macronutrientes (proteína, gorduras e carboidratos) e micronutrientes (vitaminas e minerais) para crescer e evoluir? E que todas as células demandam um mínimo de nutrientes em cada etapa do seu desenvolvimento para que alcancem o seu potencial de crescimento?

Sendo assim, mulheres desnutridas geram filhos desnutridos – e essa cadeia se perpetua por gerações.

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Reflexos no bebê

A partir de 16 semanas de gestação, os bebês começam a ter os seus corpos medidos de forma padronizada: circunferência cefálica, abdominal e comprimento do fêmur.

Essas medidas dão uma estimativa de peso fetal, que é utilizado para saber se o bebê está crescendo bem.

Agora, raciocinem comigo: se, hoje, não temos esse aporte nutricional adequado, e as mulheres não possuem os nutrientes necessários para a gestação se desenvolver, o que acontece com o bebê? Ora, ele precisa se adaptar às condições de deficiência nutritiva.

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O órgão mais importante para a gestação humana é o cérebro fetal (lembra que a gestação humana é mais complexa do reino animal por causa dele?). Logo, em situações de falta de nutrientes, o pouco que a placenta recebe do metabolismo materno é direcionado ao cérebro da criança.

Dessa maneira, a circunferência cefálica costuma ser mantida – mesmo em situações de desnutrição. Mas, apesar de o cérebro ser poupado, outros órgãos não têm a mesma sorte. O fígado do feto é um dos primeiros órgãos a deixar de receber esses nutrientes.

+ Leia também: É possível engravidar após um câncer de mama?

Durante a vida intrauterina, o abdômen do feto é composto por quase 2/3 do volume hepático. Quando o fígado deixa de receber os nutrientes, o abdômen não cresce – na verdade, começa a reduzir de tamanho. Assim, cria-se uma desproporção da cabeça com o abdômen do feto. O peso da criança? Segue normal.

E é por isso que chamo a atenção para o fato de que o peso fetal não pode ser considerado o principal indicativo de desenvolvimento do feto.

Durante o pré-natal, portanto, é fundamental estar atento ao crescimento do feto (mas de maneira correta, sem olhar somente para o peso!), para que possamos intervir o mais breve possível, permitindo que o ambiente intrauterino seja adequado para a evolução plena do bebê.

*Bruna Pitaluga é obstetra pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduada em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e especialista em Medicina Funcional pelo Instituto de Medicina Funcional (IFM), nos Estados Unidos

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