De acordo com a Fundação Internacional da Osteoporose (IOF–International Osteoporosis Foundation), a doença afeta 200 milhões de pessoas no mundo, sendo 10 milhões somente no Brasil. Estima-se que 30% das mulheres terão alguma fratura relacionada à fragilidade óssea após os 50 anos, enquanto esse percentual cai para menos da metade em homens da mesma idade.
A osteoporose é uma doença pouco sintomática, percebida com clareza apenas após uma fratura por trauma de baixo impacto. Talvez, por isso, seja pouco tratada e tenha seu diagnóstico muito tardio.
A falta de consciência por parte de muitos profissionais da saúde sobre as consequências devastadoras e incapacitantes das fraturas osteopóroticas não desperta a atenção para uma prevenção diferenciada.
De olho nisso, médicos de qualquer especialidade, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e professores de educação física que conhecem a osteoporose podem (e devem) agir dentro de suas áreas de atuação na prevenção e na educação de pacientes e demais profissionais da saúde.
Quanto mais cedo começa a preocupação com a prevenção, maiores são as chances de evitar as fraturas.
Apesar de a osteoporose ser mais frequente nos idosos (mulheres após a menopausa e homens acima dos 65 anos), ela pode aparecer em qualquer idade como consequência de outras doenças que exigem repouso prolongado ou que impedem a realização de exercícios. Esses fatores também geram grande impacto em populações mais idosas e, portanto, mais vulneráveis.
Como combater
Temos dois momentos críticos: o primeiro é na prevenção da doença, fase em que é fundamental manter uma boa ingestão de alimentos ricos em cálcio. O leite e seus derivados seriam os melhores representantes desses alimentos. A atividade física, com exercícios resistidos ou de impacto, é fortemente recomendada. Além disso, é necessário manter níveis adequados de vitamina D, para permitir a absorção do cálcio ingerido.
No segundo momento, em que o paciente já tem a doença, é importantíssimo evitar as fraturas por meio de treino de equilíbrio e de marcha, além do uso de medicamentos específicos. O risco de fratura deve ser avaliado de forma individualizada em todos os perfis da população.
Assim como outras doenças com alto impacto na saúde pública, a osteoporose também precisa estar no radar dos gestores de saúde.
O tema exige uma atenção especial para que protocolos e diretrizes de tratamento estejam sempre atualizados, seja via ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), na regulamentação do que é coberto pelas operadoras de planos de saúde, ou pela CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS), que determina o que é incluído no SUS.
Esses processos, que contemplam em seus ritos a realização de consultas públicas com participação de toda a sociedade, representam uma janela de oportunidade de se ouvir os pacientes, seus cuidadores e ainda médicos e demais profissionais da saúde sobre a importância de disponibilizar acesso a terapias mais inovadoras.
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E, particularmente neste ano, temos tido muitas novidades para o tratamento da osteoporose no Brasil: o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de Osteoporose no SUS, que ficou por anos sem avaliação ou mudança, encontra-se em atualização, com a inclusão de duas novas tecnologias injetáveis para o tratamento medicamentoso (ácido zoledrônico e teriparatida).
Um terceiro medicamento, um imunobiológico formador ósseo (romosozumabe), encontra-se em avaliação pela CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao SUS), por meio de uma consulta pública (CP) que está aberta à população até o dia 7 de novembro. A participação da sociedade civil é possível clicando aqui.
O público técnico científico, formado por médicos e profissionais de saúde, também pode opinar. Nesse caso, basta clicar aqui.
Alguns estados do Brasil, também de forma complementar, se debruçam sob o tema e buscam soluções regionais para incluir outras tecnologias que ainda não estão pautadas no protocolo federal, como o medicamento imunobiológico denosumabe, que se encontra incorporado ao Protocolo Estadual de Osteoporose de Goiás desde abril.
É importante salientar que cada uma das classes medicamentosas para o tratamento da osteoporose age em alvos diferentes e em momentos específicos da remodelação óssea. Temos o privilégio, portanto, de contar com vários recursos – dessa forma, os pacientes podem ser avaliados individualmente e receber o medicamento mais adequado para o momento.
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Para decidir qual a medicação ideal, existe recentemente uma orientação de se avaliar qual a gravidade da osteoporose. Daí a importância de ter no arsenal do Ministério da Saúde todos os medicamentos já padronizados e usados em todo o mundo, com evidências científicas bem definidas, aumentando o leque de opções.
Por fim, a pandemia também agravou a situação dos pacientes com osteoporose. É que houve, por exemplo, atraso na realização de exames de densitometria e no tratamento de pacientes, que deixaram de comparecer a consultas.
Muitos ainda interromperam a medicação – e, para ter ideia, estudos mostram que não aderir a pelo menos 80% do medicamento compromete de forma significativa o bom resultado do tratamento.
Como mais um agravante, boa parte dos pacientes acabou passando mais tempo em casa, sem fazer uma atividade física, um dos fatores que também podem contribuir para a osteoporose.
Outro fato importante observado em indivíduos com a doença e que tiveram Covid-19 é o diagnóstico de sarcopenia, que acarreta perda de massa muscular, com possibilidade de impacto na saúde óssea.
Agora, precisamos correr atrás desse tempo perdido e cuidar da saúde óssea daqueles pacientes que não puderam ter a atenção médica necessária.
*Perola Grinberg Plapler é fisiatra e diretora da Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).