A Sociedade Americana de Hematologia acaba de realizar, em Orlando (EUA), um dos mais importantes congressos da área, a 61ª edição do ASH Annual Meeting & Exposition. Esse evento recebe anualmente especialistas do mundo todo para apresentar e discutir o que há de mais moderno nos tratamentos das doenças do sangue, entre elas os tumores hematológicos.
A melhor forma de visualizar os avanços nesse campo é conhecer as novas terapias que vêm sendo desenvolvidas. Nos últimos anos, drogas com alta eficácia surgiram para combater leucemias, linfomas e o mieloma múltiplo. Elas são mais inteligentes e eficazes na luta contra essas doenças e proporcionam menos efeitos colaterais.
Podemos dividir esses tratamentos inovadores em alguns grupos: as terapias-alvo, as drogas pró-apoptóticas, anticorpos não conjugados, anticorpos conjugados, anticorpos bi específicos, medicações que estimulam o sistema imunológico, conhecidas como inibidores de checkpoint, e as terapias celulares com linfócito T modificado (CAR-T).
As terapias-alvo representam uma importante forma de interromper o funcionamento do tumor, pois agem contra células que apresentam alguma alteração genética específica ou são direcionadas a alvos pré-determinados dentro das células. Os tratamentos vêm sendo muito utilizados na leucemia mieloide aguda, na leucemia mieloide crônica e nas leucemias linfoides crônicas. Também estão sendo combinadas com outras terapias e mostrando resultados impactantes.
Já uma classe de medicamentos recente, as drogas pró-apoptóticas, tem o objetivo de levar à morte algumas células. Calma que explico: uma forma pela qual as células do câncer conseguem crescer é acionando mecanismos para não morrer. É assim que se perpetuam. O processo da morte celular, a que essas unidades malignas buscam escapar, é conhecido como apoptose.
Agora ficou mais fácil entender: as drogas pró-apoptóticas induzem esse fenômeno nas células tumorais. E têm conseguido bons resultados na leucemia linfoide crônica, nas leucemias mieloides agudas e nas síndromes mielodisplásicas — resultados que não eram conseguidos com a quimioterapia convencional.
Dentro da imunoterapia estão os tratamentos que estimulam o próprio sistema imunológico da pessoa a enfrentar o câncer. Nesse contexto, há drogas inibidoras de checkpoint (que estimulam os linfócitos T) e os anticorpos bi específicos, que aproximam as células de defesa do paciente e as dos tumores hematológicos, levando a uma atividade antitumoral. As principais novidades aqui são nas áreas das síndromes mielodisplásicas, leucemia linfoide aguda, leucemia mieloide aguda e no mieloma múltiplo.
E, por fim, temos a modalidade de terapia celular conhecida como CAR-T. Nele, as células são removidas do organismo, modificadas geneticamente e devolvidas para o corpo do paciente com o intuito de identificar e combater as células do tumor. Esse tratamento já está disponível em outros países para linfoma não Hodgkin e leucemia linfoide aguda. Dados indicam que aproximadamente 40% dos pacientes tratados com CAR-T estão sem progressão da doença, o que é um resultado considerado promissor. Agora esse tratamento está sendo testado também no mieloma múltiplo e já demonstra resultados encorajadores.
O grande foco do congresso foram as associações dessas diferentes abordagens e também a aliança entre elas e as quimioterapias já consagradas. O desafio nos próximos anos será saber qual a melhor combinação e o melhor momento para instituir cada um desses tratamentos.
* Dr. Phillip Scheinberg é hematologista e coordenador de Hematologia Clínica do Centro Oncológico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo