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Novo tratamento para linfoma funciona como um “Cavalo de Troia”

O remédio polatuzumabe vedotina, aprovado contra linfoma difuso de grandes células B, leva moléculas de quimioterapia até o câncer — uma nova tendência

Por Theo Ruprecht
29 jan 2020, 18h53
ropolivy para linfoma
A nova droga joga quimioterápicos diretamente no câncer. (Ilustração: Lucas Kazakevicius/SAÚDE é Vital)
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Recentemente aprovado no Brasil para o tratamento do linfoma difuso de grandes células B, o remédio polatuzumabe vedotina, da farmacêutica Roche, representa uma nova tendência de fármacos que funcionam como um “Cavalo de Troia”. Em vez de aplicar quimioterapia no corpo todo, ele se conecta ao câncer e só então libera esse agente tóxico, o que parece aumentar a eficácia e reduzir os efeitos colaterais.

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que 3 mil novos casos de linfoma difuso de grandes células B sejam diagnosticados por ano no nosso país. Em resumo, a doença integra o grupo dos Linfomas Não Hodgkin, afetando células específicas do sistema imunológico. E é agressiva — sem tratamento, seus portadores vivem menos de um ano, em média. Caroços no pescoço, nas axilas e nas virilhas são o principal sintoma.

Atualmente, a primeira linha de tratamento envolve sessões tradicionais de químio. De 60% a 70% dos casos são curados assim. Quando a estratégia falha, os médicos apostam no transplante autólogo de medula óssea. Ou seja, células-tronco dessa estrutura — que é a nossa fábrica de sangue — são extraídas do próprio indivíduo. Ele então recebe doses ainda mais pesadas de quimioterápicos. Após o bombardeiro, a medula é reinfundida na esperança de que volte a funcionar direito sem ser comprometida pelo câncer outra vez.

Essa tática dá certo em metade dos casos. “Mas muitas pessoas com esse tipo de linfoma não suportam uma estratégia tão agressiva, até porque tendem a ser mais velhas e podem ter outras doenças”, explica o médico Jayr Schmidt Filho, chefe do Centro de Neoplasias Hematológicas do A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo.

É para essa turma que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o polatuzumabe vedotina. “A expectativa é positiva. Não tínhamos alternativas satisfatórias nesse cenário”, afirma Schmidt Filho.

Como age o medicamento. E a tendência dos Cavalos de Troia

O novo fármaco é uma espécie de anticorpo que carrega moléculas de quimioterapia e que tem a capacidade de encontrar e se ligar à proteína CD79b. Esse alvo, por sua vez, está presente nas células B do sistema imunológico, que são afetadas por aquele tipo de linfoma.

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Uma vez que gruda no câncer, o remédio libera a químio em seu interior. Esse mecanismo de abrir os portões da doença para então começar um ataque foi comparado a um evento da mitológica Guerra de Troia (o conflito provavelmente não aconteceu, ao menos não da forma como foi narrado originalmente nos poemas de Homero).

Reza a lenda que, sem conseguir atravessar os muros de Troia, os gregos ofereceram um gigante cavalo de madeira para anunciar uma suposta trégua. Os troianos então trouxeram a oferenda para dentro de suas fortificações — sem saber que ela escondia soldados em seu interior que destruíram a cidade.

Voltando para a oncologia, a classe de medicamentos que usa esse estratagema parecido com Cavalo de Troia também é chamada pelos especialistas de “anticorpo-droga” (mais sem graça, não?).

No Brasil, há outro remédio aprovado que se vale da mesma lógica. É o brentuximabe vedotina, da Takeda, focado em outros tipos de linfoma. E espera-se que opções similares surjam nos próximos anos. O enfortumabe vedotina para câncer de bexiga seria um deles. Estamos, portanto, falando de uma tendência recente que promete dar suas contribuições no tratamento de tumores malignos.

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Qual a eficiência do tratamento e quais as reações adversas?

Antes de tudo, cabe destacar que o polatuzumabe vedotina sempre deve ser administrado junto com outras duas medicações: o rituximabe (também da Roche) e a bendamustina (da Janssen).

No estudo que justificou sua indicação no Brasil, o trio fez o câncer desaparecer em 40% dos casos. Esse número caía para 17,5% quando apenas o rituximabe e a bendamustina eram aplicados.

Só temos que analisar esses dados com um pouco de cautela. Como existem poucos tratamentos para pessoas que não responderam à quimioterapia tradicional contra o linfoma difuso de grandes células B, a Anvisa resolveu aprovar esse medicamento mesmo tendo em mãos uma pesquisa relativamente pequena, que avaliou 80 pacientes.

“Provas adicionais ainda serão submetidas à Anvisa após a concessão do registro do medicamento. A revisão desses novos dados […] poderá implicar a alteração das informações descritas na bula ou mesmo a alteração do status do registro do medicamento”, diz o comunicado da agência.

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Ou seja, a real taxa de sucesso do polatuzumabe vedotina pode mudar. “Mas temos uma boa noção de que os pacientes tiveram benefícios com o medicamento”, diz Schmidt Filho.

Quanto aos efeitos colaterais, eles são mais brandos do que os da quimioterapia. Mas podem envolver perda de sensibilidade ou formigamento dos membros (neuropatia periférica), suscetibilidade a infecções e anemia. “Felizmente, conseguimos manejar essas complicações”, informa o médico do A.C.Camargo Cancer Center.

Antes de chegar aos hospitais, o polatuzumabe vedotina passará por um processo de precificação na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).

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