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O que a pandemia ensina sobre a impermanência e a finitude da vida

Psicóloga defende que o coronavírus nos coloca frente a frente com a discussão sobre o fim da vida. E não dá para jogar o assunto para debaixo de tapete

Por Gabriela Casellato, psicóloga*
18 abr 2021, 19h19
Mulher triste colocando a mão em uma janela molhada
A Covid-19 nos faz pensar sobre o fim da vida. (Milada Vigerova/Unsplash/Divulgação)
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A pandemia de Covid-19 gerou muitos problemas, traumas, dores e sofrimento. Mas é inegável que nos trouxe uma grande lição: somos impermanentes e precisamos aprender a viver encarando de frente nossa finitude.

Saber-se finito não é mórbido, pelo contrário: permite protagonismo. É ter inteligência emocional, pois nos dá consciência sobre as escolhas encarando tal perspectiva.

Todo ponto final estrutura uma frase. A morte dá contorno e sentido à vida. Quantos de nós, ao temer o contágio pelo coronavírus, passaram a valorizar mais a própria vida?

Sob esse aspecto, encarar a finitude como uma certeza sem data marcada nos convida a adotar medidas de proteção contra a Covid-19, que vão do distanciamento físico ao uso de máscaras, sem nos sentirmos culpados ou inadequados.

Tais sensações vêm da ideia de que prevenção parece atitude na contramão numa cultura como a nossa, baseada em uma estrutura capitalista e que não nos prepara para o momento da morte, o que sabota o nosso viver.

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E com isso, vivemos ansiosos.

E com isso, delegamos a potência de nossas vidas.

E com isso, morremos ainda vivos, porque não vivemos a vida que nos faz sentido.

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Quando percebemos, já é tarde. E nada pior do que morrer com a sensação de uma vida medíocre. A pior morte não é a violenta, tampouco a arrastada por um longo processo de adoecimento. Para quem vai, a pior morte é a de uma vida tragicamente vivida, e não a de uma vida tragicamente morrida.

Entre tantas angústias que estamos vivendo, temos a obrigatoriedade de fazer as pazes com a impermanência. Pense nisso como uma chance para você, e como uma homenagem às milhares de vidas ceifadas nessa pandemia.

Que o medo de morrer nos dê a chance de aprendermos a viver, sustentados em valores e motivações que oferecem dignidade e bem-estar à trajetória de cada um.

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Não se trata de viver banalizando sofrimentos, mas de escolher seus caminhos, assumindo a potência real de nossas vidas e abrindo mão da ilusão de controle que nos assola. A vida sempre vai nos apresentar um ponto final.

Quem sabe uma pandemia pode nos dar uma lição cultural? Depende de cada um de nós.

* Gabriela Casellato é doutora em Psicologia Clínica pela PUC/SP, sócia-fundadora do Quatro Estações Instituto de Psicologia e organizadora de livros sobre o tema, sendo o mais recente: Luto por perdas não legitimadas na atualidade (clique para comprar).

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