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Estudo revela impacto da pandemia sobre cuidadores não profissionais

Levantamento mostra piora significativa na qualidade de vida de quem assumiu a atenção de pessoas enfermas ou idosas durante a crise da Covid-19

Por Gabriel Toueg
13 abr 2021, 18h44

Quando Adriel Angelo de Oliveira Jesus, de 32 anos, recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla, há pouco mais de um ano, a pandemia do coronavírus estava no comecinho. Viúva, a mãe Eloar de Oliveira Jesus, de 58, passou a dividir o tempo entre o trabalho de diarista e os cuidados com o filho. Uma jornada que, como mostra uma pesquisa recente, é especialmente árdua diante da Covid-19.

O levantamento foi realizado pelo programa global Embracing Carers (“Acolhendo Cuidadores”, em tradução livre do inglês), que tem o apoio da farmacêutica Merck. Ao todo, 9 mil cuidadores não profissionais foram ouvidos. Foram 12 países contemplados: Brasil, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Austrália, Taiwan, Índia e China.

As conclusões apontam para um cenário de significativa piora na qualidade de vida. Em função da pandemia, essas pessoas assumiram sozinhas o cuidado de familiares próximos, uma vez que outros parentes deixaram de dar tanto apoio pelo medo de pegar o coronavírus. “Não tenho tempo de cuidar de mim. Há mais de ano que não faço meus exames”, conta Eloar.

Luiz Magno, diretor médico da Merck, ressalta que estamos cercados desses cuidadores não profissionais, que tomam conta de idosos ou parentes com uma doença crônica. “Mas eles invisíveis”, lamenta. “O estudo mostra o que imaginávamos que aconteceria na pandemia: mais de sete horas adicionais de cuidado, maior necessidade de suporte emocional e uma grande dificuldade de arranjar tempo para si”, arremata.

Magno diz ainda que, sob muitos aspectos, a Covid-19 afetou especialmente os cuidadores não profissionais do Brasil. Por exemplo: 68% dos respondentes do nosso país reportaram uma piora na própria situação financeira. No mundo todo, esse índice não superou 54%.

É o caso de Eloar. Ela conta que, com a pandemia e o diagnóstico do filho, deixou de trabalhar em muitas casas. “Várias pessoas não entendem que eu preciso levá-lo comigo e me dispensaram”, queixa-se. Hoje, ela recebe uma pensão pela morte do marido e depende de doações de medicamentos e da ajuda da igreja que frequenta para pagar o aluguel da sua casa em Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo.

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O medo de contágio também é grande. “Vou com meu filho à fisioterapeuta e fico apavorada. Mas a médica nos leva para longe de aglomerações”, revela.

Mais tempo de convívio

O levantamento mostra que os entrevistados passaram 46% mais tempo com as pessoas de quem cuidam durante o pico da pandemia. José Raimundo Fernandes, de 51 anos, mora em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo, com a esposa, Glauce, de 43. Ele trabalha com suporte de sistemas em São Paulo, a cerca de 45 quilômetros de casa. A esposa também tem esclerose múltipla.

Com a chegada da Covid-19, Fernandes conta que começou a trabalhar mais em casa para ficar perto da esposa e circular menos, evitando o contágio. “Passei mais da metade do meu expediente em home office, mas nem sempre posso fazer isso”, relata. Ele possui um carro, porém às vezes precisa recorrer ao trem, onde há muita aglomeração. Mesmo tomando os cuidados possíveis, os dois foram diagnosticados com Covid-19 no começo de 2021. Felizmente, apresentaram apenas sintomas leves.

Glauce foi demitida no início da pandemia, o que pesou nas economias do casal. Mas o principal abalo que Fernandes destaca é na cabeça. “Alguns conhecidos morreram e isso mexe com a gente, mas eu tento me manter positivo e levantar o astral”, diz.

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A saúde mental ganhou destaque na pesquisa: 61% dos entrevistados afirmaram que esse aspecto piorou durante a pandemia. E, de novo, o Brasil apresenta um número acima da média global: 70%. Em comunicado, a Merck atesta que o isolamento social e o medo da infecção respondem por parte desse impacto.

A piora na saúde mental acompanha efeitos na saúde física (46% globalmente, 57% no Brasil), com menos horas de sono e falta de exercícios. “O tema do cuidador não profissional é pouco abordado”, destaca a geriatra Luciene Moura, que trabalha com home care.

Nascida no Rio de Janeiro, Luciene mora e trabalha nos Estados Unidos há 11 anos. “Tenho visto muitas pessoas que tiveram de sair do trabalho ou se rearranjar para cuidar de idosos ou de parentes que pegaram Covid-19 e estão com sequelas”, relata. Segundo ela, perdas financeiras e estresse emocional são comuns nesse contexto.

Formada na Unirio, Luciene fez residência em clínica médica na Santa Casa do Rio. Ela aponta para um dado curioso: com o envelhecimento geral da população, os próprios cuidadores também estão mais velhos. “Tenho alguns clientes que se transformaram em cuidadores na pandemia. São pessoas de meia idade, com até 60 anos, dando suporte para os pais”, aponta. “Os cuidadores não profissionais também precisam de amparo”, arremata.

Diante disso, o programa Embracing Carers lista sugestões para melhorar esse cenário, que não tem hora nem vacina para acabar. São eles:

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• Valorizar a saúde e o bem-estar de cuidadores não remunerados
• Diminuir a carga financeira sobre essas pessoas, inclusive com programas de assistência (em especial para os desempregados)
• Ampliar o acesso a informações sobre como cuidar de terceiros e de si mesmo
• Investir em pesquisas para compreender melhor esse panorama e reconhecer a importância desses indivíduos.

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