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Mentir pode ser um problema psiquiátrico?

Sim, e tem até nome: mitomania. Especialista explica as diferenças entre a doença mental e as mentiras cotidianas ou inocentes

Por Jéssica Martani, psiquiatra*
Atualizado em 31 jul 2023, 16h20 - Publicado em 1 abr 2023, 09h56

Quem nunca mentiu? Mas você sabia que há mentiras e mentiras?

As populares “mentirinhas do bem” são aquelas que podem ser consideradas falsas afirmações. Por exemplo: quando naturalmente respondemos a um “oi, tudo bem?” com um “tudo ótimo”, quando, na verdade, o dia está péssimo.

Aqui entra também a omissão para não causar chateação quando alguém te pergunta se a roupa está boa – e você responde que sim, mesmo que não tenha gostado.

De modo geral, essas mentiras não são sinais de distúrbio psíquico, já que não trazem danos sérios a outras pessoas.

Inclusive, algumas mentiras são até necessárias para a vida em sociedade. Por isso, nesse assunto não se pode ter dois pesos para duas medidas.

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Um modo simples de identificar a linha de tênue que separa um comportamento inocente de algo problemático é perceber se a mentira é contada com convicção.

+ Leia também: “Está na cara que é mentira”: será que nossas reações nos entregam mesmo?

Nesse caso, a história é levada adiante mesmo quando os fatos simplesmente não são verdadeiros. É aí que mora o perigo.

Esse comportamento, se for excessivo e causar prejuízo ou sofrimento a si mesmo e aos outros pode, sim, ser considerado patológico. É a mitomania – a doença da mentira.

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Atraindo os holofotes

Diferente das mentiras que são contadas para levar vantagem, na mitomania a intenção principal é deixar o assunto mais intrigante – com isso, a pessoa deseja se mostrar mais interessante.

As histórias de um mitomaníaco podem ser desde um conto triste ou até mesmo um caso cheio de elementos teatrais e riqueza de detalhes. Assim, um acontecimento pequeno pode facilmente se tornar uma fábula heroica.

Muitas vezes, a pessoa que sofre com a mitomania está tão imersa na mentira que tem uma ótica distorcida da realidade. Ela acaba realmente acreditando naquilo que está falando.

É como diz aquele velho ditado: “Uma mentira contada muitas vezes vira verdade”.

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E, apesar de a história ter elementos incongruentes para o ouvinte, o mitomaníaco não consegue desmenti-la. Com isso, inclui novos elementos ainda mais improváveis para manter a mentira acesa.

Isso ocasiona diversos prejuízos na vida social e também na vida ocupacional desse indivíduo.

O diagnóstico pode demorar muitos anos para ser concluído, já que é muito difícil o mitomaníaco buscar ajuda para se tratar.

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Afinal, dentro da sua própria mentira, ele acaba por moldar sua personalidade dentro das histórias fantasiosas.

Dessa maneira, todos os pilares de sua vida são pautados na doença, que acaba sendo seu principal alicerce – e que esconde, muitas vezes, uma pessoa emocionalmente frágil e com autoestima e autoimagem prejudicadas.

As mentiras dão sentido à vida da pessoa mitomaníaca e optar por sair dessa ótica de uma autoestima criada, deparando-se com as fragilidades da realidade, exige coragem e desejo de autoconhecimento.

+ Leia também: Como funciona e por que fazer terapia

E, mesmo assim, ainda que a pessoa deseje parar de mentir, na mitomania a mentira acaba se enraizando e se tornando uma forma de ser e se portar no mundo. Ela ocorre de forma fluida e natural – é dificílimo parar.

Essas pessoas chegam a se sentir indefesas se não contarem uma história (por menor que seja) sem os adornos da fantasia.

Outra característica importante da mitomania é que não há remorso em contar a mentira.

Muitas vezes, observam-se transtornos de personalidade e transtornos ansiosos entre os mitomaníacos. Sendo assim, o principal recurso contra a doença é a psicoterapia e, se necessário, um tratamento médico com profissionais psiquiatras.

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*Jéssica Martani é médica psiquiatra e observership em neurociências pela Universidade de Columbia em Nova Iorque (EUA)

 

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