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Mais de 80% dos casos de demência no Brasil não são diagnosticados

Novo relatório destaca desafios e oportunidades na luta nacional contra o Alzheimer, um problema em expansão

Por Elaine Mateus, presidente da Febraz*
25 jun 2025, 11h47
subdiagnostico-demencia
Subdiagnóstico é problema clássico no enfrentamento às demências  (Ildar Abulkhanov/Getty Images)
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No Brasil, a doença de Alzheimer ainda é amplamente vista como parte natural do envelhecimento. Essa percepção, culturalmente enraizada, alimenta o estigma e contribui para um dado alarmante: mais de 80% dos casos de demência no país não são diagnosticados.

É o que revela o relatório From awareness to action: addressing the growing burden of Alzheimer’s in Brazil (Da conscientização à ação: enfrentando o crescente desafio da doença de Alzheimer no Brasil), publicado pelo Economist Impact, braço do grupo britânico de mídia The Economist Group, no início de junho.

Produzido por especialistas e baseado em uma série de entrevistas com autoridades e organizações do setor, o relatório expõe uma realidade preocupante: apesar de alguns avanços na formulação de políticas públicas, sua execução continua sendo um grande desafio.

O documento destaca que a Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências, que entrou em vigor em 2024, traz uma promessa importante de integrar cuidados, focando em diagnóstico oportuno, tratamento interdisciplinar e suporte a familiares que cuidam.

Porém, o principal obstáculo identificado é a falta de um plano claro e uniforme para a implementação nacional dessa política. O relatório aponta que, sem uma regulamentação efetiva, a aplicação da política pode ser desigual, e seu impacto no atendimento à população será limitado.

O subdiagnóstico, apontado como uma das maiores falhas estruturais, resulta da baixa conscientização da população e da falta de capacitação dos profissionais de saúde, especialmente da atenção primária. Muitas famílias ainda enxergam os sintomas como “coisa da idade”, e o sistema de saúde pública, sobrecarregado e com poucos especialistas, tem dificuldade em oferecer um diagnóstico oportuno.

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+Leia também: Por que todo médico deveria pesquisar Alzheimer nas consultas de rotina?

O relatório também coloca em pauta a grande oportunidade que o Brasil tem com os avanços tecnológicos no diagnóstico e no tratamento da doença de Alzheimer.

Testes de biomarcadores, como PET-scans e até exames de sangue com alta taxa de precisão, estão permitindo diagnósticos muito mais rápidos e assertivos. No entanto, a infraestrutura de saúde do país ainda é insuficiente para viabilizar o acesso desses exames à população em geral, especialmente nas regiões mais remotas.

A tecnologia de ponta (caso dos PET-scans) está concentrada apenas em algumas regiões do país, e até mesmo exames relativamente simples, como a ressonância magnética, podem levar meses para ser realizados no sistema público de saúde, aprofundando a desigualdade.

Outro ponto crítico – a e talvez um dos mais negligenciados da crise da doença de Alzheimer no Brasil – é o abandono dos familiares que assumem, sozinhos, a responsabilidade pelo cuidado diário. Em sua maioria mulheres, essas pessoas acabam afastadas do mercado de trabalho, perdendo renda, saúde e, muitas vezes, a própria identidade social.

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Sem qualquer apoio formal – seja financeiro, técnico ou psicológico – essas pessoas enfrentam jornadas exaustivas, ignoradas por um sistema que ainda não reconhece o cuidado como trabalho.

+Leia também: A invisibilidade e os desafios das mulheres cuidadoras no Brasil

A ausência de políticas estruturadas para capacitar, acolher e oferecer suporte a essas pessoas tem produzido uma crise silenciosa de saúde pública, que sobrecarrega não apenas as famílias, mas também o SUS e a rede de assistência social.

Enquanto o Estado continuar invisibilizando quem sustenta o cuidado na base, falhará na resposta à demência. É urgente inverter essa lógica – e reconhecer que cuidar de quem cuida é uma condição indispensável para qualquer política que se pretenda humana, eficaz e sustentável.

Diante desse cenário, é preciso ir além. O Brasil tem, no papel, uma política pública promissora. Mas sem financiamento consistente, coordenação entre governos e participação ativa da sociedade civil, ela seguirá sem efeito prático para os mais de 2 milhões de brasileiros que vivem com demência.

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O país já perdeu tempo demais. Agora, precisa agir. Transformar boas intenções em políticas efetivas é o único caminho possível para enfrentar a doença de Alzheimer como ele deve ser enfrentado: com seriedade, urgência e compromisso público.

*Elaine Mateus é presidente da Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz), com doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem e pós-doutorado em Linguística. É fundadora do Instituto Não Me Esqueças.

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