Vi pela janela da sala uma família inteira tomando sol em uma pracinha ao lado do meu condomínio. Enquanto a avó estava sentada em um carrinho, os pais caminhavam com um filho ao lado e o outro pedalando ao redor deles. Todos de máscara. Tirando essa família, a pracinha estava vazia.
A cena me mostrou como seguimos juntinhos, mas ao mesmo tempo separados de outras pessoas. A necessária restrição de saídas para as próprias atividades físicas — a brincadeira de bola com os amigos, a ginástica do pai, o pilates da mãe — vem exigindo a criatividade das famílias.
Mas se todos de casa pudessem se exercitar juntos, por meia hora que fosse, ficaria mais fácil cumprir as metas semanais de atividade física recomendadas pela OMS. E de uma maneira mais prazerosa.
No caso das crianças especificamente, colocá-las para fazer exercícios de forma sistemática, mas sem orientação do professor de educação física e distante dos colegas, é mais difícil. Sendo assim, as brincadeiras durante o isolamento cumprem um papel fundamental para afastá-las do sedentarismo.
Envolver toda a família em brincadeiras ativas, como “pique-pega no pátio” ou “esconde brinquedo” (no qual um brinquedo é escondido dentro de casa e a criança ou os pais têm que procurar), são essenciais. O importante é manter o caráter lúdico e a exigência de um condicionamento físico.
Dançar também é ótima opção, assim como exercícios que usam o peso do corpo, como polichinelo e séries de levantar e sentar no chão.
Alerto, entretanto, para as sessões de exercícios online, com prescrições que não levam em conta as necessidades de quem está do outro lado da tela. Cada pessoa da família está em um estágio de amadurecimento do corpo. Na hora de optar por um treino desses, que seja com um profissional que faça uma prescrição direcionada a cada um.
Falo isso sobretudo para os idosos. Os mais velhos precisam combater a perda de massa e força muscular típica da idade. Um segundo ano de isolamento por causa da pandemia pode acarretar uma queda drástica da autonomia funcional, com efeitos deletérios — caso estímulos físicos não sejam feitos regularmente.
Séries realizadas dentro de casa, com materiais baratos e de fácil manuseio, são uma realidade. Aqueles exercícios destinados a fortalecer os músculos dos membros superiores, inferiores e tronco, por exemplo, podem ser feitos com halteres tradicionais ou adaptados: garrafa de água cheia, um saco de açúcar de um quilo, faixas elásticas apropriadas para ginástica, caneleiras ou bolas. Friso: sempre seguindo a prescrição de um profissional de educação física.
O essencial é que um familiar incentive o outro e, juntos, cuidem da saúde. E, quando a pandemia passar, espero ver a pracinha aqui perto cheia de famílias se divertindo ativamente.
* Fabio Ceschini é profissional de educação física e especialista em fisiologia do exercício, mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP e doutor em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu. É também fundador da plataforma de ensino Viajando pela Fisiologia, que capacita profissionais de saúde e educação física na prescrição de treinos, sobretudo para pacientes com doenças crônicas.