Talvez muitos de vocês não me conheçam. Sou mulher, amarela, atriz, tenho 33 anos e, além de ter escolhido como ofício a atuação, algo que amo e que me proporciona muitas reflexões, sempre me interessei pelo corpo humano, que, afinal de contas, é o nosso veículo para estarmos no mundo.
Quando comecei a fazer teatro, entrei em contato com diversas técnicas corporais, da luta à dança, e foi mais ou menos há uns 18 anos que a ioga entrou na minha vida. As experiências de propriocepção (a percepção de si mesmo), de observação dos movimentos e expressões do corpo e as mudanças no estado mental após a prática sempre chamaram a minha atenção.
Depois de me tornar atriz, percebi que esse interesse se tornou algo que vai além… E hoje faz parte da minha rotina de trabalho e da vida como um todo. Os benefícios depois de uma sessão de corrida ou de prática de ioga ou meditação acionam forças, memórias e inteligências que ultrapassam a dimensão racional.
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Talvez as pessoas mais materialistas digam que a sensação de bem-estar pós-exercício se resume a uma questão de liberação de hormônios. Eu acredito que isso acontece porque envolve uma escolha feita antes mesmo de partir para a ioga ou uma atividade física.
Porque, antes de o meu corpo produzir endorfina, serotonina ou dopamina, decidi me levantar e ter um ato amoroso comigo mesma. Um ato que envolve cuidar da respiração e dos pensamentos, ouvir o organismo, mudar posturas e movimentos.
Acho que, quando fazemos algo importante para nós, transformamos a nossa maneira de estar no mundo e tocamos outras pessoas a partir de um novo estado mental e físico. Mente e corpo são indissociáveis, e foi na ioga que pude integrar e vivenciar melhor essa noção de unidade.
Pensando em um contexto maior, nessa nossa sociedade pós-moderna que cultua valores como o de que “tempo é dinheiro”, em que ter e mostrar são mais relevantes do que ser e o medo espreita nas telas e na realidade, me pergunto: como manter um estado de prontidão sem sucumbir à tensão? Como sonhar apesar das tragédias? Como seguir quando os pensamentos parecem estagnar?
Cada pessoa sabe o que é ser saudável e apresenta construções a partir de referências aprendidas em contextos sociais, familiares, culturais, religiosos, educacionais. Tudo isso influencia, desde a primeira infância, a construção de uma identidade – somos frutos do meio em que nascemos e vivemos.
Mas insisto em acreditar que o contexto não nos definirá na medida em que tenhamos oportunidades e desejo de transformá-lo, e primeiro em nós mesmos.
E é aqui que entra a ioga. Para mim, ela representa um treinamento físico e mental que me ajuda a observar e me preparar para o trabalho e a vida. Aguça minha escuta sobre os meus limites, e hoje já sou capaz de meditar em movimento.
Vejo que muitas outras atividades podem proporcionar experiências meditativas, como cozinhar, brincar com pets e lavar louça, porque não é exatamente sobre o que fazemos, mas como estamos envolvidos com aquilo que fazemos e a possibilidade de devolver para o mundo algo melhor, após uma experiência íntima consigo mesmo.
Tudo isso me faz acreditar que devemos olhar mais para nós mesmos, não para ficarmos isolados, mas para cuidarmos de nós e dos outros e, por que não, mudarmos a própria sociedade.
*Luana Tanaka é atriz, já esteve no elenco de três novelas da TV Globo e séries de sucesso da GloboPlay e da Netflix e atualmente atua em Negociador, do Prime Video. Mantém e dissemina a prática de ioga no dia a dia.