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Inseminação caseira: vale o risco para conquistar um sonho?

Médica alerta para prática irregular e sem amparo científico. Ela pode causar prejuízos em vários sentidos à mulher ou ao casal

Por Rafaella Gehm Petracco, ginecologista*
16 mar 2021, 10h06
foto de coletor de ovo, simulando ideia de inseminação artificial
Técnicas de inseminação artificial só podem ser feitas por profissionais e centros especializados, com autorização de órgãos reguladores.  (Foto: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Recentemente, vimos na mídia notícias de uma técnica perigosa demais para tentar engravidar: a inseminação caseira. Tal método, sem embasamento médico algum, consiste na obtenção de sêmen de forma clandestina e a introdução do material diretamente na vagina — ou até mesmo, com auxílio de um cateter, dentro do útero da mulher. O que os casais muitas vezes não sabem é que tal procedimento não é isento de riscos, muito pelo contrário.

O ponto mais importante é a segurança. Várias doenças podem ser transmitidas pelo sêmen, entre elas a infecção pelo HIV e a sífilis. Mesmo que o “doador” seja testado, existe uma janela imunológica de até seis meses para algumas doenças em que o patógeno pode não ser detectado. Dessa forma, o uso de material de um doador não registrado em um banco de sêmen carrega consigo um risco de contaminação por uma doença sexualmente transmissível — e que pode acarretar sérias consequências para a mulher e até para o bebê.

Além disso, o procedimento de inseminação requer conhecimento anatômico do sistema reprodutor feminino e um preparo adequado do sêmen, para que ele possa ser introduzido diretamente no organismo da mulher. Logo, outro risco do procedimento feito em casa é que não contempla esses preparos, o que pode causar reações severas no momento da introdução do material, incluindo choque anafilático.

Os casais que buscam essa alternativa necessitam, por diferentes motivos, de auxílio para engravidar — e vêem nessa modalidade um caminho de baixo custo para alcançar seu sonho. Infelizmente, os tratamentos de reprodução assistida são procedimentos que necessitam de investimentos e ainda pouco acessíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que dificulta a vida de muitas famílias. A solução, contudo, não está numa inseminação caseira.

Precisamos entender que existem diferentes tipos de tratamento para a infertilidade, com indicações e valores distintos. A indicação médica bem embasada é crucial para definir o investimento com o qual o casal terá de arcar. Hoje, muitas clínicas já possuem projetos assistenciais que buscam minimizar consideravelmente esses custos.

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Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), em sua resolução que abrange as regras para o exercício da reprodução assistida no Brasil, a doação de sêmen deve ser anônima. O material é adquirido em um banco fiscalizado pela Anvisa, e o envio é feito diretamente para a clínica onde o tratamento será realizado. Portanto, a inseminação caseira não é um procedimento regulado pelos órgãos fiscalizadores.

Além da insegurança biológica, essa invenção não traz nenhum respaldo legal no momento do registro civil do bebê nascido. Assim, diversos processos correm na Justiça, na tentativa de garantir a legitimidade dos pais afetivos.

O projeto de vida de ser pai e mãe faz parte do sonho de milhares de casais e muitos deles se dispõem a medidas extremas para alcançar esse objetivo. Entretanto, preservar a saúde e a segurança do binômio mãe e bebê sempre será a grande prioridade. A inseminação caseira é absolutamente insegura e sem base científica. Está mais perto de gerar pesadelos do que de viabilizar um sonho.

 * Rafaella Gehm Petracco é ginecologista e médica do Fertilitat

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