Relâmpago: Assine Digital Completo por 3,99
Imagem Blog

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde

A farinata (ração humana) pode melhorar a alimentação em SP?

Especialista questiona a decisão do prefeito João Doria de oferecer uma espécie de ração humana à população carente de São Paulo

Por Dra Fabiana Poltronieri*
27 out 2017, 19h00
Ração humana em São Paulo
A farinata (ração humana) que foi anunciada como medida de combate à fome pelo prefeito João Doria, de São Paulo, está recebendo muitas críticas. (Foto: Rosanna PErrotti/Divulgação)
Continua após publicidade

A Prefeitura de São Paulo lançou no início do mês de outubro o programa “Alimento Para Todos”. Dentro dele, apresentou o produto batizado de “Allimento”, com o intuito de ser distribuído para a população carente da cidade. Mas ele ficou conhecido como farinata ou ração humana – e foi o estopim para uma enorme polêmica.

Sua composição, até o momento desconhecida, está baseada no uso de alimentos próximos do vencimento ou fora do padrão de comercialização em supermercados. Eles serão doados à prefeitura por meio da Plataforma Sinergia.

De acordo com a prefeitura, essas comidas serão liofilizadas (submetidas a um processo de desidratação) e transformadas em um “alimento completo”, com proteínas, vitaminas e minerais. A mistura poderá ser oferecida em forma de biscoitos e também usada em pães, bolos e massas.

Apesar de o prefeito João Doria ter comparado o granulado à “comida de astronauta” e alegar que o seu sabor é semelhante ao biscoito de polvilho, o produto, apresentado em um pote com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, foi rapidamente apelidado de “ração humana”.

O Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-3) se manifestou contra a proposta por entender que a ação fere os princípios do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e nega as políticas públicas de combate à fome e à desnutrição, bem como o Guia Alimentar para a População Brasileira. É um total desrespeito aos avanços obtidos nas últimas décadas no campo da Segurança Alimentar e Nutricional.

Continua após a publicidade

Contradições e receios por trás da farinata

Várias questões relevantes, sob o aspecto da alimentação e nutrição, são passíveis de análise. A Prefeitura de São Paulo, depois de alegar reduzir itens da merenda escolar para contra-atacar a obesidade, agora lança um programa que objetiva o combate à fome. Ela tira alimentos de verdade… e inclui a farinata.

E mais: de acordo com dados do Ministério da Saúde, não há prevalência de desnutrição em São Paulo. Essas contradições revelam uma incoerência nas políticas públicas adotadas.

O CRN-3 e o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo (COMUSAN) não foram consultados sobre a criação do programa Alimento Para Todos. Assim como o CRN-3, o COMUSAN se manifestou contra o projeto por não estar alinhado às diretrizes que visam facilitar o acesso de toda a população à comida de verdade.

Continua após a publicidade

Comida não é nutriente

A alimentação abrange aspectos nutricionais, culturais, étnicos, sociais, regionais, sensoriais, antropológicos, religiosos. Comer é um ato que diz muito do indivíduo. A comida conta uma história, proporciona lembranças, agrega sensações, caracteriza seu modo de vida…

Aí que está: a decisão de alimentar a população não deve ser vista de forma isolada, reducionista, como quem busca apenas nutrir. No longo prazo, não se deve combater a fome com qualquer espécie de ração.

A dignidade das pessoas deve ser garantida por meio do direito ao acesso à comida de verdade, no campo e na cidade. Isso foi preconizado na 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, cujo lema é “Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar”.

Continua após a publicidade

Discutir o acesso ao alimento é fazer da segurança alimentar um direito de fato.

*Fabiana Poltronieri, CRN3-13008, nutricionista, doutora em Ciência dos Alimentos pela USP; Professora da Faculdade das Américas – FAM e Conselheira do Conselho Regional de Nutricionistas 3ª Região.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.