Estimular a bondade no trabalho rende dinheiro e saúde mental
Gratidão, cooperação e a criação de bons relacionamentos no serviço promove ganhos em todos os sentidos, segundo especialista
Imagine que a empresa onde você trabalha resolva lhe premiar com 75 reais, com a condição de que prometa gastar o dinheiro consigo mesmo. Você pode pagar sua conta de telefone celular, ir a um restaurante ou até comprar uma garrafa de vinho. Agora, digamos que a empresa dê os mesmos 75 reais, só que você é obrigado a comprar um presente para um colega de trabalho. Qual das duas iniciativas faria com que você tivesse um melhor desempenho futuro no emprego?
Pois um cientista da Universidade Harvard, Mike Norton, fez um experimento parecido, só que em euros – 15 euros, para ser mais exato. Resultado: aqueles que ganharam o bônus pessoal retornaram 4,50 euros para a empresa em “produtividade adicional”, assim por dizer. Já os que compraram presentes para os colegas trouxeram 78 euros de retorno.
Em outro estudo, Norton descobriu que gastar qualquer valor com outra pessoa aumenta a nossa felicidade. Ou seja: o ato de comprar um presente para alguém – e não o seu valor – é o que contribui com a felicidade.
Essas são apenas duas das dezenas de evidências que demonstram que gastos pró-sociais – o ato de investir dinheiro em outras pessoas – são uma maneira barata de “comprar felicidade” no trabalho. Felizmente, centenas de cientistas vêm estudando intervenções para aumentar a felicidade e os resultados das pessoas no mundo corporativo. Aqui estão algumas das descobertas mais impactantes.
Gratidão
Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, revelou que incentivar as pessoas a escreverem cartas de gratidão destinadas àqueles que as ajudaram no passado trouxe ganhos exponenciais na saúde mental em um experimento.
As vantagens mais significativas aconteceram quando os participantes entregaram a carta pessoalmente, o que demonstra que os efeitos reais da gratidão são intensificados no mundo offline. Aproveitar as oportunidades de agradecer os colegas é um dos caminhos mais curtos para a felicidade.
Cooperação
Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, realizou um estudo no qual um grupo de participantes foi incentivado a prestar atos de bondade para os colegas de trabalho, como segurar a porta do elevador e levar um cafezinho de surpresa. Funcionários tratados com bondade passaram a colaborar 278% a mais com seus pares.
Mas o melhor ainda estava por vir: ao medir a felicidade de todos os participantes, os cientistas descobriram que aqueles com os maiores ganhos foram os que iniciaram os atos. Isso significa que ajudar aumenta sua felicidade de forma mais significativa do que receber ajuda.
Relacionamentos
A cientista Elizabeth Dunn realizou uma pesquisa em que as pessoas deveriam fazer uma refeição com seus amigos. Um grupo precisava colocar seus smartphones em cima da mesa, enquanto o outro deveria deixá-los em outro ambiente.
Quando os telefones estavam em cima da mesa, as pessoas ficavam altamente distraídas e reportavam aproveitar menos as conversas.
Os relacionamentos são o principal preditor de felicidade para o ser humano, portanto uma maneira simples de ser mais feliz no trabalho é tratar com grande atenção e simpatia todas as pessoas que passarem por seu dia, deixando seu telefone fora de alcance para que interações positivas sejam possíveis.
+Leia também: Fórmulas da felicidade: faltam evidências sobre a maioria delas
A busca por felicidade
Apesar de todo mundo querer ser mais feliz no trabalho, você deve ter notado que isso não é tarefa fácil, principalmente pelo fato de que as intervenções apresentadas aqui não nos dão a impressão de que resultarão em felicidade.
Ser mais feliz é como ir à academia: a antecipação da atividade não gera prazer. Mas, meses depois, conseguimos entender os benefícios que a atividade nos trouxe.
A vantagem é que, para construir sua própria felicidade, você não precisa pagar mensalidade: os planos iniciam com um investimento de zero reais. Que tal tentar?
*Luiz Gaziri é professor de ciências comportamentais e autor de A Ciência da Felicidade