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Dor e depressão andam juntas? Os elos cerebrais entre dor e tristeza

As duas condições costumam andar juntas. E há explicações bioquímicas e comportamentais para isso

Por Mariana Schamas, cinesiologista*
3 jul 2025, 09h00
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A depressão pode intensificar dores, bem como a dor constante pode levar à depressão (Freepik/Divulgação)
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O “match” entre dor e depressão não está escrito nas estrelas, mas, com uma certa frequência, as duas dão as mãos e acabam incomodando muita gente por aí. E então: a dor deprime ou é a depressão que gera dor?

Não é coincidência que elas andem juntas, afinal, compartilham vias cerebrais, neurotransmissores e comportamentos. Uma alimenta a outra num ciclo que compromete qualidade de vida, prazer e autonomia. Mas por que isso acontece?

Bom, ocorre que elas são parceiras em quase tudo que fazem. Quando elas se manifestam, uma puxa a outra e prejudicam o indivíduo. No cérebro, ambas envolvem o córtex pré-frontal, a amígdala, o hipocampo e o sistema límbico.

O córtex pré-frontal tem um papel central em funções cognitivas complexas, regulação emocional, autocontrole e tomada de decisões. Permite pensar antes de agir e reavaliar situações. Está diretamente envolvido em modular a percepção da dor, ajudando a reavaliar cognitivamente a ameaça da dor, desenvolver estratégias de enfrentamento (coping) e reduzir o sofrimento emocional associado à dor persistente.

É ele que está envolvido no sucesso de tratamentos como a terapia cognitivo-comportamental, mindfulness e a educação em neurociência da dor.

Já a amígdala processa o medo, ameaças e emoções intensas atuando como alarme rápido do cérebro. Ela amplifica a dor quando o corpo se sente em risco, entra em ação com o medo do movimento ou da própria dor voltar e participa do ciclo “dor-medo-evitação”.

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Agora, o hipocampo, é responsável pela memória e contextualização de eventos. Ele associa o que aconteceu com onde e como aconteceu. Registra memórias de dor e associa locais, movimentos ou situações à experiência dolorosa. Pode gerar reações automáticas baseadas em experiências passadas (ex: “toda vez que sento, sinto dor”).

O sistema límbico coordena emoções, memória emocional e respostas automáticas ao ambiente. Conecta emoções com funções corporais (respiração, frequência cardíaca, tensão muscular). Modula a forma emocional e subjetiva como a dor é percebida. Está envolvido no sofrimento, na catastrofização e na resposta emocional ao sintoma.

+Leia também: Como uma dor se torna crônica?

As duas condições (dor e depressão) compartilham também alterações em neurotransmissores como, serotonina, noradrenalina e dopamina.

A serotonina regula o humor, sono e apetite e modula a dor, tendo um papel calmante e estabilizador. Nas condições de dor crônica e depressão, acontece uma redução de serotonina, e os níveis baixos dificultam a regulação emocional e aumentam a percepção dolorosa.

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A noradrenalina é responsável por manter a atenção, energia, foco e resposta ao estresse. Atua na modulação da dor na medula espinhal, ajudando a bloquear sinais dolorosos. Quando a dor crônica e ou a depressão vêm, os níveis baixam, podendo causar fadiga, apatia, e aumento da dor. Também está ligada à falta de motivação e à ineficiência dos sistemas de inibição da dor.

Já a dopamina controla o prazer, motivação, recompensa, e movimento voluntário, está ligada à sensação de “valer a pena fazer algo”. Nas condições de dor e depressão, os níveis de dopamina baixam e causam anedonia (falta de prazer), desmotivação e redução do limiar de dor.
A dor constante drena a dopamina, reduzindo a capacidade de sentir prazer e dificultando o engajamento em atividades.

A dor crônica pode levar à restrições de atividades, isolamento social e perda do prazer, aumentando o risco de depressão. Por outro lado, a depressão aumenta a percepção da dor, tornando o quadro mais difícil de tratar.

Esse ciclo vicioso tanto neurobiológico quanto comportamental se retroalimenta. Para quebrar o ciclo é preciso intervir com um tratamento multimodal (várias modalidades) bem feito, com abordagens integradas. Assim, é possível sair desse looping.

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O que fazer?

Eis as estratégias mais celebradas pela ciência:

  • Psicoterapia (como TCC ou ACT): ajuda a mudar padrões de pensamento e enfrentamento.
  • Tratamento medicamentoso: antidepressivos com ação na dor e humor.
  • Exercício físico: reconecta corpo e cérebro, melhora neurotransmissores.
  • Suporte social: ativa dopamina e reduz isolamento.
  • Educação sobre dor: reduz o medo e promove autonomia.
  • Pequenas metas e exposições graduais: devolvem confiança e prazer.

Importante frisar que dor e depressão não são frescura. São condições reais, tratáveis — e que exigem cuidado integrado.

Se estiver nesse ciclo, busque ajuda profissional. É possível sair dele.

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+Leia também: Dor crônica: as novidades da ciência contra o problema que só cresce

*Mariana Schamas-Esposel é cinesiologista, professora da Universidade de São Paulo (USP) e criadora do Programa LibertaDor

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