Doença cardiorrenal metabólica: uma ameaça em ascensão
Diabetes, obesidade e problemas cardiovasculares formam uma trinca perigosa para a saúde dos rins e do resto do corpo

Especialistas se reuniram no XX Congresso Brasileiro de Aterosclerose, realizado este mês na cidade de Campos do Jordão, para discutir um tema que é hoje um dos maiores problemas de saúde da população brasileira: a doença cardiorrenal metabólica (DCRM).
De definição recente, a DCRM reflete a interação entre fatores de risco metabólicos, doença renal crônica e o sistema cardiovascular, tendo impacto profundo na morbidade e mortalidade.
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Relação direta com diabetes tipo 2, DCV e obesidade
A DCRM é particularmente relevante devido à sua associação com doenças crônicas altamente prevalentes, como diabetes mellitus tipo 2 (DM2), doenças cardiovasculares (DCV) e doença renal crônica.
Além disso, tem como fator de risco o maior problema de saúde pública no Brasil: a obesidade. Quando somados, o excesso de peso e a obesidade atingem hoje mais de 70 milhões de adultos no país.
Estudos epidemiológicos indicam que a coexistência dessas condições resulta em um aumento exponencial na morbidade e mortalidade, principalmente devido a eventos cardiovasculares.
Avanços no tratamento
A sobreposição de fatores de risco metabólicos e cardiovasculares reforça a necessidade de uma abordagem integrada para o diagnóstico, tratamento e prevenção dessas doenças.
Nos últimos anos, tivemos notáveis avanços em intervenções farmacológicas que diminuem o dano da DCRM. Esses fármacos atuam favoravelmente nos fatores de risco metabólicos, na função renal e apresentam também efeitos cardioprotetores.
Entretanto, para que se possa melhorar a saúde cardiovascular-renal-metabólica e suas complicações, há uma necessidade crítica de maior clareza na definição da DMRC, além de uma abordagem para o estadiamento dessa condição, promovendo a prevenção ao longo da vida.
Obesidade infantil e sobrepeso: risco precoce
Um tema de grande relevância discutido no Congresso foi o das elevadas taxas de sobrepeso e obesidade na infância e adolescência que atingem os jovens brasileiros. Em uma pesquisa realizada no município de Campinas, avaliando mais de 3 mil alunos de escolas públicas, verificou-se que 32% das crianças já possuíam sobrepeso e obesidade.
Avaliando o perfil metabólico desses jovens, verificou-se que, além do excesso de peso, eles já apresentavam em média taxas maiores de anormalidades, como:
- Elevação da pressão arterial;
- Aumento nos valores de triglicérides;
- Elevação das taxas de glicemia.
Em outras palavras, essas crianças carregam um risco metabólico que se estenderá para a vida adulta, aumentando as chances de desenvolver diabetes, hipertensão arterial e, por fim, a DCRM.
Caminhos para prevenir a DCRM
Concluindo, o Congresso Brasileiro de Aterosclerose trouxe este debate para que especialistas proponham alternativas à comunidade científica com o objetivo de reduzir a carga da DCRM. Trata-se de um assunto interdisciplinar, em que as palavras-chave para sua prevenção são estilo de vida e dieta saudável.
É preciso que famílias, organizações não governamentais, sociedades científicas, profissionais de saúde e governo trabalhem juntos na prevenção da DCRM, que hoje consome a vida de milhares de brasileiros todos os anos.
Jose Francisco Kerr Saraiva é presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)