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Dentes tortos: uma epidemia silenciosa e perigosa

O desalinhamento dentário está longe de ser um problema apenas estético. Essa situação, que começa na infância, favorece doenças sérias – e não só na boca

Por Vivian Farfel, odontopediatra*
16 mar 2023, 09h10
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  • Você, como pai ou mãe, talvez já tenha feito uma poupança e se conformado com a ideia de que o aparelho ortodôntico entrará na vida de seu filho em algum momento, não é?

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    A culpa não é sua por pensar assim. Dentes tortos são tão comuns na sociedade que passamos a considerá-los normais!

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    A prevalência é assustadora, e revela uma epidemia silenciosa, literalmente bem abaixo do nosso nariz, que se inicia na infância e se perpetua na idade adulta.

    Mas, em que ponto se iniciou a derrocada? De acordo com análises recentes, mais de 80% da nossa população moderna tem ossos faciais bem diminuídos em comparação a grupos populacionais de tempos remotos.

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    Estudos arqueológicos também mostraram que os nossos genes modernos são exatamente iguais aos genes dos homens da Idade da Pedra.

    + Leia também: Quase metade da população tem um problema bucal

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    Curiosamente, todos os nossos ancestrais tinham dentes perfeitamente retos com arcadas grandes – e nunca usaram aparelhos.

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    Como explicar, então, a alta incidência de mal oclusão e deformidades faciais em nossa sociedade?

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    A resposta está naquilo que nos cerca, mais precisamente em modificações rápidas e dramáticas dos ambientes físicos e culturais que se iniciaram com a advento da agricultura e se intensificaram após a Revolução Industrial.

    O estilo de vida moderno e nossos dentes

    Nosso estilo de vida abrange uma dieta repleta de comida embalada e processada, açúcares refinados e alimentos básicos altamente adulterados, que estão muito longe de nossa dieta ancestral.

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    Passamos a viver em ambientes fechados, oferecemos menos tempo de amamentação aos bebês e introduzimos alimentos pastosos no desmame. Aliás, o desmame precoce cria hábitos anormais de língua e deglutição.

    + Leia também: Escovação noturna é a mais importante para evitar cáries na infância

    A dieta moderna, que requer menos mastigação, favorece a atrofia dos músculos da face.

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    O resultado é uma reação alérgica e inflamatória a esse padrão rico em produtos químicos, aditivos e excesso de açúcar, que, somada a uma vida dentro de casa, produz congestão nasal e respiração bucal em crianças. Assim, elas são obrigadas a adotar uma postura de boca aberta.

    O hábito de manter a boca aberta faz com que o rosto cresça verticalmente, criando faces mais estreitas e compridas, com os maxilares mais encolhidos.

    Entre outras características, isso culmina em dentes tortos. Somos vítimas de uma verdadeira corrupção ambiental da expressão genética do crescimento facial.

    Em resumo, nossos maxilares e dentes têm potencial para encarar um verdadeiro banquete como aqueles vistos em Os Flintstones, mas achamos mais conveniente declinar do convite e levar nosso próprio Big Mac.

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    Essas conveniências e escolhas podem levar a problemas muito piores.

    Infelizmente, dentes tortos são, na verdade, apenas a ponta do iceberg – logo abaixo vem maxilares encolhidos e a respiração pela boca.

    Juntos, esses fatores tendem a reduzir a qualidade de vida e tornar o indivíduo suscetível a doenças mais sérias, como apneia obstrutiva do sono, problemas cardiovasculares, TDAH, ansiedade, obesidade, diabetes e por aí vai.

    Ao longo dos últimos anos tornou-se claro e evidente que os ortodontistas estão focando na coisa errada. É que eles ainda miram no dente torto – e existem métodos cada vez mais avançados para o alinhamento.

    Mas alinhar os dentes nesse contexto que apresentei segue o mesmo raciocínio de arrumar as mesas simetricamente no deck do Titanic.

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    Infelizmente, o treinamento como ortodontista é baseado em resolver o problema dentário, e não promover a saúde infantil de forma global.

    Devemos olhar a criança como um todo, facilitando efetivamente a mudança de comportamento.

    É preciso, por exemplo, concentrar esforços nos seguintes aspectos:

    + Leia também: A nova geração de aparelhos para os dentes

    Caso seja necessário tratar os dentes, o ideal é procurar um profissional especializado em saúde, e não em doença.

    Ele precisa trabalhar com foco no equilíbrio facial adequado, na aparência facial agradável e na proteção e expansão das vias aéreas.

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    São fatores que contribuem para respiração ideal, padrões de sono restauradores e ótima saúde geral, além de produzir sorrisos amplos, que se estendem nos cantos da boca.

    Temos que adotar estratégias levando em conta que o desafio principal é criar crianças saudáveis, felizes e com dentes retos – mesmo contra todas as probabilidades do mundo de hoje.

    *Vivian Farfel é especialista em odontopediatria e também em ortodontia e ortopedia facial pela Faculdade de Odontologia da USP

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