Como as lideranças podem cuidar da saúde mental dos seus colaboradores
Executiva defende que empresas e gestores promovam o cuidado com o estado emocional dos funcionários — e sugere um caminho para isso ser feito
A saúde mental nunca esteve tão em alta. Após um ano marcado pela maior crise sanitária do século, vimos crescer consideravelmente a procura por soluções completas para suprir não só o cuidado com a saúde física, mas, principalmente, com a mental e a emocional.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no planeta. Estamos falando de 9,3% da população, o equivalente a mais de 18 milhões de brasileiros que convivem com a ansiedade.
Infelizmente, falar sobre saúde mental ainda é um tabu, especialmente no ambiente corporativo que, muitas vezes, é marcado por pressões, estresse, sobrecarga e insegurança. E o isolamento social, acompanhado das incertezas econômicas, trouxe diversos impactos negativos nesse sentido.
Uma pesquisa do International Stress Management Association (ISMA) revelou que nove em cada dez brasileiros no mercado de trabalho apresentaram sintomas de ansiedade e 47% deles tiveram sinais de depressão em algum nível. De acordo com Luciene Bandeira, cofundadora da Psicologia Viva, uma das principais parceiras do Gympass com foco em saúde mental, a procura pelo cuidado com a mente cresceu 1 750% após a pandemia se comparado com os primeiros meses de 2020.
Apesar do aumento expressivo, poucas são as empresas que, de fato, estão proporcionando soluções para que seus colaboradores consigam cuidar da saúde mental. Segundo pesquisa conduzida com exclusividade pela Propeller Insights para o Gympass no ano passado, 57,5% dos empregadores não oferecem nenhum benefício do tipo.
Tal descuido é responsável por gerar diversos problemas para as próprias empresas. De acordo com Rodrigo Roncaglio, cofundador do Guia da Alma, plataforma de terapias holísticas e também parceiro do Gympass, entre os principais agravantes estão a diminuição da capacidade de atenção e concentração, a sensação de inutilidade, a desmotivação, a diminuição do prazer e do ânimo para atividades cotidianas, a perda da capacidade de planejar o futuro e a redução do rendimento e a baixa produtividade.
Hoje, o contexto do home office é a oportunidade ideal para que líderes experimentem e adotem mudanças efetivas que trarão um impacto positivo e duradouro para todo o seu entorno. A seguir, trago três passos que todo líder deveria cumprir para conseguir demonstrar empatia e ajudar seus colaboradores a terem uma relação mais saudável consigo mesmo (física e mentalmente).
Identifique o problema e mantenha as portas abertas
Nem todo mundo consegue lidar tão bem com a pandemia e os desafios que ela traz consigo. Muitos perderam pessoas próximas; outros tiveram que aprender novas dinâmicas de trabalho que passaram a mesclar o profissional com a vida pessoal. Nesse contexto, é muito importante saber defender esse equilíbrio, ser um exemplo de autocuidado e eliminar qualquer tipo de estigma que faça com que seu colaborador não se sinta confortável de falar abertamente com você sobre estresse, frustrações, expectativas e ansiedades.
Segundo Luciene, para identificar alguma mudança emocional em você ou em um colega de trabalho, é preciso ficar atento a alguns sintomas, como excesso de preocupações; pensamentos frequentes sobre questões a serem resolvidas ou pendências que envolvam a vida pessoal ou profissional; dificuldades para assimilar informações e lidar com tudo à sua volta; incapacidade de se sentir à vontade ou fazer coisas que possam gerar bem-estar, bem como administrar as rotinas de trabalho, sono e alimentação.
Reaja e ponha em prática as soluções
Segundo especialistas do Wellness Orbit, mesmo pessoas que sofrem com problemas psicológicos e emocionais nem sempre colocam a saúde mental como prioridade. No ambiente corporativo, é papel das empresas proporcionar novas e convincentes propostas para um estilo de vida diferente. Seja você o precursor dessas mudanças.
Reforce a importância da atividade física, traga dados científicos, organize atividades em grupo e transforme ideias em hábitos, criando assim uma cultura interna de bem-estar que envolva todo o seu time.
Algumas sugestões do Guia da Alma são: proporcionar aulas de mindfulness e ioga para aliviar a ansiedade e o estresse, melhorar a concentração, a produtividade e o foco; trazer palestras sobre autoconhecimento e bem-estar, com dicas e exercícios práticos sobre como ter uma rotina saudável, pessoal e profissional; e promover sessões individuais de terapias holísticas e integrativas.
Reforce a importância dos esforços coletivos
Uma gestão fraca contribui para o surgimento dos principais sintomas do burnout no ambiente corporativo. Dados da Gallup mostram que as principais causas disso são: tratamento injusto no trabalho; incapacidade de administrar a carga de tarefas; comunicação pouco clara; falta de apoio e pressão indevida sobre prazos. Além do mais, a pandemia da Covid-19 trouxe consigo agravantes, como horas de trabalho pouco saudáveis, falta de interação social, liderança tóxica e controladora e novas demandas domésticas e familiares.
Todas as empresas com altos índices de burnout tem três aspectos em comum: colaboração excessiva, má administração do tempo e tendência a sobrecarregar os mais capazes. Por isso, elogie seus funcionários no dia a dia; empodere sua equipe; dê voz a cada pessoa; reconheça todos os esforços de forma clara, independente e genuína; e, por fim, procure ajuda de parceiros que saibam como auxiliar nessa jornada.
2020 foi o ano em que todos aprendemos que nossa saúde física e mental é o ingrediente mais importante para a estabilidade e o bem-estar no âmbito pessoal e profissional. 2021 será o ano em que passaremos da reação para a construção de uma estratégia de longo prazo que atenda à necessidade de resiliência física e emocional. Vamos juntos nessa?
* Priscila Siqueira é CEO Brasil do Gympass