A depressão (ou transtorno depressivo maior, para falar em uma linguagem médica) é hoje uma das doenças mais comuns e incapacitantes do mundo, senão a maior de todas. Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas no planeta tenham o problema. No Brasil, seriam 11,5 milhões, ou 5,7% da população, o que nos torna campeões latino-americanos nesse ranking.
Com o advento da pandemia e todo o pacote de estressores que a acompanha, estudos demonstram um aumento de até 90% na incidência de depressão e transtornos de ansiedade pelo mundo. É a chamada “quarta onda”, a epidemia de doenças mentais.
A depressão é um problema de saúde complexo, causado por uma combinação de fatores, entre eles um desequilíbrio químico no cérebro, e pode envolver entristecimento, apatia, perda de interesse ou prazer, fadiga, piora no sono… E, em casos mais graves, levar ao suicídio.
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O tratamento engloba, em geral, psicoterapia, hábitos saudáveis e medicamentos. O controle farmacológico da depressão é sempre um desafio e, até alguns anos atrás, a única forma de o médico escolher o remédio para cada paciente era o método de tentativa e erro. O risco de falha gira em até 50% a cada tentativa e, nessas circunstâncias, a doença pode se agravar e tende a se tornar crônica.
Daí o apoio que a farmacogenética vem dar à psiquiatria. A farmacogenética é a área que estuda como o DNA de cada pessoa interfere no comportamento dos medicamentos em seu organismo e explica o porquê das diferenças de resposta, dosagem e efeitos colaterais da mesma medicação em indivíduos distintos.
Em 2020, pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, publicaram o maior estudo farmacogenético do mundo até o momento. Com base em dados de 487 409 cidadãos do Reino Unido, eles demonstraram que 99,5% dos participantes carregavam pelo menos uma variante genética que poderia resultar em uma resposta farmacológica atípica.
Essas variantes são descobertas por um teste farmacogenético, que pode ser feito com uma coleta de saliva ou sangue. Ele não nos deixa mais reféns apenas do método de tentativa e erro e torna os tratamentos mais rápidos, seguros e eficazes. Diminuem os efeitos colaterais, os gastos financeiros para o paciente e o sistema de saúde e os custos sociais e emocionais para o indivíduo e seus familiares.
Em 2019, um estudo com 1 167 pacientes publicado pelo médico americano John Greden, da Universidade de Michigan, constatou taxas de melhora 50% superiores já na oitava semana nos indivíduos com depressão em tratamento guiado pelo teste farmacogenético – e, da oitava até a vigésima quarta semana, aumentos na taxa de melhora na ordem de 82%, conforme constatado em estudo subsequente por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia.
A boa notícia é que essa tecnologia não só está disponível por aqui como o Brasil é hoje um produtor de testes farmacogenéticos para transtornos mentais de altíssimo nível e robustez científica. Trabalhando em um laboratório pioneiro nesse tipo de exame, conheço de perto a luta dos pacientes em busca de tratamentos mais eficazes. A solução passa pela medicina de precisão – e esse futuro já chegou!
* Guido Boabaid May é psiquiatra, médico do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e sócio-fundador da GnTech