Cigarros eletrônicos são um perigo para a saúde bucal
Uso pode ser ainda mais problemático do que o de cigarros comuns. Especialista comenta os riscos para a região da boca e os dentes
Consumido principalmente entre os jovens, o cigarro eletrônico, além de ter sua venda proibida, é um perigo anunciado e traz mais malefícios à saúde quando comparado aos cigarros comuns. Para se ter ideia, alguns podem chegar a ter 90 mg de nicotina, o equivalente a 4,5 maços de cigarros tradicionais.
Todo tipo de cigarro é nocivo ao organismo, mas o que começamos a ver é que a versão eletrônica envolve desafios extras, tanto do ponto de vista da saúde física como mental.
Especula-se, por exemplo, que a absorção de nicotina e outros componentes aconteça de forma ainda mais rápida, já que ocorre na mucosa da boca.
À nicotina do cigarro convencional costuma ser adicionada amônia, permitindo ele seja mais “palatável”. Já no eletrônico, além da amônia, há a inserção de ácido benzoico. Tudo isso tende a aumentar a sensação de prazer do fumante e, consequentemente, causar maior dependência.
Nesse contexto, a nicotina não só chega mais rápido ao cérebro como se estimula a maior formação, entre os neurônios, de receptores nicotínicos. Chamamos isso de up regulation, um dos processos fisiológicos ligados ao vício.
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Como cirurgiã-dentista, meu papel de alertar sobre os riscos do vaper vai além. Isso porque o cigarro eletrônico também ameaça a saúde bucal.
Já existem indícios de que seu uso contribua para a periodontite e lesões que podem evoluir para um câncer. Acredita-se que, num futuro próximo, teremos mais ocorrências dessas doenças em função da popularização desses produtos.
Portanto, nós, dentistas, precisamos estar preparados para orientar e atender pacientes que fazem uso do cigarro eletrônico na rede pública e no consultório particular.
Apesar da existência de políticas públicas no Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), sabemos que o índice de jovens que fumam cigarros eletrônicos é preocupante.
O relatório do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) aponta que 1 em cada 5 brasileiros de 18 a 24 anos faz uso deles. O hábito é mais comum entre homens e tem, no Centro-Oeste, a região com o maior percentual de usuários.
Segundo uma revisão sistemática publicada no periódico Oral Surgery, Oral Medicine and Oral Radiology, que avaliou o perfil de usuários de cigarros eletrônicos no mundo, identificou-se que, entre as 1 238 392 de pessoas contempladas, mais de 132 mil usavam cigarro eletrônico (destes, 30,86% são homens, 26,26% são mulheres e 33,6% são fumantes ativos).
Os autores dizem que o cigarro eletrônico está associado a diversos problemas respiratórios e já se sabe que pode causar mutações no DNA de células humanas.
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Vale ressaltar que o cigarro eletrônico não faz mal somente a quem está fumando, mas aos fumantes passivos, aqueles que estão presentes no mesmo ambiente em que o usuário dos dispositivos eletrônicos. No longo prazo, os fumantes passivos podem desenvolver as mesmas doenças que os fumantes ativos.
É importante reforçar, ainda, que, para a saúde bucal, o uso de cigarros eletrônicos pode provocar perda dentária, câncer bucal, xerostomia e modificar a microbiota da boca. E isso de forma mais rápida do que o cigarro convencional.
Como profissionais de saúde e sociedade civil, precisamos ampliar a disseminação de informações sobre os malefícios desses produtos e cobrar a fiscalização desse mercado. Ele cresceu após a pandemia, e não podemos assistir a isso de braços cruzados.
* Sandra Silva Marques é cirurgiã-dentista e presidente da Comissão Temática de Políticas Públicas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp)