Câncer de pulmão segue liderando estatísticas, apesar de novos recursos
Exames sofisticados, medicina de precisão... Os avanços contra essa doença são inegáveis, mas esbarram no diagnóstico tardio e na falta de acesso
O mundo registra boas notícias quando falamos em novas soluções para câncer de pulmão, como a imunoterapia e a terapia-alvo. No entanto, há 37 anos esse é o câncer que mais mata no mundo. Além disso, cerca de 13% de todos os casos novos são dele.
No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, é o segundo mais comum em homens e mulheres – sem contar o câncer de pele não melanoma. Em 2020, foram 28 620 mortes, com uma taxa de sobrevida relativa em cinco anos de apenas 18%. Mas por que um cenário terapêutico tão promissor parece não repercutir nesses números desalentadores?
Vou abordar essa pergunta trazendo mais boas notícias: em parte, vimos grandes avanços nos exames diagnósticos. Um deles é a análise molecular por sequenciamento genético. Hoje já sabemos que o câncer de pulmão não é uma doença única, mas, sim, vários tipos de tumores diferentes definidos por alterações genéticas específicas, que influenciam o prognóstico e a resposta ao tratamento.
Alguns dos exames moleculares estão amplamente disponíveis e direcionam o uso de medicamentos totalmente dirigidos ao tipo de mutação (EGFR, ALK etc.). Hoje, é possível falarmos em adequação da terapia ao paciente, e não o contrário. Essas estratégias de tratamento foram inicialmente desenvolvidas para pacientes com tumores avançados e incuráveis, e mais recentemente vêm sendo utilizadas em estágios iniciais da doença, aumentando as chances de cura.
Porém, a detecção do câncer de pulmão ainda ocorre tardiamente: apenas 16% são diagnosticados em estágio inicial (câncer localizado), quando a possibilidade de sobrevida em cinco anos passa para 56%. Vale destacar que o câncer de pulmão pode ser silencioso – tanto fumantes quanto não fumantes costumam apresentar sintomas somente quando ele já está avançado.
Campanhas de conscientização são fundamentais para educar a população sobre a importância do reconhecimento dos sintomas. Mais importante, no entanto, são as abordagens de prevenção do câncer de pulmão por meio da eliminação do tabagismo e das estratégias de diagnóstico precoce a partir do rastreamento com tomografia computadorizada de tórax de baixa dose (TCBD) em pacientes de maior risco: fumantes e ex-fumantes, principalmente.
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Também é preciso discutir como tornar as inovações diagnósticas e terapêuticas acessíveis. Os benefícios relacionados à atuação das novas classes de medicamento são indiscutíveis. Esses tratamentos permitem não só ampliar o tempo de vida dos pacientes, mas proporcionar isso com qualidade, seja por meio de um comprimido oral em casa ou com terapias que impactem menos o bem-estar geral. Embora tenhamos de reconhecer que os sistemas de saúde privado e público estejam evoluindo na oferta dessas medicações, garantir o tratamento mais adequado para cada paciente deve ser uma preocupação constante para proporcionar o melhor cuidado possível.
*William William é diretor de Oncologia e Hematologia do Hospital BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, e professor associado adjunto do MD Anderson Cancer Center