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Câncer de ovário: desafios no diagnóstico e inovações no tratamento

No dia dedicado à doença, médica explica o que dificulta a detecção precoce do problema e os principais avanços em seu tratamento

Por Daniela de Freitas, oncologista*
8 Maio 2022, 17h30
ilustração de lupa sobre ovário e aparelho reprodutor feminino
No Brasil, 75% dos casos de câncer de ovário são diagnosticados em estágio avançado.  (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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O Dia Mundial de Conscientização do Câncer de Ovário foi instituído a partir de 2013 para aumentar a visibilidade sobre essa doença desafiadora, que ainda é cercada de tabus.

O câncer de ovário costuma ser silencioso e não há um exame específico de rastreamento que nos permita fazer a detecção precoce. Esses são fatores preocupantes, que ajudam a entender por que 75% das pacientes são diagnosticadas em estados avançados.

À medida que o tumor cresce, a mulher pode sentir pressão, dor ou inchaço no abdômen, na pelve, nas costas ou nas pernas, gases e mudanças na atividade intestinal (constipação ou diarreia) e cansaço constante. São manifestações que se confundem com outras condições, mas que exigem atenção e devem ser relatadas ao ginecologista ou médico de confiança nas consultas regulares.

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Até pouco tempo, a linha de tratamento do câncer de ovário restringia-se à cirurgia de retirada do tumor e à quimioterapia, prescritas em momentos diferentes e eventualmente de forma cíclica. Mas uma nova classe de medicamentos, os inibidores de PARP, vêm mostrando resultados positivos a pacientes com câncer em estágios mais avançados (classificadas nos estados III e IV) e àquelas com recorrência da doença que não responderam a outro tipo de tratamento.

O uso dos inibidores de PARP pode beneficiar mulheres com ou sem mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2, situação que aumenta o risco de desenvolver a doença. No entanto, sabemos que o benefício é ainda maior quando há presença dessa mutação genética.

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O gene BRCA ficou mais conhecido com a cirurgia da atriz americana Angelina Jolie. Ela descobriu a mutação e se submeteu a uma mastectomia preventiva. Esse tipo de alteração genética aumenta em 85% a chance de apresentar um câncer de mama.

No caso do câncer de ovário, cerca de 15% das pacientes apresentam mutação no BRCA. Estima-se que 44% daquelas que herdam a mutação BRCA1 e 17% das que possuem a mutação BRAC2 desenvolverão a doença até os 80 anos.

Atualmente, recomendamos que mulheres com alguns quadros do problema ou histórico familiar de câncer de mama ou ovário realizem o teste genético, sempre orientadas por um médico especialista. Para aquelas que confirmam a mutação do gene, é fundamental discutir estratégias de prevenção, como cirurgias redutoras de risco e a extração dos ovários.

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Os inibidores de PARP ampliaram o arsenal terapêutico contra a doença. Hoje temos dois deles aprovados pela Anvisa, o niraparibe e o olaparibe. O primeiro é um medicamento oral indicado a pacientes com câncer de ovário recém-diagnosticadas, ou nas quais a doença retornou, que fizeram quimioterapia à base de platina e tiveram resposta completa ou parcial a ela.

O tratamento tem eficácia e segurança respaldadas por dois importantes estudos clínicos publicados no periódico médico The New England Journal of Medicine. Segundo resultados do estudo denominado PRIMA, feito em mulheres recém-diagnosticadas, a medicação demonstrou redução de 38% no risco de progressão da doença ou morte nas pacientes em geral e redução de 60% entre aquelas com mutação no gene BRCA.

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Em outro estudo, batizado de NOVA e feito em pacientes com doença recorrente, houve a redução do risco de progressão ou morte de 73% nas mulheres com mutação no gene BRCA e de 55% naquelas sem essa mutação.

Apesar do avanço da ciência e da incorporação de tratamentos oncológicos transformadores, ainda existe um impasse quando falamos em acesso. Infelizmente, há uma barreira que retarda a utilização de medicamentos promissores em mulheres que poderiam ter grandes benefícios. E, com o câncer de ovário, não é diferente.

Informar-se, manter as consultas ginecológicas de rotina e, em caso de diagnóstico, estreitar contato com os médicos e as associações de pacientes são caminhos para que o problema não imponha seus custos à qualidade de vida.

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* Daniela de Freitas é oncologista do Hospital Sírio-Libanês (SP) e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp)

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