Biossimilares: uma grande virada pelo acesso a tratamentos mais modernos
Executivo traça panorama dos medicamentos biossimilares e avalia seu potencial para ampliar o acesso a tratamentos de qualidade aos brasileiros
Celebramos em 2021 os 15 anos da criação do primeiro medicamento biossimilar do mundo: a somatropina, molécula indicada para o tratamento de distúrbios do crescimento, que chegou ao mercado farmacêutico europeu em abril de 2006. Assemelhando-se à trajetória dos genéricos, o desenvolvimento dos biossimilares só foi possível com a queda das patentes dos remédios originais, chamados de biológicos ou biofármacos.
Por demandarem menor investimento em etapas de pesquisa e produção, os biossimilares permitem que o preço final para seu uso seja inferior ao dos originários. Ou seja, com a mesma eficácia e segurança, eles apresentam menor custo para os pacientes, sendo um verdadeiro ponto de virada na expansão do acesso ao tratamento médico de qualidade.
Para contextualizar o surgimento dos biossimilares, vale trazer um breve histórico dos biológicos. O primeiro deles a chegar ao mercado farmacêutico foi a insulina, no início da década de 1980, o que mudou a vida dos diabéticos. Atualmente, pacientes com diversas patologias podem se beneficiar dessa classe de tratamento, incluindo pessoas com doenças reumatológicas, inflamatórias intestinais, dermatológicas e alguns tipos de câncer.
Por ter o princípio ativo produzido a partir de organismos vivos, sua ação é mais direta, evitando que células saudáveis sejam afetadas durante o tratamento. Por exemplo, o paciente com câncer que faz uso de biofármacos sofre menos efeitos colaterais do que aquele que utiliza a terapia convencional.
Justamente pela alta eficácia e o grande investimento em pesquisa e desenvolvimento, os medicamentos biológicos são de alto custo, o que muitas vezes ainda inviabiliza seu uso para a maioria da população, mesmo que alguns desses remédios já sejam dispensados gratuitamente no sistema público de saúde.
Nesse cenário, os biossimilares surgem com o intuito principal de mudar a realidade, ampliando o número de pessoas tratadas de forma segura e efetiva, uma vez que são equivalentes aos fármacos de referência e ainda permitem a realocação dos recursos economizados por seu uso em outras terapias.
Trazendo a discussão para o âmbito numérico, segundo dados da Finep de 2018, os biológicos representam 60% dos gastos públicos com medicamentos e correspondem a 12% do volume em si. Na contramão, de acordo com levantamento da IQVIA Consulting Brasil em 2020, o biossimilar reduz o custo de um tratamento de 30 a 40%, o que significa uma economia de pelo menos 1,2 bilhão de reais para o sistema de saúde brasileiro.
A Europa é hoje o mercado mais avançado nesse sentido. Pesquisas revelaram que no ano seguinte à chegada dos biossimilares de imunomoduladores da classe dos anti-TNFs — prescritos contra diversas doenças —, o preço médio desses tratamentos caiu 13% e o volume de medicamento comercializado aumentou em quase 20%. Já nos Estados Unidos, a economia com biossimilares totalizou 2,2 bilhões de dólares em 2019 e 4,5 bilhões nos últimos dez anos. Tais experiências mostram que é possível tratar mais gastando menos.
Além de ser líder global na produção de medicamentos genéricos, a Sandoz é pioneira na produção de biossimilares e estamos juntos, nesses 15 anos, construindo a história da classe. Temos em nosso portfólio global oito moléculas aprovadas e distribuídas entre mais de 100 países e outras 15 em desenvolvimento. Anualmente, colaboramos com o tratamento de mais de 730 milhões de pacientes por dia pelo planeta.
Hoje enxergamos muito potencial para a expansão da produção de biossimilares no Brasil, onde, apesar de a tecnologia ser considerada recente, já temos cinco moléculas aprovadas e em uso. O país tem avançado a passos largos para o desenvolvimento de um parque industrial adaptado à biotecnologia e uma mostra atual de que estamos caminhando para isso foi a realização da parceria entre a Sandoz e o Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com a BioManguinhos, para transferência de tecnologia do rituximabe — medicamento indicado para doenças oncológicas e reumatológicas, que, desde junho de 2020, está disponível no SUS.
As PDPs visam ampliar o acesso a medicamentos e outros produtos considerados estratégicos para a rede pública, por meio do fortalecimento do complexo industrial brasileiro. Seu objetivo principal é financiar o desenvolvimento nacional para reduzir os altos custos de aquisição pelo governo.
Em um cenário no qual a produção local de biossimilares já esteja estabelecida, os sistemas de saúde público e privado poderão realocar o investimento em outras demandas, permitindo que cada vez mais pessoas tenham acesso a um tratamento de alto padrão por um baixo custo e trazendo sustentabilidade para o sistema como um todo.
* Marcelo Belapolsky é country head da Sandoz do Brasil