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Baixa cobertura vacinal contra o HPV: tragédia anunciada para o futuro

Vírus está associado ao surgimento do câncer de colo de útero. E a vacinação é o meio mais eficaz de prevenir a doença

Por José Geraldo Ribeiro, pediatra e epidemiologista*
Atualizado em 1 mar 2023, 14h21 - Publicado em 25 out 2022, 09h30
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  • Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados para 2022 mais de 16 mil casos de câncer do colo do útero no país. De acordo com a entidade, em 2020 ocorreram 6 627 óbitos de mulheres brasileiras pela doença, o que leva à ocorrência de cerca de 18 mortes por dia, uma morte a cada duas horas aproximadamente. Isso é extremamente chocante! Principalmente por tratar-se de mortes evitáveis, seja pelo programa de rastreamento com exames, seja pela vacinação.

    Sim, vacinação! O câncer de colo do útero é uma doença de origem infecciosa, causada pelo HPV, o papilomavírus humano. Em algumas pessoas, esse vírus provoca, ao longo do tempo, alterações celulares capazes de levar ao surgimento de um câncer. Para evitar que isso aconteça, podemos investigar a presença dessas alterações nas consultas ginecológicas. Ainda assim, novas lesões podem surgir com o passar dos anos.

    Daí a importância da vacina. Fora o câncer de colo de útero, alguns tipos de HPV podem levar a tumores na boca, na garganta, no pênis, na vulva, na vagina e no ânus. O vírus é transmitido em relações sexuais e sabemos que a vacina é o meio mais eficaz de prevenir a doença.

    O imunizante utilizado no Brasil, fruto de anos de estudo, é quadrivalente, ou seja, atua contra quatro tipos do vírus, e altamente eficiente na prevenção da infecção e, por consequência, das verrugas genitais e das lesões malignas que ela pode desencadear.

    Também é extremamente seguro, pois não contém o vírus vivo. Vários países iniciaram a vacinação em massa, de homens e mulheres, a partir dos 9 anos de idade, antes do início da vida sexual desse público e, claro, do risco de infecção.

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    + LEIA TAMBÉM: Por que as vacinas são a invenção que mais salvou vidas na história

    Aqui no Brasil, a vacina contra o HPV foi introduzida no Programa Nacional de Imunizações (PNI) inicialmente apenas para crianças e adolescentes mulheres. A primeira dose foi feita nas escolas, resultando em uma ótima cobertura vacinal, acima de 95%.

    Mas a segunda dose foi aplicada em unidades básicas de saúde, com uma queda na cobertura para cerca de 60%. Mesmo posteriormente sendo disponibilizada para o público masculino, a cobertura da vacina para ambos os gêneros vem patinando. Segundo o Ministério da Saúde, em 2019, a taxa de vacinação foi de 55% entre meninas e 36% entre meninos.

    Dados coletados em serviços privados mostram realidade semelhante, sobretudo se levarmos em consideração o período pós-pandemia. No Grupo Pardini, só entre janeiro e agosto de 2022, houve um aumento de 11% no volume de vacinas contra HPV aplicadas em relação ao mesmo período de 2021. Mas, quando olhamos os anos anteriores, vemos uma queda acentuada.

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    No primeiro ano de pandemia, em 2020, tivemos uma redução de 43% em relação a 2019. Embora tenhamos agora números ligeiramente melhores, ainda são preocupantes. Estamos longe de atingir o patamar antes da Covid-19, quando já estávamos bem abaixo da meta do Ministério da Saúde.

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    Nos serviços particulares, a vacinação está disponível para ambos os gêneros dos 9 aos 45 anos, muito além do sistema público, que a oferece até os 15 anos.

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    A situação apresentada hoje no Brasil é completamente absurda. Temos uma vacina segura e eficaz para evitar doenças graves, mas a adesão e a cobertura vacinal são insuficientes. Toda uma geração está sendo condenada a enfrentar problemas sérios como o câncer de colo de útero, levando dor e sofrimento a milhares de pessoas e famílias.

    É urgente que cada município brasileiro trace estratégias de incremento da cobertura vacinal. E que crianças e adolescentes, incentivadas por suas famílias, possam aderir a essas estratégias preventivas. Junto à ampliação de programas de rastreamento de lesões no útero em mulheres adultas, as principais vítimas do HPV, a imunização faz parte do roteiro para prevenir uma tragédia anunciada.

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    * José Geraldo Ribeiro é pediatra e epidemiologista do Grupo Pardini

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