Por muitas vezes, o termo “atrofia vaginal” foi incompreendido e mistificado. Por tabu, falta de diálogo entre paciente e médico ou, até mesmo, pelo desconhecimento da condição. Inclusive, recentemente, a expressão começou a cair em desuso e foi substituída por síndrome urogenital da menopausa, sob a justificativa da falta de entendimento por parte das mulheres.
Mas como explicar, de maneira didática e simplificada, o que é esse problema? Vamos começar pela causa da condição: a menopausa, que é um processo de envelhecimento natural do corpo e significa que os ovários pararam de produzir o principal hormônio feminino, o estrogênio.
A atrofia vaginal é uma das consequências do declínio desse hormônio, que é essencial para o ciclo reprodutivo – ele é produzido em paralelo ao desenvolvimento e à liberação de um óvulo todo mês – e também promove o espessamento do revestimento interno do útero para a recepção do óvulo fertilizado.
A média etária da menopausa se situa por volta dos 50 anos, mas podem ocorrer variações em torno disso. Todavia, os sintomas já podem começar antes da interrupção definitiva das menstruações – e os fogachos, aquelas ondas de calor, são as manifestações mais conhecidas.
A atrofia vaginal, por sua vez, é caracterizada por sensação de ardor ou prurido na região genital, dor na relação sexual e, eventualmente, aumento de infecções vaginais e urinárias. Como consequência, surgem desconfortos em atividades diárias simples, como andar e praticar exercícios físicos. Mas não é só isso: além das alterações fisiológicas, as mulheres afetadas também sofrem com mudanças na rotina e um impacto na qualidade de vida.
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O problema ainda é subdiagnosticado e um dado chama bastante atenção: aproximadamente 56% das mulheres na pós-menopausa apresentam sintomas da atrofia vaginal no Brasil. E mais de 90% delas gostariam de receber orientações do seu médico a respeito – o que só reforça a necessidade de falar do assunto.
A naturalização da menopausa como processo inevitável deve ser discutida e assumida, mas não se deve naturalizar os sintomas e os incômodos – infelizmente, muitas mulheres acabam achando que a atrofia vaginal faz parte do processo de envelhecimento e nem procuram uma solução. Esse é um pensamento equivocado, que só faz adiar a busca por orientação profissional.
Também é importante ressaltar que a síndrome urogenital da menopausa não está restrita às mulheres que estão entrando ou já estão na menopausa. É muito comum o aparecimento da condição, por exemplo, no período pós-parto. Do ponto de vista hormonal, a fase em que a mulher está amamentando, principalmente nos primeiros meses, é muito parecida com a menopausa, uma vez que há também uma diminuição da produção de estrogênio.
O diálogo entre paciente e médico faz a diferença e é mais que necessário. Relatar qualquer evento ou mudança sentida, de normal a anormal, ajuda no diagnóstico, que é feito por meio de avaliação clínica. Muitas mulheres não percebem que esse problema está relacionado à falta dos hormônios femininos e não o reportam ao ginecologista.
Por outro lado, percebemos que muitos profissionais não perguntam sobre os sintomas vaginais. Daí que precisamos sensibilizar também a classe médica. Médicos: façam perguntas. Mulheres: deem seus relatos. Precisamos disseminar o máximo de informações sobre o corpo feminino e conscientizar e estimular a busca por diagnóstico e tratamento.
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Isso porque, com o tratamento adequado, é possível ter ou restabelecer a qualidade de vida. A mulher na menopausa não volta a produzir estrogênio, mas é possível realizar um controle para o equilíbrio dos níveis hormonais e trazer de volta o conforto, a segurança e a liberdade que, pouco a pouco, os sintomas tiram.
Secura, queimação, coceira e dores nas relações sexuais são situações que podem ser amenizadas a partir da administração de hormônios de uso tópico, como cremes, óvulos vaginais e comprimidos vaginais – que agem na mucosa da vagina e melhoram as camadas celulares e a secreção fisiológica ali.
Os hidratantes vaginais, que são substâncias não hormonais, também podem colaborar com a hidratação da região. Hoje há possibilidades terapêuticas para quem pode usar hormônios e opções para quem não pode ou não deve usar hormônios também.
Para tirar proveito dessas soluções, é preciso se conhecer e conversar com o médico. Ora, esse problema não pode atrofiar a qualidade de vida das mulheres.
* Luciano de Melo Pompei é ginecologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC