O coração bate mais forte, a respiração acelera e surgem os sentimentos de apreensão e medo. Possivelmente você já experimentou esses sintomas em algum momento da vida. É normal e até necessário sentir algum grau de ansiedade. Ela tem um propósito de existir dentro de nós. Porém, é preciso ficar atento quando passa dos limites e se torna uma doença.
Já não somos mais vítimas de predadores como no tempo das cavernas, mas somos perseguidos hoje pela baixa autoestima, pela incerteza da saúde de nossos familiares e amigos, pelos receios com o emprego e a empresa. E essas preocupações provocam as mesmas respostas neurológicas e físicas do passado.
Tudo isso acontece dentro do sistema nervoso central, que regula a frequência cardíaca, a respiração, a micção e até a função sexual. É também o sistema que reage quando estamos sob ameaça, produzindo a resposta de lutar ou fugir, projetada para nos defender dos perigos. Quando ele entra em ação, podemos sentir manifestações tão diversas como dor de cabeça, náusea, falta de ar, tremores e mal-estar na barriga.
É possível conviver com sintomas leves de ansiedade, mas quando ela é forte o suficiente para interferir na vida cotidiana, o tratamento geralmente é a única maneira de controlá-la. Os principais sinais de que isso está acontecendo aparecem quando a pessoa começa a fugir das atividades da rotina porque está com um medo exagerado ou fica tão preocupada com algo que isso a paralisa. Na ansiedade enquanto doença, a pessoa vai sentir que os sintomas não vão passar com um “copo de água com açúcar”.
As opções de tratamento, feito o diagnóstico com um médico, incluem medicamentos, psicoterapia, mudanças de estilo de vida e a combinação de todos esses elementos. O acompanhamento profissional é essencial para domar a ansiedade e as condições que podem acompanhá-la, como a dependência de álcool ou drogas e a depressão. É importante pontuar aqui que frequentemente pessoas com transtorno de ansiedade apresentam sintomas depressivos e vice-versa.
Em algum momento, quase todo mundo passa por eventos estressantes na vida. Embora nem todos que enfrentam essas tensões desenvolvam um transtorno de humor – na realidade, a maioria não desenvolve –, o estresse desempenha um papel decisivo na depressão. É preciso saber diferenciar uma condição e sinais passageiros dos indícios da depressão em si. A doença é marcada por extrema tristeza, autodesvalorização, desesperança e pensamentos suicidas.
A ciência vem rastreando a origem das emoções até o cérebro para entender a depressão e já se sabe que certas áreas participam da regulação do humor. Os pesquisadores acreditam que, mais importante do que os níveis de substâncias químicas cerebrais alteradas, são mudanças nas conexões das células nervosas, seu crescimento e funcionamento que exercem maior impacto na doença.
Nesse contexto, devemos lembrar que, mesmo antes da pandemia de Covid-19, o Brasil já ocupava o primeiro lugar no ranking dos países com mais casos de ansiedade e o segundo em episódios de depressão. É necessário e urgente valorizarmos a saúde mental. Não se trata de “psiquiatrizar” ou “psicologizar” o cotidiano, mas de fazer diagnóstico e tratamento adequados.
* Antonio Geraldo da Silva é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Associação Psiquiátrica da América Latina