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Ácido hialurônico é realmente eficaz no tratamento da artrose?

Entenda o papel da substância no tratamento da doença que mais afeta as articulações.

Por Fábio Jennings, reumatologista*
8 jun 2025, 05h00
exercícios para artrose
Artrose pode atingir diversas articulações do corpo e comprometer a qualidade de vida (Foto: Bruno Marçal/Divulgação)
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A osteoartrite, conhecida popularmente como artrose, é uma doença crônica progressiva que degenera e inflama as articulações, promovendo dor e limitação da capacidade física em vários graus. No mundo inteiro, ela é a doença que mais afeta as articulações.

Segundo o Instituto para Métricas e Avaliação em Saúde (IHME), a artrite atinge pelo menos 15% da população com mais de 30 anos; em 2020, o número de pessoas com a patologia era de 595 milhões em escala global, praticamente a população dos Estados Unidos e do Brasil somadas. O estudo projeta um bilhão de pacientes de artrose em 2050.

A artrose é a causa principal de dor articular, perda de funcionalidade, redução de mobilidade e queda da qualidade de vida também em pessoas idosas. Dados revelam que a osteoartrite foi a sétima causa de incapacidade em pacientes com mais de 70 anos, sendo que o joelho é a articulação que mais sofre com essa doença.

O melhor tratamento para artrose

O tratamento que melhor funciona para a osteoartrite é baseado em intervenções não medicamentosas que englobam: exercícios físicos orientados, redução do peso corporal e a “educação” do paciente sobre a doença com objetivo de mudança do comportamento.

Essas terapias têm benefícios na melhora da dor e da capacidade funcional comprovados por inúmeros estudos científicos envolvendo milhares de pacientes ao redor do mundo. Contudo, os efeitos positivos ocorrem a médio e longo prazo e a adesão a um programa de exercícios e de perda de peso não é facilmente atingida.

Para alívio da dor de uma forma mais rápida, dispomos dos anti-inflamatórios comuns. Apesar da eficácia analgésica, são medicamentos que são desaconselhados para uso contínuo pelos efeitos adversos gástricos, renais e hepáticos.

Por outro lado, as terapias com suplementos que prometem proteger a cartilagem (os chamados “condroprotetores”), que são mais seguras para uso contínuo, não têm eficácia comprovada e não são recomendadas pelas sociedades médicas que tratam da osteoartrite. Entre esses medicamentos, estão a glucosamina, condroitina e os compostos de colágeno.

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+Leia também: Está com dor no joelho? Veja 6 possíveis causas

O papel do ácido hialurônico

Nesse contexto de carência de tratamentos mais efetivos e com ação mais rápida, surgiram as terapias com as infiltrações intra-articulares.

Mais tradicionalmente, as infiltrações são realizadas com corticosteróides, que são medicamentos anti-inflamatórios que reduzem a dor e o inchaço locais com efeitos a curto e médio prazos. No entanto, devem ser reservados aos casos mais sintomáticos e em número de vezes limitado por conta do efeito atrofiante desses remédios.

O ácido hialurônico (AH) é uma substância naturalmente presente nas articulações e que vem sendo amplamente utilizado para ser injetado nas juntas com osteoartrite. O AH é um componente do líquido sinovial, que é uma espécie de “lubrificante” das juntas, que serve, além de lubrificar, para absorver impacto e melhorar a flexibilidade dos movimentos.

Por essas propriedades, as infiltrações de ácido hialurônico nas articulações, especialmente dos joelhos, tornaram-se uma prática rotineira para a melhora da dor e da limitação causadas pela osteoartrite.

Também chamadas de viscossuplementação, elas têm por objetivo reduzir a dor, melhorar a função da articulação com osteoartrite e ainda trazem a promessa de conter a progressão da degeneração, uma vez que lubrificam e hidratam a cartilagem.

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Contudo, os estudos científicos mostram melhora somente a curto e médio prazo nos sintomas, não demonstrando efeitos protetivos estruturais a longo prazo.

Estudos mais recentes mostram que os efeitos do ácido hialurônico são modestos. Uma revisão atual de vários estudos (meta-análise) envolveu aproximadamente 9 mil participantes e revelou que a melhora da dor foi pequena e não alcançou o que os especialistas chamam de “diferença clinicamente significativa”.

Ou seja, a melhora foi estatística, mas a maioria dos pacientes não percebeu uma mudança real do sintoma. Em relação à capacidade funcional (como andar, subir escadas ou fazer atividades físicas), o benefício também foi muito discreto.

Apesar dos pequenos efeitos benéficos, pela escassez de alternativas, as infiltrações com AH continuam sendo utilizadas amplamente nos pacientes com osteoartrite de joelhos e também de quadril. Preparados com menor volume e composição diferente vem sendo desenvolvidos para uso em outras estruturas do aparelho locomotor, como os tendões em cotovelos e ombros.

Os preparados de ácido hialurônico são estéreis e praticamente inócuos, mas deve-se levar em conta a ocorrência de efeitos adversos como dor local intensa após a infiltração e até infecções intra-articulares. 

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Considerando as evidências científicas atuais, as sociedades médicas mundiais desaconselham ou recomendam o uso limitado das infiltrações com AH para artrose, reservando-se para os casos onde os benefícios superam os riscos de eventos adversos.

+Leia também: Sinovite: entenda a água no joelho e sua relação com a artrose

Outras terapias

Mais recentemente, têm surgido novas terapias consideradas “regenerativas”, uma vez que se utilizam de componentes biológicos e são extraídos do próprio indivíduo.

O plasma rico em plaquetas (PRP), as células da medula óssea e células-tronco são terapias promissoras, mas que ainda não demonstraram efetividade concreta por falta de estudos adequados com grande número de participantes.

Conclusão

Embora seja uma terapia que é indicada frequentemente para os pacientes com osteoartrite de joelho, as evidências científicas não justificam o amplo uso das infiltrações de AH.

Deve-se ressaltar que o tratamento da artrose ainda depende fundamentalmente das terapias não medicamentosas que envolvem as mudanças no estilo de vida e os exercícios físicos individualizados e, nos casos mais avançados, os procedimentos cirúrgicos.

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Novos tratamentos estão sendo desenvolvidos e estudados, mas por enquanto, a viscossuplementação com ácido hialurônico deve ser reservada para um perfil selecionado de casos.

*Fábio Jennings é médico reumatologista e membro da Sociedade Paulista de Reumatologia

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