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A nova medicina e sua relação com o paciente e a inteligência artificial

Especialista conta como a medicina 5Ps (preditiva, preventiva, proativa, personalizada e parceira) se ampara na tecnologia para cuidar da saúde das pessoas

Por Pedro Schestatsky, neurologista*
Atualizado em 11 mar 2021, 10h18 - Publicado em 10 mar 2021, 09h49
ilustração de computador com cérebro dentro
Uso inteligente dos dados do paciente permite criar modelo mais preventivo e efetivo de assistência à saúde.  (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Duas palavras estão mudando a forma como nos relacionamos com os médicos e eles se relacionam com os pacientes: inteligência artificial. Quando falamos sobre isso, vêm à cabeça os robôs dos filmes e aquelas máquinas que fazem absolutamente tudo sozinhas, certo? No entanto, a expressão significa nada menos do que o uso de um sistema de softwares que serve para prever e replicar o comportamento humano. Assim, a tecnologia pode se tornar o melhor amigo do homem quando o assunto é prevenção, longevidade e antecipação de diagnósticos.

Os principais pesquisadores definem o campo como “estudo e projeto de agentes inteligentes”, um sistema que percebe seu ambiente e toma atitudes que maximizam as chances de sucesso diante de objetivos definidos. Os relógios inteligentes são os melhores exemplos disso na rotina. Por meio deles conseguimos saber a quantidade de passos dados por dia, como andam os batimentos cardíacos e a pressão arterial, entre outros indicadores.

E é a interface dessa área com a saúde que examino em minha obra recém-lançada Medicina do Amanhã (clique para comprar). A medicina do amanhã é a medicina 5Ps, que tem a tecnologia e a inteligência artificial como pilar fundamental e consiste numa nova forma de cuidar do corpo e da mente.

Os 5Ps se referem a uma medicina preditiva, preventiva, proativa, personalizada e parceira. Vou me debruçar sobre cada um desses aspectos.

Medicina preditiva: por meio de uma revisão de dados clínicos e laboratoriais, o médico identifica e prediz males em potencial e engaja o paciente a ter certas atitudes efetivas. Esse foi o caso da atriz Angelina Jolie, que fez uma dupla mastectomia preventiva após descobrir ter uma alteração no gene BRCA1. Com histórico familiar, a atriz tinha 87% de chances de desenvolver um câncer de mama e 50% de ter um tumor no ovário. Desvendou esse risco com um mapa genético, que, há dez anos, custava milhões e hoje sai por cerca de mil dólares — o exame já é aplicado no SUS gratuitamente, mas apenas em pacientes diagnosticadas com a doença.

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Mas não precisamos ir tão longe para termos exemplos como esses. Em meu consultório, identifiquei uma mutação ligada ao coronavírus em quatro pacientes. Essa mutação pode atingir até 40 genes ligados à nossa defesa imunológica — o fenômeno está associado à suscetibilidade de contágio pelo vírus e a sintomas mais severos da infecção pelo Sars-CoV-2.

Caso o paciente esteja com a doença na fase inicial, é possível realizar a antecipação de um possível agravamento, ou seja, é a medicina atuando em um modelo que será cada vez mais vigente daqui para frente: preditivo e preventivo e não apenas reativo.

Medicina preventiva: em vez de só tratar, por que não buscamos evitar doenças crônicas, como diabetes e hipertensão? Elas são a principal causa de morte e perda de qualidade de vida na atualidade. Hoje já existem equipes médicas que atuam para prevenir e não remediar, caso do plano de saúde americano Kaiser Permanente. Ele bonifica médicos pelos pacientes que não têm de utilizar o hospital, e os pacientes que se cuidam têm mensalidades reduzidas, algo medido por dispositivos vestíveis fornecidos pelo plano.

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Medicina proativa: ela não espera o paciente ficar doente para atuar, mas procura tendências e fatores de risco (nem todos aparentes) com o intuito de prevenir e tratar precocemente enfermidades. E aqui o paciente é protagonista de sua própria saúde, já que, com a tecnologia de gadgets e aplicativos, pode medir dados de atividade física, sono, frequência cardíaca etc.

Medicina personalizada: considera pra valer as particularidades de cada indivíduo. Por isso, nada de prescrições gerais. Cada pessoa deve contar com dieta, exercícios e exames periódicos específicos, de acordo com suas informações pessoais.

A medicina personalizada tem apreço especial por um dos órgãos mais importantes para a saúde, o intestino. Ele aloja diversos tipos de bactéria, umas benéficas, outras patógenas, e essa comunidade, a microbiota, mantém íntima relação com nosso sistema imune. Uma das inovações da medicina mais promissoras é o mapeamento e a “troca” de micro-organismos intestinais: o transplante de microbiota.

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Quando falamos em transplantes, logo nos lembramos de procedimentos envolvendo órgãos (coração, pulmões, rins…) ou tecidos (córnea, medula óssea…). No entanto, ganha força na comunidade médica o transplante fecal, que já ajuda a salvar mais de 40 mil vidas por ano. Eu mesmo me submeti com sucesso a esse método, cujas repercussões englobam o corpo inteiro, inclusive o bem-estar mental — depois do cérebro, é no intestino que encontramos o maior número de neurônios.

Medicina parceira: o médico não é mais a única autoridade, até porque essa posição muitas vezes inibe o paciente de falar de seus problemas. Os dados gerados pelo especialista, com o apoio da tecnologia, vão fazer com que ambos aprendam e caminhem juntos rumo à criação e à manutenção da saúde.

Por isso defendo que o uso da tecnologia também deve estar presente dentro do consultório. Um bom exemplo é o Amazon Transcribe, um dispositivo que transcreve a consulta liberando o médico para conectar-se mais com o paciente. É a tecnologia humanizando a medicina.

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Vivemos uma verdadeira revolução na nossa área. Sem desmerecer a importância de Hipócrates, vamos combinar que muita coisa mudou nos últimos 25 séculos. Sai de cena o paradigma da “terceirização”, que ocorre quando a saúde do paciente fica na dependência de médicos, sistemas de saúde e indústria farmacêutica. E estreia a “era da autonomia do paciente”, que tem todo o direito de se informar e fazer, com a devida orientação e baseado em dados, as melhores escolhas.

* Pedro Schestatsky é neurologista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), empreendedor de novas tecnologias em medicina e autor de Medicina do Amanhã (Editora Gente)

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