A nova geração de fumantes
No Agosto Branco, especialista destaca os perigos da nova ofensiva da indústria do tabaco: os cigarros eletrônicos
O tabagismo é a principal causa para vários tipos de câncer, especialmente o de pulmão, que é o de maior incidência e maior mortalidade. Não fumar é uma das formas mais eficientes de prevenir a doença, fato conhecido pela população: 92% dos brasileiros acreditam que fumar aumenta o risco de câncer de pulmão e 78% sabem que o hábito de não fumar ajuda a prevenir câncer de pulmão e outros tipos, como de mama e pele.
Acontece que o cigarro não é a única forma de tabagismo. Além do narguilé, os jovens estão migrando para o cigarro eletrônico, também conhecido como vape, sob o discurso falacioso de que seria uma forma mais “saudável” de fumar. E essa adesão não é uma surpresa, visto a facilidade de acesso e a variedade de sabores e aromas que os dispositivos fornecem.
A adolescência é um período no qual se iniciam diferentes comportamentos que podem ser decisivos para a saúde na vida adulta. Nos Estados Unidos, o panorama é alarmante: de acordo com dados de 2021 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), um em cada cinco alunos do Ensino Médio dos Estados Unidos usa vape. O CDC ainda informa que 34% dos universitários e 11,3% dos alunos do ensino médio relataram ter experimentado um produto de tabaco.2 Essa tendência está criando uma nova geração viciada em nicotina, que prefere dispositivos eletrônicos.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos últimos dez anos, o número de usuários do vape disparou para mais de 40 milhões – grande parte desse público é composto por jovens. Embora a quantidade de fumantes no Brasil tenha diminuído de 15,7% em 2006 para pouco mais de 9% em 2021, o uso do dispositivo pelos mais jovens segue em crescimento.
O aumento é compreensível: os vapes possuem atrativos frente às formas mais tradicionais de tabagismo, como a fumaça de aroma diferente e a portabilidade. No caso dos jovens, é um equipamento fácil de esconder. Para quem não conhece, realmente parece um dispositivo eletrônico qualquer: daí o apelido de “pen-drive”. E, também, há as pessoas que tentam cessar o tabagismo com esses aparelhos. Mas há outros meios mais eficientes e menos prejudiciais.
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Foram décadas de estudo para compreender o impacto do cigarro e firmar a relação com câncer de pulmão. No entanto, cigarros eletrônicos e outros tipos de dispositivos ainda são relativamente novos, e mais pesquisas são necessárias por um longo período para saber quais os efeitos à saúde com o passar dos anos.
Realizar esse tipo de pesquisa é complicado pelo fato de que muitos dispositivos diferentes estão sendo vendidos, com diversidade ainda maior de produtos químicos a serem usados. Embora os possíveis efeitos a longo prazo dos cigarros eletrônicos ainda não sejam claros, em 2019 houve relatos de doenças pulmonares, além de sintomas como tosse, dificuldade para respirar, dor no peito, náuseas, vômitos, diarreia, fadiga, febre e perda de peso.
Mesmo sendo proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é possível comprar o cigarro eletrônico por diversos meios. O vape também está presente nas timelines de diversos influenciadores digitais.
No Agosto Branco, o Mês de Conscientização e Prevenção do Câncer de Pulmão, é importante deixar claro: não existem níveis seguros para o tabagismo. A melhor alternativa é não começar a fumar – ou parar quanto antes. Hoje, pode-se contar com uma variedade de tratamentos que ajudam a abandonar o tabagismo no Sistema Único de Saúde e na rede privada.
A detecção de câncer de pulmão nos estágios iniciais é vital porque, quando a doença se agrava e se espalha para outros órgãos, o tratamento se torna mais complexo. Manter o acompanhamento médico, especialmente de fumantes e ex-fumantes, é fundamental, porque o câncer de pulmão pode ser assintomático.
Os principais sinais de atenção são expectoração com sangue, tosse, rouquidão persistentes por mais de duas a três semanas, dor torácica, dispneia, perda de peso sem causa aparente e pneumonias de repetição. Nesses casos, é importante buscar atendimento médico imediatamente.
*Por Dr. Fernando Cotait Maluf, oncologista autor de artigos científicos e livros publicados no Brasil e no exterior, fundador do Instituto Vencer o Câncer e membro associado do American Cancer Society.
Referências
Pesquisa “Meu Futuro Saudável” realizada pelo Ipsos a pedido da Sanofi Specialty Care nas 5 regiões brasileiras entre 07/08/2021 e 11/08/2021. Foram realizadas 1.500 entrevistas entre Homens e mulheres, com 18 anos ou mais, pertencentes às classes ABC. Margem de erro de 2,5 pontos percentuais.
Gentzke AS, Wang TW, Cornelius M, et al. Tobacco Product Use and Associated Factors Among Middle and High School Students — National Youth Tobacco Survey, United States, 2021. MMWR Surveill Summ 2022;71(No. SS-5):1–29. DOI: https://dx.doi.org/10.15585/mmwr.ss7105a1