Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

A força criativa e psíquica de uma mulher trans numa sociedade intolerante

Psicanalista reflete sobre preconceito e violência de gênero em cima de um filme vencedor do Oscar

Por Mariana Abdel, psicanalista*
17 abr 2022, 10h33
mulher trans
Protagonista do filme chileno "Uma Mulher Fantástica". (Foto: Netflix/Divulgação)
Continua após publicidade

O filme Uma Mulher Fantástica, realização chilena que venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2017, gira em torno de Marina, uma mulher trans, garçonete e cantora, que presencia a morte súbita de seu namorado, 20 anos mais velho, causada por um aneurisma.

A história começa com uma bela cena em que a protagonista canta e Orlando, o namorado, a observa. Em seguida, eles comemoram seu aniversário em um restaurante. Entre conversas, risadas e beijos, fica nítido quanto se gostam e como estão felizes.

Mas, nessa mesma noite, Orlando passa mal. Marina, apreensiva, o leva até o hospital, mas ele não resiste. A partir desse momento, ela começa a enfrentar uma série de situações violentas por parte dos familiares de Orlando e até mesmo da Justiça.

Marina é perseguida por uma detetive que desconfia e insinua que ela teria agredido o namorado, uma vez que Orlando estava machucado em razão de uma queda da escada. Em determinado momento, a protagonista diz: “Não quero mais policiais, médicos, jalecos e uniformes, não quero nada.”

A personagem me tocou bastante por sua sensibilidade, força, inteligência e, principalmente, pela sua verdade. Há uma enorme dissonância entre Marina e as pessoas que a atacam.

Continua após a publicidade

+ LEIA TAMBÉM: Violência contra a mulher, um sofrimento silencioso

Uma passagem muito ilustrativa disso é sua luta pelo direito de se despedir do namorado. Todos tentam impedi-la, não informam o local do funeral e pedem que ela não vá “em respeito aos valores da família”. O irmão de Orlando, que se mostra, aparentemente, mais sensível à dor de Marina, chega a oferecer uma pequena parte das cinzas do falecido, o que soa como uma espécie de barganha para a mulher não ir ao velório.

Ela nega a oferta das cinzas (ou migalhas) e repete que seu único desejo é se despedir de quem amava. Em meio a tantos empecilhos, Marina consegue ir ao local, é hostilizada e depois perseguida pelo filho de Orlando e dois homens, que, na tentativa de conter sua força, a xingam e colocam durex em sua boca.

Apesar de tanto sofrimento, sua dor é transformada em ódio, e parece ser uma mola que a impulsiona a lutar com ainda mais vigor. Marina consegue entrar no crematório e finalmente se despede de Orlando. Seu luto agora tem lugar e é simbolizado por suas lágrimas.

Continua após a publicidade

Essa não é a única batalha de Marina. A protagonista luta pela cachorra que convivia com ela e Orlando e com a tentativa de tirarem tudo que lhe pertence. Expulsam-na da casa que dividia com o namorado, procuram incriminá-la e negar quem ela é, referindo-se à personagem com pronomes masculinos.

As pessoas ao redor se sentem incomodadas com “o que é” Marina e se julgam superioras por serem “normais”. Parece que a vida e a diversidade as ameaçam.

Compartilhe essa matéria via:
Continua após a publicidade

Diante de tamanha pobreza psíquica desses personagens, ficam ainda mais em evidência a capacidade criativa, a saúde e o engajamento de Marina. Ela luta pelo que lhe resta de vida e de afeto nessa trama, ou seja, sua cachorra e seus sentimentos.

Como ensinou o médico e psicanalista Donald Winnicott, “experimentar o viver criativo é sempre mais importante do que se sair bem”.

Uma Mulher Fantástica é uma reflexão que se passa nas telas e vem de outra cultura, mas tem muito a dizer aos brasileiros.

Continua após a publicidade

* Mariana Abdel é psicóloga e psicanalista, coautora do livro Mulheres no Cinema: Uma Análise do Feminino (organizado por Ana Carolina Nucci e publicado pela editora APMC) – Clique para comprar*

*A venda de produtos por meio desse link pode render algum tipo de remuneração à Editora Abril

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.